Revista Poetizando

22.9.07

Revista Poetizando nº. 26 (Edição de Primavera)

Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,

Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

10-07-1930

ALBERTO CAEIRO (FERNANDO PESSOA)
in: Ficções do Interlúdio
____________________

AUTORES DO MÊS:

SETEMBRO

PIERRE DE RONSARD, poeta francês,
nasceu no castelo da Possonnière, em Couture-sur-Loir,
Vendôme, a 11 de setembro de 1524
e faleceu em Saint-Cosme-en-l’Isle, perto de Tours,
a 27 de dezembro de 1585. De família nobre,
dedicou-se ao estudo da técnica poética dos antigos,
entrando em contado com a poesia grega.
Defendeu a língua francesa ameaçada pelo latim,
buscando inspiração na lírica grega. Para revolucionar a poesia
publicou odes, sendo nomeado poeta da Corte.
Sendo clássico autêntico, foi o primeiro poeta francês moderno.
Inspirou-se em Petrarca e Anacreonte, cantando a paisagem
francesa cheia de ninfas e faunos. Possuía arte requintada
valorizando a poesia intimista e a melancolia sugestiva.
Algumas Obras: Quatro Primeiros Livros de Odes (1550),
Amores (1552), Os Hinos (1555).

SONETO

Foi para vós que ontem colhi, senhora,
Este ramo de flores que ora envio.
Não no houvesse colhido e o vento e o frio
Tê-las-iam crestado antes da aurora,

Meditai nesse exemplo, que se agora
Não sei mais do que o vosso outro macio
Rosto nem boca de melhor feitio,
A tudo a idade afeia sem demora.

Senhora, o tempo foge... o tempo foge...
Com pouco morreremos e amanhã
Já não seremos o que somos hoje...

Por que é que o vosso coração hesita?
O tempo foge... A vida é breve e é vã...
Por isso, amai-me... enquanto sois bonita.

Tradução: Manuel Bandeira
______________________

OUTUBRO

HUMBERTO DE CAMPOS VERAS, escritor brasileiro,
nasceu em Miritiba/MA (atual Humberto de Campos)
em 25 de outubro de 1886 e faleceu no Rio de Janeiro
em 5 de dezembro de 1934. Dedicou-se ao jornalismo em Belém,
sendo diretor do jornal A Província do Pará.
Mudando-se em 1912 para o Rio de Janeiro continuou
sua atividade jornalística como redator. Foi contista, poeta, ensaísta,
crítico, biógrafo e memorialista. Seu prestígio como escritor deve-se
em muito pelos seus contos humorísticos sob o
pseudônimo de Conselheiro X.
Algumas Obras: Poesia (1911), Da Seara de Booz (1918),
Vale de Josafá (1919), O Mealheiro de Agripa (1920),
O Tonel de Diógenes (1920), Carvalhos e Roseiras (1923).

DOR

"Há de ser uma estrada de amarguras
a tua vida. E andá-la-ás sozinho,
vendo sempre fugir o que procuras
disse-me um dia um pálido advinho.

"No entanto, sempre hás de cantar venturas
que jamais encontraste... O teu caminho,
dirás que é cheio de alegrias puras,
de horas boas, de beijos, de carinho..."

E assim tem sido... Escondo os meus lamentos:
É meu destino suportar sorrindo
as desventuras e os padecimentos.

E no mundo hei de andar, neste desgosto,
a mentir ao meu íntimo, cobrindo
os sinais destas lágrimas no rosto!
____________________________

NOVEMBRO

ANTÔNIO PEREIRA DE SOUSA CALDAS, poeta brasileiro,
nasceu no Rio de Janeiro a 24 de novembro de 1762
e faleceu na mesma cidade a 12 de maio de 1814.
Aos oito anos viaja para Portugal entrando, aos dezesseis anos
para a Universidade de Coimbra. Vítima da intolerância religiosa
sofreu prisão e torturas. Quando foi libertado, viajou para Paris e Roma,
onde se decidiu pela carreira eclesiástica. Voltando para Lisboa,
durante quatro anos viveu na pobreza,
retornando ao Rio de Janeiro em 1808.
Traduziu em versos os Salmos de Davi.
Influenciou os poetas Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.
Algumas Obras: Poesias Sagradas (1821), Obras Poéticas (1821-1822).

