Revista Poetizando

24.4.07

Revista Poetizando nº. 24 (Edição de Outono)

VOZ DO OUTONO

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
- "Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!" -

ANTERO DE QUENTAL
in: Antologia

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AUTORES DO MÊS:

MARÇO

PAUL VERLAINE, poeta francês,
nasceu em Mertz a 30 de março de 1844
e faleceu em Paris a 8 de janeiro de 1896.
Participou do grupo parnasiano francês dos quais estavam,
Anatole France e Mallarmé, entre outros.
Em 1894 foi eleito "príncipe dos poetas",
foi o autor que melhor descreveu as dificuldades e os conflitos da vida.
Sua obra possuía uma fina percepção, intimista no sentimento
e rigorosamente técnico na busca pelo envolvente, poesia "pura"
de raízes na fertilidade do povo. No Brasil, um dos seus grandes
discípulos foi Alphonsus de Guimaraens.
Algumas Obras: Poemas Saturnianos (1866),
Festas Galantes (1869), A Boa Canção (1870),
Romance sem Palavras (1874), Sabedoria (1881),
Outrora e Agora (1884).

CANÇÃO DO OUTONO

Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Num langor de calma
E sono.

Sufocada, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.

Dali, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou, de porta em porta,
Como a folha morta
Batido...

Tradução: Alphonsus de Guimaraens
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ABRIL

CHARLES PIERRE BAUDELAIRE, poeta e crítico francês,
nasceu em Paris, a 9 de abril de 1821
e faleceu na mesma cidade a 31 de agosto de 1867.
Influenciou a poesia simbolista nas últimas décadas
do século XIX, dando origem aos poetas malditos
(expressão usada por Verlaine em 1883).
Sua obra foi mal compreendida, contendo rebeldia,
musicalidade, ironia e intelectualismo.
Herdeiro do romantismo negro de Poe e Nerval, da crítica,
da liturgia e do realismo gótico. Foi também crítico de arte
e literatura, tradutor, e o grande divulgador de Poe na França.
Algumas obras: As Flores do Mal (1857), Os Paraísos Artificiais,
Ópio e Haxixe (1860), Pequenos Poemas em Prosa
(1868 – obra póstuma), Diários Íntimos (1909 – obra póstuma).

RECOLHIMENTO

Cuidado, ó minha Dor, não sejas tão hostil.
Reclamavas a tarde; ei-la que vem descendo;
Cobre a cidade toda uma treva sutil,
A uns trazendo a inquietude, a outros a paz trazendo.

Enquanto dos mortais a turbamulta vil,
Que o Prazer, duro algoz, vergaste, vai colhendo
Remorsos, nada mais, nessa festa servil,
Dá-me, ó Dor, tua mão; vamo-nos escondendo

Deles. Vem ver as velhas Eras debruçadas
Das varandas do céu, em vestes antiquadas:
A Saudade a emergir das ondas, sorridentes;

O sol que tomba e sob uma arcada se aninha,
E, como ampla mortalha, arrasta no Oriente,
Ouve, querida, a doce noite que caminha.

Tradução: Guilherme de Almeida
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MAIO

DANTE ALIGHIERI, poeta italiano,
nasceu na segunda metade do mês de maio de 1265,
em Florença e faleceu em Ravenna em 14 de setembro de 1321.
É considerado o maior poeta italiano.
Estudou filosofia, teologia e os clássicos latinos.
Em 1283 viu na rua a jovem Beatrice Portinari,
sua amada platônica. Depois da morte prematura da jovem
entregou-se a uma vida desregrada.
Construiu a linguagem poética, criando a literatura italiana,
usando a estética, filosofia e teologia. Compôs a Divina Comédia
provavelmente entre 1307 e 1313. O nome Comédia foi dado
pelo próprio Dante, não simbolizando o teatro,
mas sim o desfecho bom e satisfatório do poema.
O nome Divina foi acrescentado no século XVI.
Algumas Obras: A Vida Nova (entre 1283 e 1292),
Sobre a Língua do Povo (entre 1305 e 1306),
O Convívio (entre 1306 e 1309),
Da Monarquia (por volta de 1310).

CANTO XXXIII – PARAÍSO (Fragmento)

Virgem Mãe, por teu Filho procriada,
Humilde e sup’rior à criatura,
Por conselho eternal predestinada!

"Por ti se enobrece tanto a natura
Humana, que o Senhor não desdenhou-se
De se fazer de quem criou, feitura.

