Revista Poetizando

3.12.06

PARABÉNS PARA NÓS!!!

Sim, parabéns para todos nós que neste dezembro de 2006
comemoramos o aniversário de 5 anos da POETIZANDO.
(o tempo voa!... e nos dá asas!...)
Parabéns para nós que sustentamos utopias,
afora realidades; que nos contentamos com sonhos e almas
bem alimentadas. Parabéns para todos que aqui estamos
remando contra a corrente da "anti-cultura" neste país de
abismos; contra os espíritos medíocres que imaginam não
haver lugar debaixo do sol para que todos sejam bem sucedidos.
Espaço e tempo para todos!
Parabéns a nós que não temos vergonha de sermos chamados
marginais, independentes, underground ou seja lá o nome
que nos dêem ou deixem de dar, porque, em verdade,
nada será mais do que um novo rótulo.
Importa o que somos.
Importa o que sonhos.
Parabéns infinitamente a todos que colaboram conosco
que não tem a mínima pretensão de nada que não seja
o alcance de muita paz e poesia pra nós e pra todo mundo.
Como bem disse um poeta maldito
"é impossível ser feliz sozinho".
Que a poesia nos liberte!

EUNICE MENDES
WALMOR COLMENERO
dezembro/2006

REVISTA POETIZANDO Nº. 23 (Edição de Verão)

HAICAIS

A criança às costas
Brincando com meu cabelo –
Que calor!

SONO-JO

Saio na varanda
Para fugir da mulher e filhos.
Que calor!

BUSON

Apenas homens,
E uma mulher entre eles.
Que calor!

SHIKI
_______


AUTORES DO MÊS

DEZEMBRO

HEINRICH HEINE, poeta e jornalista alemão,
nasceu em Düsseldorf a 13 de dezembro de 1797
e faleceu em Paris a 17 de fevereiro de 1856.
Desde cedo foi educado para estudar Direito, mas inepto,
preferiu interessar-se pelos assuntos literários.
Foi aluno de Schlegel. Em 1831 foi para Paris e lá conseguiu fama.
Seus poemas são sensíveis, cheios de infidelidade e lamentações amorosas.
No final de sua vida tiveram caráter irônico.
A poesia de Heine causou enorme influência dentro e fora da Alemanha
em toda a metade do século XIX. Foi também excelente prosador.
Algumas Obras: Poemas (1822), O Retorno (1826),
O Livro das Canções (1827), O Mar do Norte (1827),
Novos Poemas (1844), Romanceiro (1851).

POEMA

Vem, linda peixeirinha,
Trégua aos anzóis e aos remos.
Senta-te aqui comigo,
Mãos dadas conversaremos.

Inclina a cabecinha
E não temas assim:
Não te fias do oceano?
Pois fia-te de mim.

Minh’alma, como o oceano,
Tem tufões, correntezas,
E muitas lindas pérolas
Jazem nas profundezas.

Tradução: Manuel Bandeira
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JANEIRO

CASIMIRO JOSÉ MARQUES DE ABREU, poeta brasileiro,
nasceu em Capivari/RJ a 4 de janeiro de 1839
e faleceu em Indaiaçu/RJ a 18 de outubro de 1860.
Pertenceu à segunda geração romântica, subjetivista.
Recebeu apenas instrução primária, mas possuía dom literário.
Em 1853 foi enviado a Portugal, onde escreveu a maior parte
de seus poemas, que continham ternura e sensibilidade quase infantis.
Nelas realçava emoções simples e ingênuas, amor pela natureza,
pela mãe e pela irmã, num misto de saudade e tristeza.
Algumas Obras: Canções do Exílio (1854), Carolina (1856),
As Primaveras (1859).

ORAÇÕES

A ***

A alma, como um incenso, a céu s’evela
Da férvida oração nas asas puras,
E Deus recebe como um longo hosana
O cântico de amor das criaturas.

Do trono d’ouro que circundam anjos
Sorrindo ao mundo a Virgem-Mãe s’inclina
Ouvindo as vozes d’inocência bela
Dos lábios virginais duma menina.