SALMO 18º. (fragmento)

Os céus ressoam do Senhor a glória,
E o firmamento luminoso ostenta,
Por toda a parte, do Supremo Artífice
As mãos divinas.

O dia e a noite revezados cantam
Sua grandeza, que o vizinho dia
E a eminente tenebrosa noite
De novo entoam.

(...)

Puro e inocente de medonhos vícios,
Despedirei a voz sonora e grata
A teus ouvidos: este é todo o objeto
Do meu desvêlo;

A minha mente e o coração devoto,
Ante teus olhos, girará constante,
Ó meu Senhor e todo o meu amparo,
Meu Redentor!

in: Obras Completas
_________________

NOTURNO

Composição poética de caráter terno ou melancólico,
que diz respeito à noite. Vários autores produziram noturnos entre eles,
Fagundes Varela.

NOTURNO (fragmento)

Minh’alma é como um deserto
Por onde o romeiro incerto
Procura uma sombra em vão;
É como a ilha maldita
Que sobre as vagas palpita
Queimada por um vulcão!

(...)

Nem uma luz de esperança,
Nem um sopro de bonança
Na fronte sinto passar!
Os invernos me despiram,
E as ilusões que fugiram
Nunca mais hão de voltar!

(...)

Minh’alma é como um deserto
Por onde o romeiro incerto
Procura uma sombra em vão;
É como a ilha maldita
Que sobre as vagas palpita
Queimada por um vulcão!

FAGUNDES VARELA
in: Cantos Meridionais
__________________

LETRAS

Ó ABRE-ALAS

Ó Abre-Alas
Que eu quero passar
Ó Abre-Alas
Que eu quero passar

Eu sou da Lira não posso negar
Eu sou da Lira não posso negar

Ò Abre-Alas que eu quero passar
Ó Abre-Alas que eu quero passar

Rosa de Ouro é quem vai ganhar
Rosa de Ouro é quem vai ganhar

CHIQUINHA GONZAGA

FRANCISCA EDWIGES NEVES GONZAGA,
conhecida como Chiquinha Gonzaga, compositora brasileira,
nasceu no Rio de Janeiro em 17/10/1847
e faleceu na mesma cidade em 28/02/1935.
Contribuiu imensamente para a evolução
e divulgação da Música Popular Brasileira.
Sozinha, ensinava piano para obter sustento,
passou a viver a freqüentar as rodas dos chorões
e a tocar em festas.
Em 1899, a pedido do Cordão Rosa de Ouro, do Andaraí,
escreveu a marcha carnavalesca "Ó Abre-Alas",
até hoje executada no carnaval. Deixou vasta produção.
Algumas Obras: Lua Branca, Santa, Casa de Caboclo, Machuca,
A Brasileira e Corta-Jaca.
____________________

HERMANOS

LAS CAMPANAS

Yo las amo, yo las oigo,
cual oigo el rumor del viento,
el murmurar de la fuente
o el balido de cordero.
Como los pájaros, ellas,
tan pronto asoma en los cielos
el primer rayo del alba,
le saludan con sus ecos.
Y en sus notas, que van prolongándose
por los llanos y los cerros,
hay algo de candoroso,
de apacible y de halagüeño.
Si por siempre enmudecieran,
¡qué tristeza en el aire y el cielo!
¡Qué silencio en la iglesia!
¡Qué extrañeza entre los muertos!

ROSALÍA DE CASTRO

ROSALÍA DE CASTRO, escritora galega,
nasceu em Santiago de Compostela a 24 de fevereiro de 1837
e faleceu em La Matanza a 15 de julho de 1885.
É considerada a maior poetisa da Galiza
e para alguns uma das melhores do séc. XIX.
Seus versos brancos e ritmos irregulares constituíram uma revolução
do estilo poético espanhol, antecipando o Modernismo.
Algumas Obras: La Flor (1857), Cantares Gallegos (1863),
Folhas Novas (1880), À Beira do Sar (1884).
__________________________________

MULHER

À PORTA DE DEUS

Duas vezes perdi tudo
E tudo debaixo da terra.
Duas vezes parei mendiga
À porta de Deus.