"No seio teu o amor aviventou-se,
E ao seu ardor, na paz eternidade,
O germe desta flor assim formou-se.

"Meridiana Luz da Caridade
És no céu! Viva fonte de esperança
Na terra és para a fraca humanidade!

(...)

in: Divina Comédia
Tradução: José Pedro Xavier Pinheiro
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PRECE

O mesmo que súplica religiosa ou mística, oração, reza, pedido.
Orações em que alguém normalmente se dirige a Deus.

PRECE

Jesus! Salva-me a fé, que abaixa os montes,
Que faz parar o sol, achar piloto
No mais tímido pássaro que traga
Um ramo de oliveira, no enviado
Que me arreda dos fundos precipícios!
Salva-me a fé! Ó Cristo! das alturas
Tu meu único Deus, minha esperança,
Minha estrela polar, sol de meus dias,
De meu talento inspiração divina...
Ó Cristo, a quem minha harpa hei dedicado,
Ó Cristo, Ó meu Senhor! faze que brote
De meus tímidos lábios a verdade!

FAGUNDES VARELA
in: Cantos Religiosos
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HERMANOS

CUANTO TRABAJO

La vi quedarse sola
de par en par abierta
la puerta de los años
la vi saberse bella
la vi quedarse sola
con cuatro hijos a cuesta.

Cuanto trabajo para
una mujer saber
quedarse sola y envejecer.

La vi doblar despacio
su soledad derecha
la vi meter el hombro
sin bajar la cabeza
y colocar sudores
con nombres y con fechas.

La vi quemar el agua
la vi mojar el fuego
le vi crecer las manos
velando nuestros sueños
mi madre fue mi padre
mi voz y mi alimento.

GLORIA MARTÍN
Argentina
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MULHER

BELEZA E VERDADE

Morri pela beleza, mas apenas estava
Acomodada em meu túmulo,
Algum que morrera de verdade
Era depositado no canteiro próximo.

Perguntou-me baixinho o que me matara:
- A Beleza, respondi.
- A mim, a Verdade, - é a mesma coisa.
Somos irmãos.
E assim, como parentes que uma noite se encontram,
Conversamos de jazigo a jazigo,
Até que o musgo alcançou os nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.

EMILY DICKINSON
Tradução: Manuel Bandeira

EMILY ELIZABETH DICKINSON, poetisa norte-americana,
nasceu em 10 de dezembro de 1830, em Amherst, Massachusetts,
falecendo no mesmo lugar a 15 de maio de 1886.
Foi considerada uma das maiores poetisas do seu tempo,
embora nada foi publicado de seu em vida.
Sua obra é marcada pelo misticismo,
pela paixão da introspecção,
de extraordinária experiência religiosa,
não obedecendo a teorias poéticas,
escrevendo com redobrado fervor, à partir de 1855.
Em 1862, sua produção literária atingiu o máximo.
Em 1870 viveu em reclusão quase total.
Alguma Obra: Poemas de Emily Dickinson (1890).
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POETAS PORTUGUESES

CANTIGA

Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
antes que esta assim crescesse;
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamanho inimigo de mim.

SÁ DE MIRANDA

FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA, nasceu em Coimbra
provavelmente em 1481 e faleceu no Minho em 1558.
De família abastada, freqüentou a universidade de Coimbra
e parece que lá lecionou.
Participou de saraus literários da corte
e colaborou com o Cancioneiro Geral, na cultura da poesia medieval.
Introduziu uma série de inovações para a poesia portuguesa
e cultivou o soneto, o terceto, a oitava rima,
a carta, a canção, a elegia e a écloga.
Exprime na sua obra o desengano, o ceticismo
e um profundo desconsolo.
Foi o introdutor do Classicismo em Portugal,
embora também anuncie o Conceptismo.
Foi considerado durante mais de três séculos,
um dos grandes poetas portugueses.
Algumas Obras: Éclogas: Célia, Andrés,
Nemoroso, Encantamento, Basto.
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ERÓTICA

PLENA NUDEZ

Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero em pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: da carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas...

Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
Da transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo *, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!

