Revista Poetizando

14.12.08

POETIZANDO Nº 31
(Edição de Verão)



Quão glorioso
Nas folhas verdes, folhas tenras,
O brilho do sol !

Bashô
_______

AUTORES DO MÊS:

DEZEMBRO

GREGÓRIO DE MATOS E GUERRA, poeta brasileiro, nasceu em Salvador/BA a 20 de dezembro de 1636 e faleceu em Recife/PE no ano de 1696. Foi apelidado de "Boca do Inferno", por ser crítico e mordaz. Em 1650, aos 14 anos, embarca para Lisboa, dois anos depois matricula-se em Coimbra, formando-se em 1662. Foi nomeado juiz de fora no Alentejo. De volta para Bahia é nomeado procurador junto à corte portuguesa. Torna-se viúvo e casa-se pela segunda vez com Maria dos Povos. Preso, é deportado para Angola, vindo a falecer dois anos depois em Recife/PE.
Algumas Obras: Gregório de Matos não publicou livros em vida; o que se conhece são trabalhos esparsos.

BUSCANDO A CRISTO

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós cabeça baixa, pra chamar-me.

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

GREGÓRIO DE MATOS
in: Obras de Gregório de Matos
_______________________

JANEIRO

OSSIP EMILIEVITCH MANDELSTAM, poeta soviético, nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1892 e faleceu em um campo de concentração na Sibéria, com data indefinida entre 1938 e 1942. Foi um dos representantes principais da escola neoclássica russa denominada Acmeísmo, que simbolizava a união do neoclassicismo, simbolismo e realismo. Seus versos tinham um toque de mistério e uma visão singular, sofrendo influência dos simbolistas franceses, Baudelaire e Verlaine. Seus textos foram conceituados herméticos, tanto em poesia quanto em prosa, sendo que após a revolução, sua vida caracterizou-se pela separação dos agrupamentos literários. Foi preso e posteriormente faleceu em um campo de concentração na Sibéria. Grande parte de sua obra só foi salva graças à dedicação extrema de sua mulher, Nadejda Mandelstam. Algumas Obras: A Pedra (1913), Tercetos (1922), O Ruído do Tempo (1925), Poesia (1928), O Selo do Egito (1928), Conversa sobre Dante (1930).

A CONCHA

Talvez te seja inútil minha vida,
Noite; fora do golfo universal,
Como concha sem pérola, perdida,
Me arremessaste no teu areal.

Moves as ondas, como indiferente,
E cantas sem cessar tua melodia.
Mas hás de amar um dia, finalmente,
A mentira da concha sem valia.

Jazer só a seu lado pela areia
E pouco faltar para que a escondas
Nessa casula onde ela se encandeia
à sonora campânula das ondas,

E as paredes da frágil concha, pouco
a pouco, se encherão do eco da espuma,
Tal como a casa de um coração oco,
Cheio de vento, de chuva e de bruma...

(1911)
_____________________________

FEVEREIRO

HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO, escritor brasileiro, nasceu em Caxias/MA a 21 de fevereiro de 1864 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ a 28 de novembro de 1934. Colaborou com a imprensa carioca e pertenceu à boêmia literária com outros escritores. Foi professor de literatura e de teatro, jornalista e deputado federal, sendo considerado um dos maiores escritores do Brasil. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 2, chegando a ser candidato ao prêmio Nobel (1932). Deixou obra extensa e variada, sendo influenciado pelo Realismo e Parnasianismo. Seus textos são de riqueza formal, romântica, regionalista, tipos e costumes nacionais.
Algumas Obras: A Capital Federal (1893), Miragem (1895), Sertão (1896), Inverno em Flor (1897), O Morto (1898), Seara de Rute (1898), A Conquista (1899), A Tormenta (1901).

SER MÃE

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada.
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!
_____________________________

CANÇÃO

Do espanhol: Canción , séc. XIII ; Cancionero , séc. XV.
Do português: Cancioneiro , séc. XVI.
Do italiano: Canzione , séc. XIII.
Do francês: Chanson , séc. XIII.

Os termos espanhóis, italianos e franceses, são derivados do latim Cantio, Ônis "Canção" ou "Cantar". Poesia cantada geralmente composta em versos redondilhos, de estrófes variáveis, hoje vivendo na cultura popular.