Duas vezes os anjos, descendo dos céus,
Reembolsaram-me de minhas provisões.
Ladrão, banqueiro, pai,
Estou pobre mais uma vez!

EMILY DICKINSON
Tradução: Manuel Bandeira

EMILY ELIZABETH DICKINSON, poetisa norte-americana,
nasceu em 10 de dezembro de 1830, em Amherst, Massachusetts,
falecendo no mesmo lugar a 15 de maio de 1886.
Foi considerada uma das maiores poetisas do seu tempo,
embora nada foi publicado de seu em vida.
Sua obra é marcada pelo misticismo, pela paixão da introspecção,
de extraordinária experiência religiosa,
não obedecendo a teorias poéticas, escrevendo com redobrado fervor,
à partir de 1855. Em 1862, sua produção literária atingiu o máximo.
Em 1870 viveu em reclusão quase total.
Alguma Obra: Poemas de Emily Dickinson (1890).
_______________________________________

POETAS PORTUGUESES

A MANHÃ (fragmento)

(...)

Saúdam com sonora melodia
As doces aves na frondosa selva
O astro que benéfico alumia
Dos altos montes a florida relva;
Uma a cantiga exprime modulada
Com suave gorjeio, outra responde
C’os brandos silvos da garganta inflada,
Como os raios, partindo do horizonte,
Ferem, brilhando com diversas cores,
As claras águas de serena fonte.

(...)

REIS QUITA
in: Obras Poéticas

DOMINGOS DOS REIS QUITA,
nasceu em Lisboa a 6 de janeiro de 1728
e faleceu na mesma cidade a 26 de agosto de 1770.
Barbeiro de profissão, foi vítima de discriminação social e literária.
Protegido do conde de São Lourenço,
perdeu a proteção quando seu tutor foi preso
por ordem do marquês de Pombal. Depois do terremoto de 1755,
permaneceu no desabrigo, morrendo em completa miséria.
Sua obra foi louvada por poetas como Garrett.
Foi membro da Arcádia Lusitana, sob o nome de Alcino Micenio.
Sendo influenciado por Rodrigues Lobo, foi notável poeta bucólico.
Alguma obra: Obras Poéticas (1766).
______________________________

ERÓTICA

RIO

Eis que a pele,
undívaga e verde,
range entre meus dedos.
O lábio
incrustado de musgo
oprime minha boca.
Neste beijo tosco
imploro
a eternidade da morte...
No caule do olho,
a fenda hostil
dos meus silêncios.
Sob as escamas em sono,
a cartilagem da inocência.
O suor,
pelas curvas imprecisas,
não é mais que minha sede.
Peço, a cada estrela trêmula,
o tormento de sua presença...
Sob a placenta fria da correnteza
Peixes bioluminescentes
(de uma ternura ambígua)
desovam do meu corpo
em meu húmus insano.
Desaguar é apenas
uma súplica de amor.
Afora o mar,
nada me comove
como sua imensidão...

AGOSTINA SASAOKA
São Paulo/SP
in: Poros

AGOSTINA AKEMI SASAOKA nasceu em Campinas, São Paulo em 1977.
Começou a estudar desenho e pintura antes mesmo de se alfabetizar.
Assim que aprendeu a ler e escrever, começou a devorar todos
os livros que encontrou pela frente e começou
a escrever seus primeiros poemas e canções.
Estudou flauta doce e formou-se no curso técnico de piano.
Em 1995, mudou-se para a cidade de São Paulo,
para cursar a Faculdade de Direito da USP, no Largo
do São Francisco. Depois de formada, começou a
trabalhar profissionalmente com a Internet,
como webmaker e depois como webdesigner e arquiteta de informação.
Publicou seu primeiro livreto "Poros" no final de 1997
e desde fevereiro de 1999 administra
o website literário "A Garganta da Serpente",
dedicado à divulgação de novos talentos.
_________________________________

NOVOS

BUSCA

Agasalho luzes
e o brilho desliza
na varanda dos olhos.
Busco
frases guardadas
nas correntezas dos dias
e fico nas
ondas do silêncio
mergulho para dentro
de mim mesmo
e busco a fonte da inspiração
para fugir da solidão.