* Pejo: pudor

ALBERTO DE OLIVEIRA

ANTÔNIO MARIANO ALBERTO DE OLIVEIRA, poeta brasileiro,
nasceu em Palmital de Saquarema/RJ a 28 de abril de 1857
e faleceu em Niterói/RJ a 19 de janeiro de 1937.
Considerado um dos maiores poetas parnasianos brasileiros.
Foi eleito "Príncipes dos poetas brasileiros " em 1924,
substituindo Olavo Bilac. Foi cultor da forma perfeita,
de poesia elaborada, impessoal e extremamente objetiva.
Membro fundador da Academia Brasileira de Letras,
ocupando a cadeira nº. 8.
Algumas Obras: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895).
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LENDAS INDÍGENAS

A VITÓRIA-RÉGIA

Não há quem, tendo visto uma vitória-régia em toda sua plenitude,
adornando um lago ou enfeitando um rio,
possa esquecer aquele cenário de verdadeiro encantamento.
O remanso dos rios ou o lago que é seu viveiro,
são espelhos onde Iaci – a lua – vaidosa e sedutora,
reflete-se para chamar a atenção das caboclas
que a têm como visão inspiradora do amor.
No cimo das colinas as cunhãs esperavam o aparecimento de Iaci,
acreditando que ela trouxesse o bem do amor,
pois seu beijo tornava-as iluminadas, desmaterializando-as
e transformando-as em estrelas.
Contam que, certa vez, uma linda cunhã, levada pelo amor,
querendo transformar-se em estrela pelo contato selênico,
procurou as grandes elevações, montes, colinas e serras,
na esperança de ver seu sonho realizado, naquele momento
de magia e felicidade. Naquela noite de luar,
quando as estrelas do céu pareciam entoar cânticos à beleza da terra,
a linda jovem querendo tocar na lua, que se banhava no lago,
lançou-se às águas misteriosas, desaparecendo em seguida.
Iaci, a lua, num instante de reflexão apiedou-se dela,
que era tão bonita e encantadora e, como régio prêmio à sua beleza,
resolveu imortalizá-la na terra por ser impossível
levá-la consigo para o reino astral, transformou-a
em vitória-régia – estrela das águas ,
tão formosa como as estrelas do céu,
com o perfume inconfundível, que jamais foi dado a outra flor.
"Depois, dilatando tão justo prêmio, estirou-lhe, quanto pode,
a palma das folhas, para maior receptáculo dos afagos de sua luz,
amorosamente reconhecida".
Ainda hoje vive a vitória-régia o esplendor
que recebeu naquela noite de luar, quando Iaci,
soberana da noite, imortalizou-a com o beijo de luz
que ainda perdura, e que teve o destino
de transformá-la em estrela das águas.
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FÁBULA

6ª. FÁBULA DE LOQMAN

Um leão tendo envelhecido,
chegou a não poder já ir à caça de outros animais.
Resolveu empregar a manha para alcançar a subsistência.
Fingiu-se doente e retirou-se a uma caverna.
Aconteceu pois que qualquer dos animais que o ia visitar
era por ele despedaçado dentro da caverna e devorado.
Veio visitá-lo a Raposa e parando à porta do antro
cumprimentou-o nestes termos:
- Como vais de saúde, ó Rei dos Animais?
Respondeu-lhe o Leão:
- E porque não entras tu, ó Senhora do Castelo?
Replicou a Raposa:
- Meu senhor, nessa intenção vinha eu,
mas estou a ver pelas pegadas marcadas no solo,
que muitos são os visitantes que entram
e no entanto não vejo que haja saído um só deles.

LOQMAN
Fabulista de vida ignorada.
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NOVOS

Nem sei mais o que me mata:
Se é a cabeça, se é o siso,
Meu caminhar impreciso
Ou a poesia que é inata.

Sei só que a dor é incessante,
Diurna e noturnamente,
Como sonho recorrente
De um só cavaleiro errante.

Que quer correr e não corre.
A minha dor me condena,
Pois o que mais me apequena
É o verso que não me ocorre.

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
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ENVELHECER

Quando as horas do dia
forem séculos de saudades
e pelas varandas
eu ficar a amassar postais
de onde já fugiram
seus moradores
serei inverno
terei do sol vaga lembrança
terei da lua esquecido

Quando houver dos ninhos
fugido as aves
quando o coração estiver
de prantos vestidos
terei nas mãos
flores de outra estação
esquecida que sementes
se abrem em arco-íris
Quando as palavras me escaparem
e eu nunca mais encontrá-las
para fazer magias
e dizer versos
quando as palavras saírem
pelos vãos da memória
para ficarem escondidas
nos muros do passado
a fazerem sinais aos que passam
sem que eu possa invocá-las
serei então um pássaro branco
terei três pernas
e de muito terei esquecido
de nascer

HAYDÉE S. HOSTIN LIMA
Santa Maria/RS
in: Coração Guepardo
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SEM ALICERCE

