Revista Poetizando

23.9.06

REVISTA POETIZANDO nº. 22 (Edição de Primavera)

PRIMAVERA

Primavera bem queria
Bem verde, rosa amarela
violeta azul, carmim
no canto da minha boca

Palavras doces festivas
alegres, serenas e amigas
dálias, jasmins, girassóis
no vaso de meus abraços

Primavera bem queria
rodeada de meus sonhos
hortências, margaridas e lírios
num fascínio cor de anil

Bem-te-vis, sabiás, andorinhas
canarinhos e rolinhas
voando na minha vida
todos com o canto no bico

Primavera bem queria
que chegasse todo dia
e trouxesse a cada hora
o florir no meu caminho.

TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
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AUTORES DO MÊS:

SETEMBRO

MANUEL ANTÔNIO ÁLVARES DE AZEVEDO, escritor brasileiro,
nasceu em São Paulo/SP a 12 de setembro de 1831
e faleceu na mesma cidade a 25 de abril de 1852.
Conhecido como O Poeta da Dúvida ou Lacrimoso Perene.
Produzindo intensamente, sua obra usa como tema: o amor, a descrença,
o sofrimento, a morte, a insegurança e um certo anarquismo.
Suas influências literárias foram:
Byron, Heine, Musset, Espronceda e Garrett.
Algumas Obras: Lira dos Vinte Anos, Noite na Taverna, Macário.

TRISTEZA

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poente caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como um desterro de minha alma errante,
Onde fogo insensato a consumia...
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz – e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou na vida...

in: Lira dos Vinte Anos
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OUTUBRO

ALPHONSE MARIE LOUIS DE PRAT DE LAMARTINE, poeta francês,
nasceu em Mâcon a 21 de outubro de 1790
e faleceu em Paris a 28 de fevereiro de 1869.
Foi ministro dos Negócios Estrangeiros na França, mas a partir de 1851
retira-se da política para dedicar-se só a literatura.
Sua obra tem um romantismo melancólico, amoroso,
religioso, contendo ainda elementos clássicos e barrocos,
sendo precursora da poesia simbolista.
Em 1829 foi eleito para a Academia Francesa.
Faleceu esquecido pela França do Segundo Império,
mas deixando seus versos imortais.
Algumas Obras: Primeiras Meditações Poéticas (1820),
As Novas Meditações Poéticas (1823),
As Harmonias Poéticas e Religiosas (1830),
Paisagens durante uma Viagem ao Oriente (1833),
A Queda de um Anjo (1838), A História dos Girondinos (1847),
Rafael (1849), Confidências (1849).

O REGRESSO

Vale que ouvistes meus cantos,
Fonte que prantos turvaram,
Prado, colinas e bosques,
Avezinhas que cantaram!

Brisas estão perfumadas,
Veredas por onde eu ia,
Com ela no sombrio bosque,
Onde o hábito me guia!

Ah, como tudo mudara!
Hoje, em pranto sufocado,
Procuro em vão tais encantos,
Em vão procuro o passado!

Como hoje o céu era puro!
A terra também era bela!
Ah, já sei! O que eu amava
Não éreis vós, era ela!

Tradução: Vieira da Silva
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NOVEMBRO

MÁRIO PARANHOS VELOSO PEDERNEIRAS, poeta brasileiro,
nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 2 de novembro de 1867
e faleceu na mesma cidade em 8 de fevereiro de 1915.
Da segunda geração do movimento simbolista, sua poesia, simples
e versando sobre temas do cotidiano, reflete a influência de Cesário Verde
e Antônio Nobre. Foi um dos primeiros a introduzir o verso livre na poesia
brasileira. Algumas Obras: Agonia (1900), Rondas Noturnas (1901),
Histórias do Meu Casal (1906), Ao Léu do Sonho e a Mercê da Vida (1912),
Outono (1921, póstumo).

MEU CASAL

Fica distante da cidade e em frente
À remansosa paz de uma enseada,
Esta dos meus romântica morada,
Que olha de cheio para o Sol nascente.

Árvores dão-lhe a sombra, desejada
Pela calma feição de minha gente,
E ela toda se ajusta ao tom dolente
Das cantigas que o Mar lhe chora à entrada.