LUIZ FERNANDES DA SILVA
João Pessoa/PB
______________

DOCES MÃOS

Longe das pompas dos salões,
vibro com os solitários recitais,
pura música, sem visões banais,
alimentando minhas emoções.

Assim ganho a melhor das sensações,
a viva luz dos divinos fanais.
Na quietude dos ermos locais,
são primaveras todas estações.

Me arrebata o dedilhar de um piano,
levando-me além do limite humano,
nos volteios de angelical bailado.

Do artista toda a ternura sentida,
nos "dedos que tocam com amor a vida",
doces mãos que sublimam o teclado.

FERNANDO VASCONCELOS
Ponta Grossa/PR
_______________

TERRA ÁRIDA

na terra
onde plantei
meus sonhos
brotaram blocos
de concreto

ADEMIR ANTONIO BACCA
Bento Gonçalves/RS
in: Plano de Vôo
______________

TÁTIL

TEU CORPO PERMITIU
MINHAS MÃOS FORAM INSACIÁVEIS

AGORA EU SEI DELE TODOS OS DETALHES
TODOS OS PONTOS VULNERÁVEIS

MEUS DEDOS FIZERAM O QUE SABEM
FORAM AO ENCONTRO DO QUE MAIS VALE

FIZERAM UM MINUCIOSO ESTUDO

LEITURA EM BRAILE

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
_________________

PIRILÂMPADAS

Nas noites quentes
de alguns verões
de há muito distantes:
munidos de recipientes de vidros
saíamos à cata de pirilampos.

Mais tarde, já deitados,
e enquanto Morfeu
não envolvia-nos
de vez, em seus braços,
encantava-nos a atmosfera aquela
em que nós mesmos criáramos
com as nossas "pirilâmpadas".

JOSE RONALDO VIEGA ALVES
Sant’Ana do Livramento/RS
in: Vitrais
___________

SALVEM AS EXCEÇÕES!

Muitos homens de meu tempo
usam terno
mas não são ternos
são tristes somente
Os homens de meu tempo
desconhecem a poesia
que não toque no rádio
Não têm tempo para brinquedo
sobretudo quando têm muitos
Os homens de
meu tempo é dinheiro
são sujeitos sem predicados
verbos mal conjugados
longos períodos
sem oração

RICARDO ALFAYA
Rio de Janeiro/RJ
in: Rios (Coletânea de Poemas)
________________________

A MULHER DO SORRISO ENIGMÁTICO

a mulher do sorriso
enigmático
leva o seu homem
pela praia
e nus
embrenham-se
na areia quente
sob as rochas
húmidas
de limos.

FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
_____________

SEGUNDA PAISAGEM

De cima de um muro
um calango vigia o mundo.

Imperioso e astuto e lépido
contempla a paisagem (surda)
ausculta os pensamentos de um cético.

De cima de um muro
um calango vigia o cego.

Viril e verossímil e audaz
afronta a morte que ronda
seu dorso listrado de couro tenaz.

CLEBERTON SANTOS
Feira de Santana/BA
in: Lucidez Silenciosa
_________________

PAISAGENS ONÍRICAS

Madrugada
tua voz distante
percorria os compassos
de minha saudade
timbres tão vizinhos
que corri à janela
e encontrei a chuva
desenhando
outra imagem.

Onde estavas?
Meu corpo
encharcado desta ternura
desconhece o trânsito
a conta da luz
os colegas e suas rotinas
- a áspera pele do cotidiano -
Agora desperto

- sombriamente só -
às margens da cama
e o dia ainda se esconde
entre lençóis
de névoa fria.

RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: A Travessia dos Espelhos
_______________________

ESPANTALHA

Se tu me esperas, EU VOU!
um chá quentinho, queijo-de-minas
desmanchando na boca
pão estalando de fresco,
azeitonas em ervas
se me esperas...
Toalha limpa, casa em ordem, e a melhor xícara
porque vou, se me esperas.
Se eu for, te debruces na janela
com relógio contando o tempo. E o cheiro de casa limpa
receberá e enxugará
meu corpo da chuva
Se eu for, abrigará meus medos,
minha criança, meu frio
e espantarei tua solidão
espantalha do meu próprio plantio
Conserve a chaleira em ebulição
Se tu me esperas Eu vou!

TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
__________

OS BILROS

Sobre a almofada, nos bilros,
curtidas mãos exercitam
líquida paciência.

Os bilros têm sons de infância.

As mãos avultam, tranqüilas,
no alegre bater dos bilros.

Mãos e bilros, mãos e bilros
de um fundo a outro do abismo
tecendo a renda do tempo.

ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/DF
in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
Instituto Nacional do Livro
____________________

SONETO JACTANCIOSO

Não é que eu seja gênio. São os críticos
que à altura não estão dos meus defeitos.
Se os homens já são seres imperfeitos,
poetas são ainda mais raquíticos.

Estão, porém, os críticos graníticos
naquela sua burrice. São sujeitos
mental e moralmente tão estreitos
que igualam-se aos primatas paleolíticos.

Louvor em boca própria é vitupério.
Não quero me gabar, mas que remédio?
Do que é evidente não se faz mistério.

Poetas como eu têm nível médio.
Ocorre que ninguém se leva a sério,
e a sisudez da crítica dá tédio.

GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
in: Paulisséia Ilhada – Sonetos Tópicos
_____________________________

enquanto te olhas no espelho
tiro pedras do sapato
encontro de olhos e bocas
a lua desce as escadas

ganho vasos de violetas

VIOLETA GRINDEL
Santos/SP
in: Pedras no Sapato
________________

CASSINO

Eu jogo os dados
pro alto
e eles caem, indecisos
sobre minhas mãos.
E, enquanto suas faces
oscilam,
escolhendo meu destino
fico ansioso como um menino
pra saber o seu final.
Será bom?
Será mal?
Não sei.
Só sei que aposto
- e que gosto -
de viver assim:
num perde-ganha
às vezes fatal.
Aposto pra vencer
venço pra apostar
perco pra esquecer
que apostei.

E quando vejo
os dados
quase parando
torço para que
seus lados
melhorem
minha sina.
E sorrio, feliz,
quando enxergo suas faces
a face da minha
Menina.

MARCELO LOPES
Guarujá/SP
___________

CIPRESTES

(a Van Gogh)

Ciprestesverdesflamas infinitos
que rodopiam ao vento suicida
contorcem-se convulsos sob ritos
selvagens como preces ressentidas.

O que os inflama e nutre e dá guarida
é o sangueseiva do pintor explícito
duelo de uma arte reprimida
libertada nas cores como um grito.

Lanhos de verde surgem do amarelo
labaredas que nuvens incendeiam
efígies róseas que se apoiam e deitam

nas curvas azuladas do horizonte
redemoinhos! relva e desmonte
cruel limite entre a loucura e o belo.

LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Catedrais
___________

O VENTO AZUL DOS CAMPOS

Às vezes eu vento
E espalho o som do meu lábio
Entre as calçadas e as praças
Desta Cidade serrana.
Conheço então o pó das folhas
As nervuras dos troncos
E as raízes que rasgam a rua.
Sei da lama seca
Armazenada sob as botas
Nas margens gélidas dos córregos.
Existo no raro instante
Em que o amor se faz carne;
Que a mão afaga a cabeça
E as bocas sopram o mundo
Gesticulando pesos móveis
Com as mesmas frases seculares.
Vou ventando terra adentro,
Brisa afora,
Carregando até uma outra esquina
O som das máquinas elétricas
Recheadas de turistas boquiabertos
Com o frio que faz nestas paragens.
E vou ventando, vou ventando,
Sei da secura das vilas apinhadas,
Das obras mortas dos palácios, dos governos,
Dos vivos que assombram fantasmas
Nos clubes e hotéis outrora imensos.
Chacoalho nos vidros dos ônibus,
No abrir das lojas,
Na esperança desesperada dos púlpitos
Cerro as pálpebras dos bêbados
Abandonados nas calçadas
Que esfrio a cada rajada.
Habito o vácuo entre a pedra
E o abismo.
Adentro pássaros pelos olhos
Sustento cada pinhão amordaçado
Fecundo os dias nas curvas
E vento e ventarei enfim,
Por toda a eternidade,
Azulejando o céu da Serra
Em toda a sua infinita santidade.