SEMPRE QUE CONSTRUO
MINHAS FANTASIAS
SINTO NO FINAL
O CORAÇÃO
E AS MÃOS VAZIAS

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
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MARILDA PACHECO

coisas que acontecem em São Paulo há muitos anos
quase que sem querer vão surgindo, ficando, partindo,
a gente se encontrando nunca no passado, no futuro,
no presente ausente então construímos tudo, vivemos tudo,
as sombras, as sobras, tudo deixamos pra depois
pra semana seguinte pro mês seguinte nossas vidas
feitas por pedaços vez por nunca ou por acaso

o ano passa, você se transforma
diluída encontro a rosa, o bar, o balcão
nossa diferença na notícia com qualquer coisa
de há muito tempo, o cumprimento, a alegria, o sorriso,
velhas piadas

depois tudo retempera ausência, fim e recomeço
de tua presença como numa tela tua
presente teu que perdi numa bebedeira
num bordel triste e feio de Campo Mourão

ERNANI FRAGA
Santos/SP
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A VERDADE

A verdade
é uma
abstracção
que nos
prende.

E se
aprende
a não
usar.

FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
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corre
em minhas veias
um rio rebelde
que não respeita
a realidade
e arrasta fantasias

mas pulsa
dentro de mim
um coração
que cala
paixões
mal resolvidas

ADEMIR ANTONIO BACCA
Bento Gonçalves/RS
in: Plano de Vôo
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INQUISIÇÃO

Manifesto-me por signos
na junção de letras dispersas:
a argamassa que eu uso
vem do próprio sangue
da lágrima incontrolável
do suor não visto.
Calejo numa página a mão
enquanto a esferográfica
semeia palavras.
Sou
substrato da carne
e essência do intangível
resumindo o universo
dentro de um só indivíduo.
Sou operário do canto
em minha oficina de nuvens
construída no vórtice
do caos infinito.
Aos meus juízes digo
ser cúmplice da vida
e não clamo perdão
por meu ofício dito inútil.
Condenado desde sempre
não tenho fuga ou novo inquérito:
eu mesmo dou os fósforos
aos meus carrascos.

SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
in: Caverna dos Signos
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MÁRCIA

Menina Esperança
Estende essa mão,
Teus olhos estradas
Retinas de chão.

Arisca gazela
Que salta na vida
Teu corpo de alma
E de despedida.

Menina Esperança
De verdes esperas
Sai pela noite
A boiar nas quimeras.

Mas toma cuidado!
Não deixes rodar
No eixo de limo
Teus olhos de mar.

LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Antologia Poética
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ESPANTALHO MEU

Barba por fazer
o dia ralo
o osso magro
madura lida
Na noite à margem
catam-se miudezas
à procura de um leitmotiv
para sobreviver:
Metade de um buraco de Lua
cadência de estrela
carícia qualquer
que afaste a carência
Frutos da dura vinha
vida minha
Diga
espantalho meu
um dia será linda?

RICARDO ALFAYA
Rio de Janeiro/RJ
in: Rios (Coletânea de Poemas)
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CONSOLO

Podia ser pior:
não haveres existido.
Eu não ia te perder,
mas não teria te conhecido.

MADÔ MARTINS
Santos/SP
in: Doce Destino
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PALAFITAS

A água insalubre te recolhe
quieta, falsa, e tu nem gritas.
Misturas tua alvura
com fezes, caranguejo e lama.

E dormes precocemente
segurando teu brinquedo,
deslizando sob as águas
debaixo das palafitas.

O sol se vem e se vai
e não te enxuga
no lençol de espumas.
És menos um, na partilha do pão!

TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
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SONETO ÉPICO

Lusíadas, Ilíadas, são lidas
por sílabas, por notas, pelo ouvido.
Livradas dos limites, seu sentido
transcende a narração de heróicas lidas.

Não lido com aquilo que tu lidas,
embora tantos livros tendo lido.
Em vez de mero Homero, tenho sido
a reencarnação de nulas vidas.

De heróico já me basta o metro antigo
que tu me deste em sonho, como forma,
e, assim, comprometido estou contigo.

Soneto, oitava, nona, nada é norma.
Mas a mediocridade do que digo
em saga da cegueira se transforma.

GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
in: Paulisséia Ilhada -
Sonetos Tópicos
_____________

CONCHA

Vejo-te pequena
óssea, cálcica,
alva.

Escondo-te na
palma da mão
atiro-te ao ar
jogo-te no chão.