CANÇÃO DA PARTIDA

Ao meu coração um peso de ferro
Eu hei de prender na volta do mar.
Ao meu coração um peso de ferro. . . Lançá-lo ao mar.
Quem vai embarcar, que vai degredado,

As penas do amor não queira levar. . .
Marujos, erguei o cofre pesado, Lançai-o ao mar.
E hei de mercar um fecho de prata.
O meu coração é o cofre selado.

A sete chaves: tem dentro uma carta. . .
A última, de antes do teu noivado.
A sete chaves, a carta encantada!

E um lenço bordado. . . Esse hei de o levar,
Que é para o molhar na água salgada
No dia em que enfim deixar de chorar.

CAMILO PESSANHA
in: Clepsidra
__________________


LETRAS

ÚLTIMO DESEJO

Nosso amor que eu não esqueço
e que teve o seu começo
numa festa de São João
morre hoje sem foguete
sem retrato e sem bilhete...
sem luar... sem violão.
Perto de você me calo
tudo penso e nada falo...
tenho medo de chorar.
Nunca mais quero o seu beijo
pois meu último desejo
você não pode negar.

Se alguma pessoa amiga
pedir que você lhe diga
se você me quer ou não
diga que você me adora
que você lamenta e chora
a nossa separação.
Às pessoas que eu detesto
diga sempre que eu não presto
que meu lar é um botequim
que eu arruinei sua vida
que eu não mereço a comida
que você pagou pra mim.

NOEL ROSA
____________

HERMANOS

ROMANCE SONÁMBULO (Fragmentos)
.

Verde que te quiero verde.
Verde viento, Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
Ella sueña en su baranda,
Verde carne, pelo verde,
Con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
Las cosas la están mirando
Y ella no puede mirarlas.

(...)

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre!¿Dónde está, dime
dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuantas veces te esperara,
Verde carne, pelo verde,
Con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
La sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
Como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento, Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

FEDERICO GARCÍA LORCA
in: Romancero Gitano
______________________


MULHER

SEU NOME

Seu nome! em repeti-lo a planta, a erva,
A fonte, a solidão, o mar, a brisa
Meu peito se extasia!
Seu nome é meu alento, é-me deleite;
Seu nome, se o repito, é dúlia nota
De infinda melodia.

Seu nome! vejo-o escrito em letras d'ouro
No azul sideral à noite quando
Medito à beira-mar:
E sobre as mansas águas debruçada,
Melancólica, e bela eu vejo a lua,
Na praia a se mirar.

Seu nome! é minha glória, é meu porvir,
Minha esperança, e ambição é ele,
Meu sonho, meu amor!
Seu nome afina as cordas de minh'harpa,
Exalta a minha mente, e a embriaga
De poético odor.

Seu nome! embora vague esta minha alma
Em páramos desertos, – ou medite
Em bronca solidão:
Seu nome é minha idéia – em vão tentara
Roubar-mo alguém do peito – em vão – repito,
Seu nome é meu condão.

Quando baixar benéfico a meu leito,
Esse anjo de Deus, pálido, e triste
Amigo derradeiro.
No seu último arcar, no extremo alento,
Há de seu nome pronunciar meus lábios,
Seu nome todo inteiro!...

MARIA FIRMINA DOS REIS
(1825 - 1917)
in: Contos à beira mar, 1871
São Luís do Maranhão, Brasil
______________________

POETAS PORTUGUESES

AUTOBIOGRAFIA (fragmentos)

Entre faixas de pobreza
Meus tristes pais me envolveram;
Desde então, em crua empresa
Contra mim as mãos se deram
A fortuna e a natureza.

(...)

Depois que plano caminho
Já meu pé trilhando vai,
Pobre alfaiate vizinho
De um capote de meu pai
Me engendrou um capotinho.

(...)

Entre medos e violência
Entrar no latim já posso,
E jurei obediência
A um clérigo, que é um poço
De tabaco e de ciência.

(...)

Enquanto a minha alma emprego
Nestas cansadas doutrinas,
À dourada idade chego
De ir ver as vastas campinas
Que banha o claro Mondego.

(...)

Minha dor me faz falar,
Fiz queixas assaz compridas;
Dignai-vos de desculpar
Que mostra o enfermo as feridas
A quem lhas pode sarar.