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
_________________

INVENÇÃO

O poeta enfastiado
Sentou na Olivetti lettera
E num lampejo de gênio
Inventou o etecétera

SERGIO ANTUNES
São Paulo/SP
___________

ALONGA os braços e
apanha
as coisas mais
distantes
e mais estranhas

Fora da intimidade de
seus dedos
nada fica

(Amor e ódio)

Nem vasos quebrados
nem berços vazios
nem reis ou mendigos
nem cães vadios.

ANDERSON DE ARAÚJO HORTA
(1906 – 1985)
Brasília/DF
in: Invenção do Espanto
Edições Galo Branco
________________

CANÇÃO DE SAL

trago-te uma canção de sal
do tamanho do meu amor
não tem o tamanho do céu
nem também o do mar
é uma canção de sal
do tamanho do meu amor

trago-a entre os dentes
para soltá-la
sobre a cama do vento

o teu amor
entra na minha carne
como um espírito

o teu amor me arrebata
como um campo de lírios
lambido pelo vento

eu vi o mar sobre as árvores
eu vi os sonhos no chão
vi estrelas se tornarem flores
e pássaros com perfume
quando me deste o teu amor

por isso trago-te esta canção
uma canção de sal
não é do tamanho do mar
nem do tamanho do céu
é do tamanho do meu amor

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Sonhares
___________

POEMA SEM NOME

O que dizer do olhar,
senão aquele que brilha,
que faz machucar,
que maltrata, que aniquila?

O que dizer do luar,
senão aquele que enamora,
que faz canção, que chora,
em cada flor do luar?

O que dizer de você,
senão a pessoa boa,
que libera e perdoa,
que aconselha o que se quer?

O que dizer do afago,
senão um pouco de agrado,
o beijo na mão do amado,
um sentimento qualquer?

O que dizer do poema,
senão o que é feito n’alma,
aquele que traz na palma,
na palma da mão de uma mulher?

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: A Multiplicação do Nada
_______________________

MULHER
(Poema em 4 tempos)

CRIAÇÃO

Nasci
do fluxo das águas
que há milênios
se esparramam
pelo Universo.
Girino feminino
trago em mim o AMOR
a solução perfeita
do teorema da VIDA.

FONTES

As águas do meu útero
Continuam poderosas.
São águas da Vida
que já brotaram filhos.
Hoje, meu oceano interior
parteja poesias.
Há um eterno marulhar
dentro de mim...

UNIDADE

Porta-voz do infinito
limpei a garganta e gritei
todas as mágoas
das mulheres
que me antecederam.
Das mulheres que,
numa sucessão,
geraram a mulher
que hoje sou.

OBJETIVO

Espero
o dia de Sol
que me foi prometido
no alvorecer
do mundo.
Então, darei as mãos
às minhas companheiras
e o nosso riso claro
ecoará
até o útero
do Universo.

NEIVA PAVESI
Santos/SP
__________

SANTOS I

Sai do emissário
a curva úmida,
afinal
quadriláteros de ferro,
formou-se um arco.
Setas de encontro ao mundo:
amor, berço, trabalho...
na cidade o elo a idade.

S.CAMPOS
Santos/SP
___________

INVASÃO

"O teu suor me faz refletir
O meu coração também
Palpita na tua presença
Te quero invadir...".