Lá dentro o teu olhar de calmos brilhos,
Todo meu bem e todo meu empenho,
E a sonora alegria de meus filhos.

Outros que tenham com mais luxo o lar,
Que a mim me basta, Flor, o que aqui tenho:
Árvores, filhos, teu amor e o mar.

in: Histórias do Meu Casal
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CANTIGA

Poesia cantada em qualquer ária e geralmente dividida em estrofes iguais.
Na sua forma tradicional é composta de quadras para cantar.
Um autor: Fagundes Varela

CANTIGA (Fragmento)

Viajante que deixaste
As ondas do Panamá,
Vela ao entrares no porto
Aonde o gigante está.

Ele dorme, dorme, dorme,
Mas nem sempre dormirá,
Basta um bafejo, um sussurro,
Que o gigante acordará.

Viste as montanhas e os vales
Daquelas terras de lá,
Talvez as veigas da Itália
E as rosas de Bagdá.

Mas uma plaga como esta
Nunca enxergaste quiçá,
Viajante que deixaste
As ondas do Panamá!

Contempla os índios valentes
Das florestas do Pará,
Escuta os sons das cascatas
E os cantos do sabiá.
(...)

FAGUNDES VARELA
in: Vozes da América
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MULHER

À ALMA DE MINHA MÃE

Partiu-se o fio branco e delicado
Dos sonhos de minh’alma desditosa...
E as contas do rosário assim quebrado
Caíram como folhas de uma rosa.

Debalde eu as procuro lacrimosa,
Estas doces relíquias do Passado,
Para guardá-las na urna perfumosa,
Do meu seio no cofre imaculado.

Aí! se eu ao menos uma só pudesse
D’estas contas achar que me fizesse
Lembrar um mundo de alegrias doidas...

Feliz seria... Mas minh’alma atenta
Em vão procura uma continha benta:
Quando partiste m’as levaste todas!

AUTA DE SOUSA

AUTA DE SOUSA, poetisa brasileira,
nasceu em Macaíba/RN em 12 de setembro de 1876
e faleceu em Natal/RN em 7 de fevereiro de 1901.
Foi considerada a poetisa mais ilustre do Rio Grande do Norte.
Em linguagem simples, publicou obras de profundo sentimento religioso,
aproximando-se do Simbolismo.
Obra: Horto (1900)
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POETAS PORTUGUESES

CÂNTICO DA NOITE (Fragmento)

Sumiu-se o sol esplêndido
Nas vagas rumorosas!
Em trevas o crepúsculo
Foi desfolhando as rosas!
Pela ampla terra alarga-se
Calada solidão!
Parece o mundo um túmulo
Sob estrelado manto!
Alabastrina lâmpada,
Lá sobe a lua! Entanto
Gemidos d’aves lúgubres
Soando a espaços vão!
Hora dos melancólicos,
Saudosos devaneios!
Hora que aos gostos íntimos
Abres os castos seios!
Infunde em nossos ânimos
Inspiração da fé!
(...)

ANTÔNIO FELICIANO DE CASTILHO

ANTÔNIO FELICIANO DE CASTILHO,
nasceu em Lisboa a 21 de janeiro de 1800 e lá faleceu a 18 de junho de 1875.
Apesar da falta de visão desde criança, desenvolveu intensa atividade
literária. Além da poesia, dedicou-se também à prosa.
Algumas Obras: Cartas de Eco a Narciso (1821), Primavera (1822).
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LENDAS INDÍGENAS