NICOLAU TOLENTINO

Nicolau Tolentino de Almeida, nasceu em Lisboa a 10 de setembro de 1740 e faleceu na mesma cidade a 23 de junho de 1811. Sua poesia é constituída de sonetos, odes, memoriais e sátiras em Obras Póstumas (3 vol.).
___________________



ERÓTICA

DESEJO(S)

que
a minha
língua
lamba
os teus
lábios
lívidos
lânguidos.

Que
os meus
dedos
percorram
a tua
pele
perversa
arrepiada.

Que
o meu
sexo
roce
no teu
e os
cheiros se
confundam.

Que
todos os
secretos
desejos
se afundem
profundos
mágicos
e eternos.

FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
________________


ORIENTE

LIVRO DE CANTARES DA CHINA

No século VII a. C, surgiu na China a primeira coletânea de poemas Livros de Cantares, incluindo poemas satíricos, poemas de amor, odes, cantigas populares etc. O Livro reúne 305 poemas feitos durante cerca de 500 anos a partir do início da dinastia Zhou do Oeste (século 11 a. C) aos meados do período da Primavera e Outono (século 7 a. C).

Dividia-se em três partes:

Feng - que abrange 160 cantigas populares que se transmitiam em 15 principados.
Ya – com 105 obras poéticas e musicais que circulavam nas proximidades da capital da dinastia Zhou.
Song - com 40 odes às divindades, tocadas nos rituais.

Os versos do Livro de Cantares são principalmente compostos por cinco, seis, sete ou oito sílabas. A mais importante parte do Livro é a Feng. Os poemas populares retratam cenas do cotidiano, amor e desejo da população comum, assim como sua indignação pela injustiça social.

Os autores dos poemas do Livro de Cantares são bem variados – desde os mais humildes trabalhadores da sociedade até os letrados e nobres. Eles incluem uma série de poemas escritos por autores anônimos. As obras do Livro eram originalmente cantadas ou recitadas nos rituais e, posteriormente, foram assimilados pela nobreza.

Em geral, o Livro de Cantares representa um ponto de partida da literatura chinesa e proporciona dados sobre todos os aspectos da vida da época, inclusive, produção, amor, guerra, costumes e hábitos, ritos, fenômenos astrológicos, geografia etc. Eles também servem como um bom material para os estudos sobre a língua chinesa entre os séculos 11 e o século 6 a. C.
_______________________

LENDAS INDÍGENAS

IARA

Iara significa mãe-d'água, senhora d'água, de "í" água e "ara" senhora.
A pronúncia do "ig" do "i" tem feito com que de diferentes formas se tenha escrito essa palavra; assim temos ioara, gauara, oioara, etc.
Iara, a jovem Tupi, era a mais formosa mulher das tribos que habitavam ao longo do rio Amazonas. Por sua doçura, todos os animais e as plantas a amavam. Mantinha-se, entretanto, indiferente aos muitos admiradores da tribo.
Numa tarde de verão, mesmo após o Sol se pôr, Iara permanecia no banho, quando foi surpreendida por um grupo de homens estranhos. Sem condições de fugir, a jovem foi agarrada e amordaçada. Acabou por desmaiar, sendo, mesmo assim, violentada e atirada ao rio.
O espírito das águas transformou o corpo de Iara num ser duplo. Continuaria humana da cintura para cima, tornando-se peixe no restante.
Iara passou a ser uma sereia, cujo canto atrai os homens de maneira irresistível. Ao verem a linda criatura, eles se aproximam dela, que os abraça e os arrasta às profundezas, de onde nunca mais voltarão.
____________
FOLK-LORE

ADIVINHAS:

Perguntas ou declarações de forma obscura, que devem ser contestadas ou explicadas.