E te observo
tão frágil
tão rígida
- frígida -
inerte
sem vida (será?).

E te pergunto
para aliviar meu
espanto:

"Como, sendo tão pequena,
podes em ti guardar
toda a imensidão d’um Mar?"

MARCELO LOPES
Guarujá/SP
_________

NOTICIÁRIO

Por trás da notícia,
o relato;
Por trás do relato,
o fato;
Por trás do fato,
o inquérito;
Por trás do inquérito,
a justiça;
Por trás da justiça,
a lei;
Por trás da lei,
um interesse;
Por trás do interesse,
um político;
Por trás do político,
um voto;
Por trás do voto,
um partido;
Por trás do partido,
um ideal;
Por trás do ideal,
um País;
Por trás do País,
uma história;
Por trás da história,
Um povo;
E por trás de tudo,
A mentira.
Sempre a mentira.
Mentira noves fora zero.

LEANDRO LUIZ RODRIGUES
Santos/SP
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SONHOS

Queria ter um mundo calmo
repleto de luzes e paz.
Rios com águas
cristalinas,
desaguando no mar.
Queria desvendar
os mistérios
que o firmamento
ocultou.
Conhecer de tudo
que a vida não
me contou.
Das tristezas
que me fizeram chorar,
com sorriso
nos lábios,
aprendi a perdoar.
Minha vida
são os versos
que componho.
Abro os olhos
por um momento
e tudo não
passou de
um sonho.

MARIO AZEVEDO ALEXANDRE
São Vicente/SP
in: Renascer de um Sonho
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JORNADA INTERIOR

Revisitar a adolescência
nas páginas do tempo
ilustrando
sensações
blue-jeans
flertes
aos poros abertos da manhã.

Trazer de volta
o bocejo de longas vidas
reprimidas a ferida
do amor
apenas murmurado.

Reviver
o recreio de vozes
irmanando mistérios
- ainda tão distantes -
fantasia
de atravessar corredores
e chegar a algum lugar.
E ainda não cheguei.
Pois hoje
me aprofundo
em incertezas
tempero meu ser
no fogo brando
dos bares sitiados.

Sem perceber
deixo a madrugada
visitar meu corpo
digerindo
traumas
e tropeços.
E quero assistir
ao milagre
da esperança ressuscitar
- sorrindo -
nas calçadas.

Vendo o rosto
do dia
me acenar
ao longe.

Mesmo que tarde.

RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: A Travessia dos Espelhos
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INSTRUÇÃO

Dentro do peito do vidro
um coração arde em febre.

No caso de combustão
siga-se a inscrição
do vidro e não quebre.

SERGIO ANTUNES
São Paulo/SP
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caminho por ruas acesas
entre gestos, passos, pressas
o apelo infantil das vitrines
desperta um febril perfume
sobre bancadas de vestidos
braços e mãos se acumulam
volteando feito borboletas
por cima da estamparia florida
no colorido alvoroço das vozes
ouço nomes repetidas vezes
vidas que desconheço se entretêm
se vangloriam de ausências
imagino aqueles rostos
e feito criança me apego ao que desconheço
tento esquecer-me entretantos começos

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
___________________

COLHEITA

À Eunice

Colho em mim
o que há de excesso em ti:
Pureza, beleza, tudo enfim.
Colho no ontem
o que restará no amanhã:
Poesia, vida, jardim.
E o catavento da história
colhe o ar que vem do sul:
Luz, blues, azul.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Expressões Impressas
____________________

INTUIÇÃO

Pressentimentos de algo, um alvo
para onde a liberdade de pensar
aponta.
Muitas vezes já visto,
e atingido,
nos círculos mais externos.
Correr como quiser, tentar o que quiser,
o alcance do futuro é amadurecer.

S. CAMPOS
Santos/SP
________

O ENIGMA DA LUZ

O sol banhando cada folha,
aquecendo o mundo.

O mundo frio, de uma
sociedade sem amanhã.

Uma eternidade antes e após.
No intervalo, a vida.

Vejo as criaturas humanas
rumando ao nada.

No entanto, prosseguem, lutam,
vivem, amam e tentam
fazerem-se amadas.

Como abelhas, trabalham,
constróem, fazem guerras, bombas,
morte e vida.

Somente Deus permanece imutável...
O Deus que não vêem
e do qual fazem parte.

Habitante de cada coração humano,
é a única fonte de paz.

Paz...

Uma estrela morre.
Um planeta morre.

Uma estrela nasce,
um novo mundo surge...
Do nada, do qual tudo faz parte.