Da tarde morta o murmurar se cala
Ante a prece infantil, que sobe e voa
Fresca e serena qual perfume doce
Das frescas rosas de gentil coroa.

As doces falas de tua alma santa
Valem mais do que eu valho oh! querubim!
Quando rezares por teu mano, à noite,
Não t’esqueças também – reza por mim!

in: As Primaveras
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FEVEREIRO

LUÍS CAETANO PEREIRA GUIMARÃES JÚNIOR, poeta brasileiro,
nasceu no Rio de Janeiro a 17 de fevereiro de 1845
e faleceu em Lisboa/Portugal a 20 de maio de 1898.
Na carreira diplomática chegou ao posto de ministro plenipotenciário,
e serviu em Londres, Roma e Caracas. Sua obra poética evoluiu
do Romantismo para o Parnasianismo. Poeta de feição intimista,
teve prestígio na sua época, soube valorizar a beleza da forma
e do sentimento poético, criou também em prosa, sendo membro fundador
da cadeira nº. 31 da Academia Brasileira de Letras (1897 – 1898).
Foi colaborador como folhetinista no Diário do Povo.
Algumas Obras: Corimbos (1869) e Sonetos e Rimas (1880).

VISITA À CASA PATERNA

À minha irmã Isabel

Como a ave que volta ao ninho antigo
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos – olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto)
Em que da luz noturna à claridade
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto.

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto
Chorava em cada canto uma saudade.

in: Sonetos e Rimas
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CANÇÃO

Canto. Composição poética destinada geralmente a ser cantada.
Alguns autores que compuseram canções: Raul Pompéia, Fagundes Varela,
Casimiro de Abreu, Cecília Meireles, entre outros.

A ARTE

"Quem trabalha com suas mãos, pensa, fala, e escreve
ao mesmo tempo; e se, na república do espírito,
há lugares reservados para as inteligências superiores,
o homem de estilo deve ceder o lugar ao homem de ação".

Proudhon
(Idéias Revolucionárias)

Um círculo de trevas, a realidade; esquecê-la é consolar-se.
Desvairado pelas derrotas da realidade, o espírito evade-se para
a embriaguez. A arte é a grande embriaguez do belo consolador.
Cantou com os pastores da primitiva humanidade, suavizando-lhes
o rigor dos ásperos dias; educou-se nas montanhas do Oriente
e emigrou para a Europa. Engrandecida pela força do gênio,
ganhou mil formas, expandiu-se em todas as direções – estrela imensa!
clareando o orbe inteiro e recesso das almas, confortando,
com o divino eflúvio, os corações deprimidos. Semelhante ao fogo,
o êxtase consome-se no próprio ardor. Passa a embriaguez dos sentidos,
passa o entusiasmo inteligente da investigação; ficam a saciedade,
a descrença, a fadiga, a morte. Extinta a chama, cinzas.
Os transportes do belo, não. A floresta das ilusões,
assaltada pelo inverno, esfolha-se folha a folha; a arte persiste.
Desfere ainda, em pleno extermínio das energias, o canto vigoroso
do seu entusiasmo. Farol de Leandro, imortal e culminante,
domina impávido o naufragar das eras.
Feliz quem pode abismar-se no tempo ao clarão desse facho!

RAUL POMPÉIA
in: Canções Sem Metro (Parte IV – Vaidades)
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LETRAS

ASSUM PRETO

Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dô

Tarvez pur ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió

Assum Preto veve sorto
Mais num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá

Assum preto, o meu cantar
É tão triste cumo o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meu

LUIZ GONZAGA E HUMBERTO TEIXEIRA
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HERMANOS

LA VIDA ES SUEÑO (Fragmento)

Ay mísero de mí, y ay infelice!
Apurar, cielos, pretendo,
ya que me tratáis así,
qué delito cometí
contra vosotros naciendo.
Aunque si nací, ya entiendo
qué delito he cometido;
bastante causa ha tenido
vuestra justicia y rigor,
pues el delito mayor
del hombre es haber nacido.
Sólo quisiera saber
para apurar mis desvelos
--dejando a una parte, cielos,
el delito del nacer--,
¿qué más os pude ofender,
para castigarme más?
¿No nacieron los demás?
Pues si los demás nacieron,
¿qué privilegios tuvieron
que no yo gocé jamás?