DEUSA MOEMA

Desde o fértil rio Itapirucú, até o profundo Mucurí, dominava a próspera
nação dos Paraguás, irmã dos Tupis e com os Tamarés comerciavam,
vivendo em paz e serenidade. Taparica, o invencível e grande chefe,
dominara certa vez, no alto da serra dos Maracás, em luta singular,
o terrível Jacaré Sagrado, que todos os meses danificava as plantações
e devorava, por ordem de Anhangá, deus dos infernos, um menino de 11 anos.
Tal vitória, grangeou-lhe a estima e simpatia de toda a nação.
Nesta tribo guerreira e cheia de heróis, nasceu Moema, filha de Taparica
e irmã de Paraguassú. A jovem índia cantava nas sacras solenidades,
enaltecendo os deuses. Ela era muito linda e muito amada por Tambatajá,
deus do amor. Sob sua divina proteção cresceu a donzela em grande solidão
na famosa oca paterna. Certa noite, exatamente quando os inevitáveis
sonhos dirigem-se aos mortais, sob as ordens de Vapuaçú, sonhou a bela
jovem que, uma grande igara (navio) de bravos guerreiros, veio para ela
e um altaneiro crebam (homem branco) lhe estendeu seus valentes braços.
Depois, quando ela se apaixonou pelo estrangeiro, a igara desapareceu
no distante horizonte. Veio, por fim, a madrugada, desaparecendo os últimos
vestígios do espírito dos sonhos, a jovem levantou-se. Em seguida,
chega um cortejo de alegres jovens, que vinham ajudá-la nas sacras danças,
nos alegres cantos e nas suaves caminhadas. Chegavam, com a finalidade
de convidá-la para um passeio ao grande porto dos deuses,
que ficava próximo da tribo entre uma abundante floresta e o suave bramir
do verde oceano. Todas as indiazinhas, estavam vestidas de brancos pelos
e penas muitcoloridas, trajando em suas frontes, adornos preciosos.
Moema vestia também, um inigualável tecido de lontra, com lindos enfeites
de ouro, cheios de diamantes. Tão linda veste, fora trabalho de Caupé,
a deusa da beleza e formosura que dera como dádiva a sua mãe.
Assim trajada, seguiram para o local já determinado. O grupo de donzelas
espalhou-se muito feliz e cada uma procurava uma flor que desejava.
Apiá colheu a formosa dália listrada. Taci, o suave girassol, Joamá preferiu
a violeta pelo seu meigo perfume, Iné colheu o incomparável amor-perfeito,
Icí apanhou a delicada margarida, Peró escolheu o elegante cravo e assim
corriam e brincavam sem preocupações. Porém Moema, sobressaindo-se
entre as outras, trazia nas mãos, um soberbo ramo de brancas rosas.
Cansadas da correria, deitaram-se na verde relva e se passaram a entoar
lindos cânticos em honra a Tambarajá e as Parés (deusas da fé),
deusas que percorrem as praias, as selvas, as campinas e as tabas,
alentando a fé, a esperança e caridade. Tudo corria muito bem quando,
em dado momento, surge no risco do horizonte, uma igara muito grande,
que vinha em direção as moças. Amedrontadas, foram chamar
os valentes guerreiros da tribo. Todos se conduziram para junto do mar,
porém, o Boto e os Angás cheios de ira, chamaram Xandoré, deus do mal,
e juntos lançaram uma forte tempestade sobre a grande igara e,
quando esta afundava e estavam morrendo todos os crebans, Tolori,
deus da tempestade, compadecido, salvou o mais jovem de todos,
com o auxílio das Jurúas, deusas das nuvens, das tardes e das festas.
Assim, veio dar à praia, o guerreiro branco. Moema e suas companheiras,
contemplavam surpresas o belo jovem e tão logo ele recobrou
a consciência, lançou mão de sua arma e atirando com firmeza, matou
um forte açor que passava naquele momento. De todos os lábios
saiu uma só exclamação:
-"Caramuru!"
Pensaram que ele era o próprio deus do fogo, metamorfoseado em homem.
E assim, conseguiu impor-se aquele jovem branco a toda a tribo
dos Paragás. Então, o grande chefe Taparica, tocou três vezes o forte
maracá e Moema voltou-se com as donzelas para servirem o sacro hóspede
e os valentes guerreiros que vieram para protegê-las. O guerreiro branco
torna-se filho de uma nação destemida! Certa tarde, quando Caramurú
passeava pela praia, Guaraci (deus Sol) resplandecia nas alturas sem nuvens
e, olhando, viu creban ao longe e um pouco mais a frente,
sentada na relva macia, estava Moema. Então Tambatajá tocou o coração
do jovem e ele se apaixonou pela donzela. Parê, a deusa da esperança,
também envolveu os jovens e Moema passa a amar o guerreiro branco
loucamente. Jurou terminantemente, Piracurú, deus da maldade,
que a bela índia não seria feliz e fez entrar no coração do jovem,
uma profunda saudade de seu país. Um dia surgiu, no grande porto
uma forte e soberba igara. Dois guerreiros brancos saltaram em terra
e depois de longa conversa com Caramurú, ficou resolvido que ele
retornaria a sua pátria. Lamentos sem conta nasceram do peito
e a dor da separação e uma repentina tristeza, tomaram conta de Moema.
Finalmente o dia da partida chegou. Polo fez soprar um vento leve
e favorável, Juruá, cobriu um pouco os quentes raios de Guaraci e a igara
começou a mover-se. As límpidas vagas marulharam ao forte golpe
dos remos e a embarcação de velas brancas, zarpou para o alto mar.
Mal podia Pirarucú contar o grande e cruel contentamento impiedoso,
por ver que seu plano sinistro, tinha se concretizado.
Entre amargas lágrimas, Moema percebeu que não mais poderia viver
sem o guerreiro branco e atirando-se na água, tentou alcançar a igara
que fugia para longínquo porto. Por muito tempo a linda jovem nadou
e quando suas forças lhe faltaram por completo, Abeguar, deus dos ventos,
suplicou as poderosas Parajás que a salvassem, mas o destino da jovem
índia era aquele e as águas sem piedade, tragaram o seu belo corpo.
Sumá, compadecida, pediu a Tupã e pelo consentimento do Senhor
dos Imortais e o mar, sob as ordens do Boto, devolveu o corpo da meiga
jovem às praias de sua bela pátria. Assim, extinguiu-se a formosa filha
da próspera nação e por muitos anos, as virgens, suas companheiras,
em grande pranto, lamentaram a morte da encantadora Moema.
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ORIENTE