Uma criança brinca sob o sol,
concretiza-se o enigma.

IRACEMA ANANIAS
Santos/SP
________

DICAS DE LEITURA

AGOSTINA SASAOKA:
www.gargantadaserpente.com

GLAUCO MATTOSO:
www.sites.uol.com.br-glaucomattoso

AMARALVIEIRA:
www.amaralvieira.com

RICARDO MAINIERI:
www.mainieri.blogspot.com

RICARDO ALFAYA:
www.nozarte.blig.ig.com.br

IRACEMA ANANIAS:
www.iracemananiaspoeta.spaces.msn.com

REVISTA POÉTICA:
www.revistapoetizando2.blogspot.com

SERGIO ANTUNES:
www.sergioantunes.art.br

SILVIO CAMPOS:
www.teiacultural.blogspot.com
_________________________

INFORMAÇÃO IMPORTANTE

Além das seções da revista POETIZANDO e dos novos poetas,
você poderá encontrar na revista impressa:
Frases, Prosa, Biografias, Crônica, Conto,
Estilos de Época e muita poesia...
UNIDADE: R$ 7,00
VIA CORREIO: R$ 9,00
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CONTATO:
walmordario@ig.com.br

NOTA:

No dia 20 de abril houve o lançamento do livro de poemas:

SONHARES

de Eunice Mendes

na Aliança Francesa de Santos

Eis aqui alguns poemas do livro:

***

tudo o que faço
já não parece meu
de mim se desprendeu
feito um laço

nó esgarço
pelo tempo
_________

não há nada
pior
do que nada

o nada
asila e alija
tudo
____

no lugar do outro
só existe o outro
e só
____

o mesmo gesto
diante do espelho
e sinto o cheiro
da água velva

então
presença e ausência
são a mesma pessoa
_______________

minhas saudades
enchem um poço de lágrimas

dentro dos meus olhos
já se pode ver o fundo
refletido de estrelas
pontilhado de escuros
_________________

meus meios
são sempre um fim
em si mesmos
___________

EUNICE MENDES

Nasceu em Santos/SP, no dia 14 de setembro de 1960,
filha de Jeanette Rodrigues Ferreira e Lourival Ferreira.
Formada em Jornalismo,
tem trabalhos nas áreas de Fotografia,
Artes Plásticas e Artesanato de Reciclagem.
Edita, com Walmor Colmenero,
a revista artesanal de divulgação literária POETIZANDO,
desde 2001. Edita também a folha poética A POETISA.
Tem poemas publicados em jornais, revistas,
fanzines, blogues e sites literários.
Integra o grupo poético ARTESANIA.
Membro da Sociedade dos Poetas Vivos (de Santos).
Livros: Flores e Frutos (2002), Sino dos Ventos (2002),
Lua na Janela (2002), Sonhares (2003),
Cerimônia das Flores (2003), Aurora Gris (2003),
Nuvens de Sol (2003), Espaços do Vazio (2003), todos de poesia.
_________________________________________________

OUTRAS PUBLICAÇÕES DO SELO ARTESANIA

LIVROS:

De Eunice Mendes:

Flores e Frutos
Valor: R$ 10,00
Sino dos Ventos
Lua na Janela
Espaços do Vazio

Valor: R$ 7,00 (cada)
Sonhares
Valor: R$ 15,00

De Walmor Dario Santos Colmenero:

Um Poeta na Rua
Memórias
Versos Vivos
Das...
O Homem Natural
A Mulher Natural
Poeminhas e Proverbinhos
Expressões Impressas
Bagagens de Ontens
Poemas Bluseiros
Tributo Vi
vo
A Multiplicação do Nada
Um Poeta na Itália
Um Poeta na Espanha
Lá Fora Adentro
Out-Real
Pedras no Chão
Qualquer Semelhança... Não é Mera Coincidência...

Valor: R$ 7,00 (cada)

FOLHAS POÉTICAS:

A Poetisa
- Modelo: A4, para xerocopiar e distribuir, edição trimestral.
Editora: Eunice Mendes
O Poeta
- Modelo: A4, para xerocopiar e distribuir, edição trimestral.
Editor: Walmor Colmenero

FANZINE:

Escritos
- Modelo: Oficio 9, 4 páginas, edição bimestral.
Editor: Walmor Colmenero
UNIDADE: R$ 1,00 + selo de R$ 00,1 (um centavo)
ASSINATURA ANUAL: R$ 10,00

CONTATOS: walmordario@ig.com.br