CALDERÓN DE LA BARCA

PEDRO CALDERÓN DE LA BARCA, dramaturgo espanhol,
nasceu em Madrid a 17 de janeiro de 1600
e faleceu na mesma cidade a 25 de maio de 1681.
É considerado um dos grandes ícones do teatro espanhol.
Escreveu dramas, comédias e autos. Ex.: Amor, Honra e Poder (1623).
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MULHER

SONETO

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do sol, na noite sossegada
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.

ELIZABETH BARRETT BROWNING
Tradução: Manuel Bandeira

ELIZABETH BARRETT BROWNING, poetisa inglesa,
nasceu em Coxhoe Hall, perto de Durham, a 9 de março de 1806
e faleceu em Florença a 29 de julho de 1861.
Produziu uma das melhores poesias da Inglaterra.
Foi casada com o poeta Robert Browning.
Algumas Obras: Janelas da Casa Guidi (1851), Aurora Leigh (1856),
Poemas antes do Congresso (1860).
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POETAS PORTUGUESES

A PORTUGAL (Fragmento)

Meu Portugal, meu berço de inocente,
Lisa estrada que andei débil infante,
Variado jardim do adolescente,
Meu laranjal em flor sempre odorante,
Minha tarde de amor, meu dia ardente,
Minha noite de estrelas rutilante,
Meu vergado pomar de rico outono,
Sê meu berço final no último sono!

Costumei-me a saber os teus segredos
Desde que soube amar; e amei-os tanto!
Sonhava as noites de teus dias ledos
Afogado de enlevo em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos de amor, débeis os dedos
Não sabiam soltar da lira o canto,
Mas amar-te o esplendor de imenso brilho. . .
Eu tinha um coração e era teu filho!
(. . .)

TOMÁS RIBEIRO

TOMÁS ANTÔNIO RIBEIRO FERREIRA, nasceu em Parada da Gonta,
na Beira Alta em 1831 e faleceu na mesma cidade em 1901.
Foi poeta, diplomata, político, jornalista e historiador de renome.
Sua poesia era romântica. Algumas Obras: Delfina do Mal, D. Jaime,
Do Tejo ao Mandovi, Entre Palmeiras.
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ERÓTICA

POR DECORO

Quando me esperas, palpitando amores,
e os lábios grossos e úmidos me estendes,
e do teu corpo cálido desprendes
desconhecido olor de estranhas flores;

quando, toda suspiros e fervores,
nesta prisão de músculos te prendes,
e aos meus beijos de sátiro te rendes,
furtando às rosas as purpúreas cores;

os olhos teus, inexpressivamente,
entrefechados, lânguidos, tranqüilos,
olham, meu doce amor, de tal maneira,

que, se olhassem assim, publicamente,
deveria, perdoa-me, cobri-lo
suma discreta folha de parreira.

ARTHUR AZEVEDO

ARTHUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO (1855 – 1908),
escritor brasileiro. Destacou-se especialmente como autor teatral,
com mais de 70 peças de todos os gêneros, além de traduções
e adaptações. Usa o humor como tônica em seus trabalhos.
Algumas Obras: O Rio de Janeiro em 1877 (1878), O Bilontra (1885),
Entre o vermute e a Sopa (1895), A Capital federal (1897),
O Badejo (1898), O Dote (1904), O Mambembe (1904).
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FOLK - LORE

ADIVINHAS:

Perguntas ou declarações de forma obscura, que devem ser contestadas ou
explicadas.

EXEMPLOS:

- O que é o que é
que meus amigos
usam mais do que eu?

MEU NOME

- Sou uma ave bonita
tente meu nome escrever
leia de trás pra frente
e o mesmo nome irá ler

ARARA

- O que é o que é?
Estando sempre quietas,
estando sempre agitadas
dormindo de dia e de noite
estão sempre acordadas?