KOAN

É uma frase ou parábola oferecida a cada discípulo para ajudá-lo a meditar.
A frase deve ser repetida constantemente. É uma afirmação contraditória,
paradoxal, através da qual o mestre procura despertar o discípulo para a
verdade Zen – que por essência desafia a apreensão lógica.
Existem mais de 1.700 koans.

CERTO E ERRADO

Quando Bankei realizava seus retiros semanais de meditação, discípulos
de muitas partes do Japão vinham participar. Durante um destes Sesshins
um discípulo foi pego roubando. O caso foi reportado a Bankei com
a solicitação para que o culpado fosse expulso. Bankei ignorou o caso.
Mais tarde o discípulo foi surpreendido na mesma falta, e novamente
Bankei desdenhou o acontecimento. Isto aborreceu os outros pupilos,
que enviaram uma petição pedindo a dispensa do ladrão, e declarando que
se tal não fosse feito eles todos iriam deixar o retiro. Quando Bankei
leu a petição ele reuniu todos diante de si.
"Vocês são sábios," ele disse aos discípulos. "Vocês sabem o que é certo
e o que é errado. Vocês podem ir para qualquer outro lugar para estudar
e praticar, mas este pobre irmão não percebe nem mesmo o que significa
o certo e o errado. Quem irá ensiná-lo se eu não o fizer?
Eu vou mantê-lo aqui mesmo se o resto de vocês partirem."
Uma torrente de lágrimas foram derramadas pelo monge que roubara.
Todo seu desejo de roubar tinha se esvaecido.
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NOVOS

DILEMA

Dos meus caminhos alcancei o cume,
sem que o roteiro apresentasse um nexo,
e atroz dilema esta ascensão resume
: sou corpo ou alma em meu viver perplexo?

Meus olhos turvos têm o mau costume
de olhar meu rosto no cristal convexo,
como à procura de um perdido lume
por entre as sombras do seu vil reflexo.

Tempo voraz, que na subida ao pico
vais recolhendo em tua mão crispada
as horas que aos relógios sacrifico...

Onde tem fim teu ritmo galopante?
No caos que os homens reconduz ao nada?
Ou no áureo sol de algum confim distante?

SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
in: Caverna dos Signos
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OS SONHOS

No dia seguinte
ao acordar,
a maioria
dos sonhos
não dá
pra rebobinar.