MARCELA GARCIA FONSECA
Santos/SP
__________

Orelha de livro, escuta:
o tempo ruge, arranha
e range e reza e luta
é boi e é piranha

e o tempo que desliza
é o mesmo que detona
dia a dia a criatura
em rugas e varizes

como não é a água mas
o tempo que se infiltra
no cimento, no litro
vaza, e se evola em gás

enquanto é o tempo também
quem liberta da prisão
e fecha cada estação
com a estação que vem

do mesmo modo que a moda
é dependente do tempo
o mesmo que em julho poda
para florir em setembro

o mesmo tempo que pinga
represa-se profundo
estica-se nos domingos
e se encurta na segunda

tempo de si mesmo filho
e pai de todos enfim
eternamente debulha
a sua espiga sem fim

e conforme caem os grãos
na infinita moenda
vão virando estrelas lendas
diamantes e avencas

pois muito além dos relógios
e através das galáxias
o tempo em tudo se acha
e se perde, encontra e foge

embora por isso mesmo
seja único o momento
tanto para o ligeiro vento
quanto para a lenta lesma

sendo apenas tempo a vida
e a morte questão de tempo
nesta estrada esquisita
sem freio ou acostamento

portanto à arte permita
capturar uns momentos
e com peculiar tempero
da morte e do esquecimento
livrar esses prisioneiros

DOMINGOS PELLEGRINI
Londrina/PR
in: O Tempero do Tempo
_____________________

DICAS DE LEITURA

AGOSTINA SASAOKA:
www.gargantadaserpente.com

GLAUCO MATTOSO:
www.sites.uol.com.br-glaucomattoso

AMARALVIEIRA:
www.amaralvieira.com

RICARDO MAINIERI:
www.mainieri.blogspot.com

RICARDO ALFAYA:
www.nozarte.blig.ig.com.br

IRACEMA ANANIAS:
www.iracemananiaspoeta.spaces.msn.com

REVISTA POÉTICA:
www.revistapoetizando2.blogspot.com

SERGIO ANTUNES:
www.sergioantunes.art.br

SILVIO CAMPOS:
www.teiacultural.blogspot.com

LEANDRO LUIZ RODRIGUES
www.mandandobrasa.blogspot.com
_____________________________

INFORMAÇÃO IMPORTANTE

Além das seções da revista POETIZANDO e dos novos poetas,
você poderá encontrar na revista impressa:
Frases, Prosa, Biografias, Crônica, Conto, Estilos de Época
e muita poesia...
UNIDADE: R$ 7,00
VIA CORREIO: R$ 9,00
ASSINATURA ANUAL: R$ 35,00
CONTATO:
walmordario@ig.com.br
_____________________________

OUTRAS PUBLICAÇÕES DO SELO ARTESANIA

LIVROS:

De Eunice Mendes:

Flores e Frutos
Sonhares
Valor: R$ 15,00 (cada)

Sino dos Ventos
Lua na Janela
Espaços do Vazio
Valor: R$ 5,00 (cada)

Nuvens de Sol
Valor: R$ 10,00

De Walmor Dario Santos Colmenero:

Um Poeta na Rua
Memórias
Versos Vivos
Das...
O Homem Natural
A Mulher Natural
Poeminhas e Proverbinhos
Expressões Impressas
Bagagens de Ontens
Poemas Bluseiros
Tributo Vivo
A Multiplicação do Nada
Um Poeta na Itália
Um Poeta na Espanha
Lá Fora Adentro
Out-Real
Pedras no Chão
Qualquer Semelhança... Não é Mera Coincidência...
Valor: R$ 7,00 (cada)

FOLHAS POÉTICAS:

A Poetisa
- Modelo: A4, para xerocopiar e distribuir, edição trimestral.
Editora: Eunice Mendes

O Poeta
- Modelo: A4, para xerocopiar e distribuir, edição trimestral.
Editor: Walmor Colmenero

FANZINES:

Árvore Azul (7 edições)
Editora: Eunice Mendes

Escritos
- Modelo: Oficio 9, 4 páginas, edição bimestral.
Editor: Walmor Colmenero
UNIDADE: R$ 1,00 + selo de R$ 00,1 (um centavo)
ASSINATURA ANUAL: R$ 10,00
CONTATOS:
walmordario@ig.com.br