ESTRELAS
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ORIENTE

POEMAS

Não me tragam mais flores, mas ramos de cipreste, onde mergulharei meu
rosto! Quando o sol desaparece detrás das montanhas, ponho o meu
traje azul, de mangas leves, e vou dormir entre os bambus que ela amava.

***

Os perfumes da primavera e os raios oblíquos do sol atravessam
as minhas janelas? É a hora em que os barqueiros começam a cozinhar
o arroz para a refeição da noite. Os pardais piam. Rincha um carro.
Bebo - e os meus cuidados misturam-se aos insetos alados que zumbem
na irisação vermelha do jardim.

***

Minha barca desliza rápida. Contemplo o rio. Há nuvens passando
pelo céu. A água é também uma noite clara. Quando uma nuvem escorrega
por cima da lua, vejo-a escorregar no rio e parece-me que vago em
pleno céu. Penso em minha amada, que se reflete assim no meu coração.

TU FU

TU FU, poeta chinês, nasceu em Tu-ling, Chen-si, em 712
e faleceu provavelmente em Tanchow, no Kwangsi Chuang em 770.
É considerado um dos maiores poetas da China.
Possuiu várias fases poéticas, sendo destaque o lirismo.
É chamado pelos chineses o "poeta sagrado".
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FÁBULAS

QUEBRANDO PARADIGMAS

Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca
de alimento. A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu
o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores.
Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio,
foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida.
Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda
sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo. Enquanto abraçava
a panela, começou a perceber algo lhe atingindo. Na verdade, era o calor
da tina... Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde mais
a panela encostava. O urso nunca havia experimentado aquela sensação e,
então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa
que queria lhe tirar a comida. Começou a urrar muito alto.
E, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra
seu imenso corpo. Quanto mais a tina quente lhe queimava,
mais ele apertava contra o seu corpo e mais alto ainda rugia.
Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso
recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a tina de comida.
O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela
e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão
de estar rugindo. Quando terminei de ouvir esta história de um mestre,
percebi que, em nossa vida, por muitas vezes, abraçamos certas coisas
que julgamos ser importantes. Algumas delas nos fazem gemer de dor,
nos queimam por fora e por dentro, e mesmo assim, ainda as julgamos
importantes. Temos medo de abandoná-las e esse medo nos coloca
numa situação de sofrimento, de desespero. Apertamos essas coisas contra
nossos corações e terminamos derrotados por algo que tanto protegemos,
acreditamos e defendemos.
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NOVOS

A SENHA

A senha
mais antiga
e de maior
domínio público
é AMOR.

Dá acesso
a este mundo,
ao que supostamente
virá depois,
e foi revelada
por Jesus Cristo.

Estatisticamente
é considerada
aquela que os usuários
mais esquecem.

JOSÉ RONALDO VIEGA ALVES
Sant’Ana do Livramento/RS
in: Vitrais
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O meu amor
é o sonho que abortas
e me cortas
por dentro
ficas dando voltas
pela minha cama
e depois estancas
como febre ardente

Arde-me na tua
a minha carne
perde-se na tua
a minha alma
estás nua
e não cabes nos meus abraços
estás morta e não sabes

Eu faria o que quisesses
mas não queres

Preferes levar contigo
a minha alma
e abandonar-me
lançar-me sobre a tua carne
como um abismo informe
cair até cansar-me
escorrer até soltar-me

Depois adormecer
e despertar ileso sob as tuas asas

GREGORIO NUCCI
São Paulo/SP
in: Poemas de Pedra e Espuma
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CHAMANDO POR TI

Chamarei pelo teu nome
quando a saudade apertar,
ou quando estiver sozinha
sem ninguém mais para amar.

Chamarei pelo teu nome
quando minha alma doer
de sentir a solidão
devagar me corroer.

Chamarei pelo teu nome
quando ruir a esperança
e os sonhos do meu passado
viverem só na lembrança.

Quando doente, em meu leito
sentir que a morte consome,
com toda a força do peito
chamarei pelo teu nome.

DEISE DOMINGUES GIANNINI
São Vicente/SP
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ÊXODO

Ir-me de mim, mas ir com desapego
de tudo quanto sou ou tenha sido
- eu, que imagem me fiz de um mito grego,
no espelho de outros olhos refletido.