JOSÉ RONALDO VIEGA ALVES
Sant’ Ana do Livramento/RS
in: Vitrais
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O HOMEM TEIMA EM ETERNIDADE

Pontas de cinzéis sonham superar a morte
Esperança se esculpe na superfície da pedra
Desenham o alto desejo sobre a rocha dura
no fundo tão frágil quanto do papel a tessitura
Pensamentos se elevam das nervuras da pele
vão lançando criaturas de antimatéria no ar
A escultura espelha do ser a perene tentativa
de obter plena vitória sobre a mentira do nada

RICARDO ALFAYA
Rio de Janeiro/RJ
in: Rios (Coletânea de Poemas)
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SONETO CRIMINOLÓGICO

O estado nos enquadra, ato por ato,
delitos por ação ou omissão:
A prevaricação, a concussão,
a usura, o estelionato, o peculato.

O estupro, o vilipêndio, o assassinato,
o plágio, o latrocínio, a opinião,
injúria, perversão, difamação,
paródia, irreverência, desacato...

Se o cidadão comum é patrulhado,
calcule-se um poeta, o que padece,
cercado de censor por todo lado!

Mais rezo, mais fantasma me aparece!
Se o cara além de cego, for viado,
poema é mea-culpa, não é prece...

GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
in: Paulisséia Ilhada – Sonetos Tópicos
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não sei de mim
oblíquo estorvo
mas meu sonho errante
me perdeu
neste meu lado de fora
no prelúdio das palavras
sonho e saudade
às margens da vida
entre as grades das palavras
as palavras – selo

nos teus olhos
é apenas paisagem
acesa na janela da sala
testemunha de luas e sóis
do vento
nas entrelinhas brancas dos poemas

NIKA FERREIRA
Santos/SP
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AFORISMOS DE BOLSO III

* Só os humanos são desumanos.
* Há políticos que se queixam da perseguição da imprensa.
Bem pior se fosse da polícia.
* Os contos de fadas para adultos chamam-se democracia.
* Crítica Literária: é o ofício de emitir opiniões erradas com método.
* O provador de vinhos é um alcoólatra profissional.
* Egoísta: sujeito que se casa com uma mulher para ficar sozinho.

CLÁUDIO FELDMAN
Santo André/SP
in: Armazém De Inânias
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VAZIO

noite que se arrasta,
a vida aprisionada
no ponteiro das horas
e a poesia passando lá fora
sem bater na minha porta

ADEMIR ANTONIO BACCA
Bento Gonçalves/RS
in: Plano de Vôo
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De repente um susto enorme,
um desgosto,
como se o meu centro caísse
em um fosso.

P. J. RIBEIRO
Cataguases/MG
in: Água Solitária
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retesar os seios
cheiro de cio
primeiro q abriu

DINOVALDO GILIOLI
Florianópolis/SC
in: Vagar Poético - Coletânea
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SABOR

O pão com manteiga
da tia Carlota,
naquela casa
cheia de risos,
plantas e cães.
O pão sempre crocante,
a manteiga fresca
e aquele sabor único
dos tempos da infância,
tão bom como brincar...

MADÔ MARTINS
Santos/SP
in: Doce Destino
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INVASÃO

Estou
à deriva
o equilíbrio
é galáxia
distante.

As emoções
são naves
sobrevoando
o solo em erosão.

Discos
mantimentos
meninos
se agrupam na tarde
e poderia ser verão
contudo
vivências varam
as paredes
da razão
e deságuam
mágoas
represadas
faz tanto tempo.

Porém
noutra margem
um barco me recolhe
sem perguntas
e enlaça meu corpo
cansado.

RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: A Travessia dos Espelhos
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as teias tentam
como flores
no cimento

tecem no ar
o fino tear
tremem ao vento
quase invisíveis
vertem uma luz de alento

GREGORIO NUCCI
São Paulo/SP
in: Palavras Tortas
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SEGREDO

O verdadeiro poema
está escrito
na espessura desta folha.

FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
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CATEDRAIS

O mundo me olha como imagem
está em mim, existe, mas não é.
Tudo é dois
e cego em si
ritual minimalista
equivocado de ser
fileira consecutiva de pontos
de um risco qualquer
que se ergue em planos
e se arremete em góticos vazios
nas catedrais da existência.

LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Eminércia
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MODERNIDADES

Neste mundo moderno,
absurdo,
a secretária eletrônica
fugiu
com meu criado-mudo.

SERGIO ANTUNES
São Paulo/SP
in: Relógio da Sala
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ESBOÇO A LÁPIS I

esquecido na calçada
numa poça
de água
ou de sangue
na casualidade
que não creio meu olhar
desaprende ilusões
e destinos

: não existem
flores às margens secas
é só mais
um caminho
esse destino , apenas isso,
não mais que isso:
silêncio oco solto sem corpo,
orgasmo incompleto de delírio

estranho esse traje que nos veste a vida
deixa-nos nus,
deixa-nos indiferentes...

ERNANI FRAGA
Santos/SP
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ESTRELA CADENTE

Estrela cadente
perdida no espaço
deixando um rastro
de amor
que se foi.
No pedido que fiz
há anos atrás
hoje que o
tempo passou,
estrela cadente,
procure meu amor,
neste infinito
firmamento,
para aliviar
minha dor.

MARIO AZEVEDO ALEXANDRE
São Vicente/SP
in: O Renascer de um Sonho
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no meu peito
jaz um pássaro
de pedra

que me revoa
in memoriam
aquela antiga paisagem
de gansos em revoada
e seu espírito
e seu perfume verde
e seu corpo
fica como uma estampa
por cima de uma louça branca
guardada no armário
quase esquecida

apenas objeto
com seu silêncio
e sua inconsciência

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Aurora Gris
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UM POETA NA RUA

Estes versos unidos não formam um poema
e sim, uma reflexão, um pensamento.


Um poeta atravessou a rua e não foi notado!
Por que um poeta atravessou a rua e não foi notado?
Talvez existam muitos poetas, muitas ruas,
ou então, nenhum poeta, nenhuma rua.
Só sei que um poeta atravessou a rua!

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Um Poeta na Rua
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Dois anteparos
Voluntários
Turgidos de desejos
Anseios

São teus seios

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
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E então a estátua virou gente,
Toda de sal e amargura,
E nunca mais olhou pra frente.

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
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TECELÃO DA NOITE

De mágoas e de bem-querer
tece o poeta sua esteira
na funda noite do tempo.
Nem bem sabe o que procura:
areia, água, sentimento?...

que o vento espalha
e os fragmentos depositados
na teia, onde se enreda o poeta.

Enxuga as lágrimas, pastor!
Teu rebanho é de estrelas
e no entrelaçar de fios
tece vida
tece sonhos...

REGINA ALONSO
Santos/SP
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O SORRISO DA MONA LISA

Puxa vida, o Leonardo é um "pão"! Será que ele não percebe que me
amarro nele? Parece que ele só tem olhos para seus projetos, a mim,
nem nota, só me manda mudar a posição. Mas pode deixar, qualquer
dia vou surpreendê-lo! Correm alguns boatos que o negócio dele não é
mulher, mas sim jovens aprendizes... Enfim não me custa nada tentar.
O máximo que pode acontecer é Leonardo descobrir que as jovens
mulheres também sabem fazer umas gracinhas...

JAYME KAHAN
Praia Grande/SP
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NAVIOS

Estou aqui para olhar os navios
Eles vêm do mar aberto
São fortes e majestosos
E são de todas as cores.
Vivem sempre no mar,
Quando chegam, abraçam o porto
E enchem meus olhos de brilho.
Por isso eu estou aqui,
Deliciado, olhando os navios
Que chegam e voltam ao mar alto
Deixando meus olhos vazios.

MAURILIO TADEU DE CAMPOS
Santos/SP
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ESCREVER DE AMOR

Prá escrever de amor...

tem papel, lápis, caneta,
giz, tinta, pincel,

fax, nuvem, spray,
faca, sangue, carvão,

bytes, graveto, estilete,
lágrima, dedo, vapor.

Tem?
Escreve.
Não tem?
Escreve amor.