Partir... Mas quando? Se ainda agora chego
de algum lugar onde vaguei perdido,
trazendo, para meu desassossego,
a inconsciência total de haver partido.

Ir louco, a deflorar os horizontes,
o espírito andarilho, a carne errante,
na fome, as árvores; na sede, as fontes.

Venha junto o que igual absurdo enfrente,
de partir para longe a cada instante
e ficar em si mesmo eternamente.

SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
in: Caverna dos Signos
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GIRASSOL

toda vez que passas
em direção ao fim da tarde
meus olhos te acompanham
até desapareceres
na linha do horizonte

ADEMIR ANTONIO BACCA
Bento Gonçalves/RS
in: Plano de Vôo
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TERAPIA

ALÍVIO DA TENSÃO
O POEMA MASSAGEIA
MEU CORAÇÃO

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
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NEGATIVO

Enganado por
querer ser feliz.
Tolo por
querer ser feliz.
Sofrido por
querer ser feliz.

LUIZ BALTHAZAR
Barbacena/MG
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SE FOSSE DIZER
TUDO QUE SINTO
DIRIA:
SINTO MUITO

DINOVALDO GILIOLI
Florianópolis/SC
in: Vagar Poética - Coletânea
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TÊMPERA

Cresço no fogo
Cresço no ar

O tempo todo
sou forjado
O tempo todo
esculpido
No fim
estátua longínqua
derreterei meu bronze
deixarei a forja
levarei a chama

RICARDO ALFAYA
Rio de Janeiro/RJ
in: Rios (Coletânea de Poemas)
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HAI-KAI COM MUITO AMOR

Entrelaçados
em mútuas
transpirações.

FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
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CUMPLICIDADE

Não é importante a perpetuidade
do poema só há de existir
no efêmero de quem o lê
delito
de uma história
de cúmplice assassinato
onde quase sempre o leitor
é inocente.

LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Catedrais
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PACOTE

Flagro-me no meio da noite pensando em ti.
Quixotesca, atrás do sonho.
Minha integridade se assusta e corre punitiva,
Cortando teu nome em pedaços.
Nunca vais saber que te amei, respeitosa,
Afagando tua cabeça já com fios brancos.
No meu delírio, entras no meu quarto,
Olhas-me, baixando a cabeça
Dando-me a certeza do impossível.
Choro sozinha empacotando o coração,
Enquanto os Deuses, bolam armações
Com nossas Vidas.

TERESINHA TADEU
(1941 - 2001)
Santos/SP
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SONETO REVOLTADO

Os homens abominam tiranias,
condenam ditaduras de direita,
e mesmo o socialismo não aceita
caudilhos que arremedam monarquias.

Torcendo por Davi contra Golias,
dizendo não aos líderes de seita,
assim a Humanidade desrespeita
os mandos e desmandos dos maus guias.

Mas mais cruel, covarde e prepotente
é o Deus Onipotente que nos cria
a fim de judiar, unicamente.

Foi Ele quem, à minha revelia,
cegou-me e fez de mim um penitente
que apenas desabafa em poesia.

GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
in: Paulisséia Ilhada
- Sonetos Tópicos
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HAICAIS

Beija flor azul
batendo suas asas
beijando a flor.
***
Triste solidão
ver árvore cortada
caída no chão.
***
Praia repleta
termômetro acusa
chegou o verão.

MARIO AZEVEDO ALEXANDRE
São Vicente/SP
in: São Vicente: Pétala do Oriente
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SILHUETA DAS RECORDAÇÕES

A vida não teve mais
o brilho daquela manhã
em que chovia nas Geraes
o abraço
na tarde
atormentada da avenida
a noite em que visitei
teu corpo
na sala sobre o sofá.

A vida
- hoje -
equilibra-se em expediente integral
e
vacila
passo
a passo.

RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: A Travessia dos Espelhos
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* No luar dos seus olhos, o plenilúnio dos meus desejos.
* Os discursos dos anjos são escritos com flores e estrelas.
* Beijos constantes de leves aragens, nas palmas dos ingênuos coqueirais,
tornam a tarde palco de um balé divino.