S. CAMPOS
Santos/SP
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OS EDITORES:

Eunice Mendes: Nasceu em Santos/SP, no dia 14 de setembro de 1960,
filha de Jeanette Rodrigues Ferreira e Lourival Ferreira.
Formada em Jornalismo, tem trabalhos nas áreas de Fotografia,
Artes Plásticas e Artesanato de Reciclagem.
Edita, com Walmor Colmenero, a revista artesanal de divulgação literária
POETIZANDO, desde 2001. Edita também a folha poética A POETISA
e o fanzine ÁRVORE AZUL.
Tem poemas publicados em jornais, revistas, fanzines, blogues
e no site:
www.gargantadaserpente.com
Integra o grupo poético ARTESANIA.
Livros: Flores e Frutos (2002), Sino dos Ventos (2002), Lua na Janela (2002),
Sonhares (2003), Cerimônia das Flores (2003), Aurora Gris (2003),
Nuvens de Sol (2003), Espaços do Vazio (2003), todos de poesia.

POEMAS

espero-te acesa
com um morango
entre os dentes
e
derramo-te
pequenas sementes
dentro do meu beijo
na dança das línguas
lânguidas serpentes
límpidas e inocentes
até que o fruto vermelho
irrompa o néctar docemente
beijando a flor
dos teus desejos
acesos
_____

na fartura da tua boca
minha alegria saciada
encontra
o paraíso da tua carne
ave liberta
e dissecada
deserta-me nos teus olhos
cobertos de sol

ampla como tuas mãos
minha alma
me entrega-te
sob a seda da tua língua
úmida lâmina

arma branca
que te crava em mim.
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minhas lágrimas
tornaram-se esse abismo
nos meus olhos.
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sou sempre eu
sou eu que amo
que chamo
que governo.
e agora, meu Deus,
que não sou eu?
o que faço?
caio desfalecida
nesses braços
que me dizem
serem meus?...
meu sonho
e meu regaço.

desfaço-me?...

(in: Flores e Frutos)
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Walmor Dario Santos Colmenero: Nasceu em Santos/SP, no dia 25 de julho de 1963,
filho de Zuleika Santos Colmenero e Manoel Colmenero.
Edita, com Eunice Mendes, a revista artesanal de divulgação literária POETIZANDO,
desde 2001. Edita também a folha poética O POETA e o fanzine ESCRITOS,
ambos literários. Tem poemas publicados em fanzines, revistas, blogues e no site: www.gargantadaserpente.com
Premiado em vários concursos nacionais, em 2004 foi um dos finalistas da fase
regional do Mapa Cultural Paulista.
Edita o blog: www.revistapoetizando.blogspot.com
Integrante do grupo poético ARTESANIA.
Livros: Um Poeta na Rua (1990), Memórias (2002), Tributo Vivo (2003),
Um Poeta na Itália (2005), Um Poeta na Espanha (2006), Poemas Bluseiros (2006),
Bagagens de Ontens (2006), Lá Fora Adentro (2006).

POEMAS

GAIVOTA
para Eunice

As aves migram.
Eu migrei.
Atravessei pontes,
atravessei ilhas,
fui tantas mães,
fui tantas filhas
e perdi o rumo.
Eu sou deserto,
sólido, árido, seco,
lúcido, etéreo, morno.
Caminhos trilhados sem desejos
poucos amores,
poucos beijos
e a pressão no coração.
Eu migrei.
Fui pó e estradas,
fui tudo e tantos nadas
restos de réstias de sol.
Mas mesmo assim eu sigo
vou ali, do outro lado,
procurando meu farol.
_________________

PARA AQUELE OUTRO POETA
A Silvio Campos

Palavras...
O que são palavras,
senão mensagens que o coração dita
e a gente diz.
E a gente comete
e retoma o fio condutor da vida.
Viver não basta!
O importante é saber viver!
Retirar da vida o gosto acre-doce do silêncio
ou de vozes tumultuadas que se perpetuam em mentes e bocas.
Se minha tez é coberta de escárnio,
a sua é coberta de desejo
do visionário,
do vislumbrante,
do vislumbre da aurora boreal que vive e morre,
na porta de sua boca incansável.
Falar já não basta!
O importante é saber falar!
E ter ouvido para ouvir.

in: Bagagens de Ontens
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