HUMBERTO DEL MAESTRO
Vitória/ES
in: Aloendros – Ditos Líricos e Filosóficos
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MADRID

Madrid acolhe todas as Nações.
Todas as raças num fraterno abraço
Bela Madrid dos Austrias e Bordões
tem a marca da alegria no seu traço.

O colorido das festas que encantam:
São Isidro, Paloma, Carnaval,
espetáculos de luz que remontam
desde os tempos de Madrid Medieval.

Raríssima beleza é o que define
os parques e jardins que aqui refiro,
Campo del Moro, Jardins Sabatini,
O Parque de Argonzela, El Buen Retiro.

O Museu do Prado, que expõe ao mundo
a excepcional riqueza das escolas
mostrando o que a arte tem de mais profundo
na coleção de telas espanholas.

Exposto em anexo ao Museu do Prado,
a famosa tela aguça a memória,
Guernica de Picasso, o seu legado
à Espanha, imprimindo-lhe sua história.

Museu de Villa Hermosa, San Fernando,
grandes Mestres, juntos a arte espanhola,
ao rico acervo vão se misturando,
Renoir, Van Gogh, Zurbaran, Sorolla...

Em Madrid, um extenso calendário
dos vários festivais e exposições.
Da visita ao moderno Planetário,
aos ciclos musicais de instituições.

No tablado flamenco o sensual
ritmo que a castanhola acompanha,
emoldurando esse Cartão Postal,
todo o esplendor da salerosa Espanha.

DALVA DE ARAÚJO
Santos/SP
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PORQUE O MUNDO LÁ FORA

porque o mundo lá fora acabou
essa lua em lâmina sobre a cidade
faz meu corpo esquecido em algum lugar
de gravata torta no pescoço
eu bêbado numa histórinha de amor
com tua boca, abraço e baton
fantasiando o amor que se esconde
no teu corpo onde não durmo
apenas, invisíveis, tributo flores em chamas de desejo
na noite longa sem beijos com sons e sinais
a matéria e a moral
na abrangência mutável das coisas

ERNANI FRAGA
Santos/SP
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menina
brincava com o pôr-de-sol
que se via da cadeira
no planeta esverdeado
com o olho

menina
lambeu o dedo azul
do tempo
e ficou morando
atrás das ondas
na pituba

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
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BANCOS

para: Carlos Drummond de Andrade,
poetas, bancários e afins...

São dois. Sete, talvez,
Para os distraídos, uns;
Em determinadas épocas, dois milhões;
Na maior parte do tempo, um por vez.

Um vive além da vida,
Outro tem vida, sem viver.
O gauche e a CLT,
Correntes opostas nas artérias da cidade nervosa.

Um gasta o dia contando dinheiro,
À noite, dorme um sono de travesseiro,
Sem conhecer outra realidade,
Se sente feliz e produtivo.

O outro sustenta o cérebro ativo,
Penetrando o sentimento do mundo.
Tinha discernimento para saber-se infeliz,
E divertia-se sofrendo.

O homem lapidado no bando parece uma estátua,
A estátua sentada no banco vai além do homem,
Um corre na vida deixando-a em branco,
O outro, entre o ser e as coisas, não conhece a morte.

LEANDRO LUIZ RODRIGUES
Santos/SP
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no branco da memória
imagino girassóis
num jardim irreal

cheias de outono
sob um céu cobalto
brilham nuvens de sol

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Nuvens de Sol
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POEMA

O meu poema tem a tua forma,
o teu jeito simples,
o teu afago,
o teu ameno frescor da manhã.
O meu poema tem o teu sorriso,
meu paraíso,
o teu emblema.
O meu poema tem o teu nome.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Um Poeta na Itália
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TATUAR TEU NOME

Nosso caminho...
Não é um telefonema.
Um encontro marcado!
Nem muito menos,
acaso!!!
é algo mais...
um sentimento de ver
constante.
Predomina uma espera infinita!
Numa rua.
Numa noite
Num engodo para loucos.
Em algum lugar,
Que aconteça:
Eu desejo!

GASTÃO
São Vicente/SP
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MINHA LENDA

Mudei meu nome, cansei de ser guerreira.
Não mais Walquíria, e sim Sophia,
Dediquei-me aos livros e devorei bibliotecas.
De Tales a Saramago
Escarafunchei os séculos e as civilizações,
Sem aplacar minha sede,
Eu diria antes, minha fome,
De contato,
De afago,
De agrado.
Estou aqui, de peito aberto, desarmada,
E qual diamante, firo a quem me toca.
Objeto de desejo, não de amor.
O oráculo de Delfos, se existisse ainda,
Concordaria com a astrologia,
E com a numerologia
Que me decretam
Individualista,
Pioneira,
Solitária.
E eu buscando carinho...
Desejo a morte com a sofreguidão dos condenados à imortalidade.
Mudar o nome não basta.
Neste mundo que incendiou a Atenas de Péricles
E condenou Sócrates a beber cicuta,
Quem sou eu para implorar aceitação?
Quero ter o fim dos gregos valentes e virtuosos
Que os deuses arrebatam deste planeta hostil:
Mãe Deméter, inicia-me nos mistérios de Elêusis
E coloca-me nos céus, transformada em estrela!

SONIA RODRIGUES
Santos/SP
in: Dias de Outono
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MORTALHA

te foste mortalha
dos meus desatinos
muralha de intrigas e fascínios

como instinto
devastar-te o âmago
de prantos e birras
degustar-te prazerosa
ambiciosa na oportunidade
de cítaras e sirenes
me rachar
nos teus tendões pluviais

prostrar-me
lícita de jejum
e te haurir
lôbrega
entre vaselina e vick
abismar as nódoas
da libido
extrair-te pólen
codeína
proteína

DENISE TEIXEIRA VIANA
Rio de Janeiro/RJ
in: Muito pelo Contrário
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REFLEXÃO CANSATIVA

um belo dia

sentei

e como um pensador de Rodin

sonhei

escreverei muitos livros

e aceitarei desafios

(pensei)

e foi com pedras

e com montanhas

que sisifamente lidei

passaram-se os anos
foram-se as lutas
eu fiquei

ainda que perdido
nos papéis difíceis do tempo
sobrei

depois
em meio aos escombros do acaso
cansei...

NEWTON DE LUCCA
São Paulo/SP
in: No âmago do íntimo
_________________

O SONO

em paz
em paz
em paz paz
paz
paz
z
z
z
zzz.........
acordo
acordo.

S. CAMPOS
Santos/SP
_________

meu batom vermelho vivo
contorna minha boca e os teus olhos
teu beijo sobrevoa meus lábios
teus dedos brincam nos meus

tens espírito de beija-flor

VIOLETA GRINDEL
Santos/SP
in: Pedras no Sapato
_______________

LEMBRANÇAS

Era alegre de manhã.
Entretanto,
a noite era escura como noite
e o quarto era frio como uma noite fria

Eu ficava deitado,
imóvel,
ouvindo a discussão no quarto ao lado.
Não mexia para não atrapalhar o ouvido,
não respirava para não desafiar o medo.

Super-homem gritava com Nossa Senhora
coisas que eu não tinha visto.
Nem no gibi, nem no catecismo.

De manhã, eu era alegre.
Mas entre um chute e um pulo
me vinha um aperto mole na barriga
(desses que eu sentia na roda-gigante).
Como se tivesse medo
das noites escuras e dos quartos frios
onde os heróis e os santos
se compraziam em assustar a minha infância.

SERGIO ANTUNES
São Paulo/SP
in: Relógio da Sala
______________

CONSEQUÊNCIA

Esquecer-te?

E esquecer
a paz
a felicidade
o prazer
o gozo
e o cansaço
o abraço!...
e o beijo
o desejo
o corpo
e a alma.
aquela calma...
o sentido
o palpável
e o abstrato
o obsceno
e o recato

Esquecer-te?
Só esquecendo-me.

MARCELO LOPES
Guarujá/SP
__________

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