Exemplos:

O que é o que é, que quando entra em casa fica do lado de fora?
Botão

São sete irmãos, cinco tem sobrenome e dois não. . .
Dias da Semana

Com L vive no céu
Lua

Com N pouco se vê. . .
Nua

Com R é de todo mundo
Rua

E com S é de você. . .
Sua

Me diga se for capaz
Me diga quem é aquele
Que num instante se quebra
Se alguém diz o nome?
Segredo

Com P é feito de trigo
Pão

Com M é parte da gente
Mão

Com S é muito saudável
São

Com C é muito valente
Cão
_________________

NOVOS

SOLIDARIEDADE

FALAR COM AS PEDRAS
NÃO É FALAR AO VENTO

A PEDRA SEMPRE FOI DEPOSITÁRIA FIEL
É TEMPERAMENTO

ELA NÃO PERMITE QUE TUA PALAVRA
FIQUE PERDIDA NO ABISMO DO TEMPO

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
_________________

POEMA OBLÍQUO

Há uma porta
na quina oblíqua
de uma esquina
enigma sem quina
de um silêncio reto.
Há uma porta
na quina de uma loja oblíqua
de uma esquina torta
no olhar de um manequim.
Há uma porta
na esquina do silêncio
sem contramão de tempo
oblíquo enigma
do manequim à espreita
de alma figura
tão humana de gesso.
Há uma porta
atravessei-a reto
de alma torta
E vi DEUS quando dobrava a esquina
na quina de um enigma
silêncio oblíquo.

LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Eminércia
____________

SEPULCRO

Nuances da morte
no olho da vida
Quixote sem norte
delírio sem ida

Palmilham porosos
os sonhos guardados
no cerne dos ossos
com lacres vencidos

Passado sequeiro
Presente jibóia
Futuro espinheiro
num mar sem bóia

Amor selado
nos traumas do não
corpo ilhado
ausência do pão

Retratos seqüências
de sol ou de pó
Nos atos ausências
dos laços sem nó

A lua é minguante
no tédio do outono
a hora é purgante
na cova sem dono

TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
__________

COMIGO

Bato à porta
e abro para mim mesmo.
Deixo-me entrar.

Reconheço o espaço.
Cortinas esvoaçantes,
janelas sempre abertas
- convite para olhar.

O lado de fora
volta a me chamar.
Eu, sentada à soleira da porta
e a vida a passar.

Em mim, do impossível,
a concretização
- sendo semente,
também sou terra
aberta pra receber o grão.

Sou feliz.
Ouso dizer.
Não posso ignorar
esta chama de amor
em que me deixo queimar.

REGINA ALONSO
Santos/SP
__________

SONETO QUINHENTISTA

Na época que faz descobrimento
criticam-se os lugares onde a gente
não tinha perspectiva, e um mundo ausente
projeta-se, ideal, no pensamento.

Erasmus, no "Elogio", teve intento
de ver loucura em toda a humana mente,
e Morus, na "Utopia", vai à frente,
colocar o louco lá, em seu elemento.

Pasárgada, Aruanda, Shangri-lá.
Oásis, Eldorado, Canaã.
É um ser errante, aonde quer que vá.

Já viu que a fuga é sempre busca vã,
mas, cego, quer fugir donde hoje está,
no afã de ver, alhures, amanhã.

GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
in: Paulisséia Ilhada – Sonetos Tópicos
______________________________

HAICAIS

Periquito cisca
na gaiola musical
- a sorte no bico
*
Da casa do avô
transformada em prédio alto
só resta o chorão
*
Estremece a moita.
Um filhote de pardal
em aula de vôo

MADÔ MARTINS
Santos/SP
____________

O QUADRO

Para Maria Amélia Curvello

O quadro no escuro
olha
para dentro de si mesmo.

Propõe imagens
para o incriado
e a cor que busca
é justo aquela
que não existe
(nem todas as cores
são possíveis).

Traço a traço
o quadro
redesenha-se.
A escuridão
lhe é propícia
ao sacrilégio
de ser quem é
.: um outro quadro
por si pintado.

A cara nova
já não se engaja
nos tantos "ismos"
feitos somente
para enquadrar
os quadros
versos
até pessoas
o pobre mundo.

Na luz, o quadro
é como todos
: mero quadrado.

SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
in: Caverna dos Signos
__________________

HAICAIS

Primavera plena!
Pelos muros dos jardins,
As flores transbordam.

*

No quintal ao lado
Grudadinhas nos galhos
Flores de maçãs.

*

Noite misteriosa -
Do infinito desprende-se
A estrela cadente.

MARLY BARDUCO PALMA
São Vicente/SP
in: 7ª Antologia -
Grêmio de Haicai
Caminho das Águas
________________

ANTÍGONA

O carinho que tenho por ti,
Por teus cabelos longos,
Não me arrebata nem encanta:
Antes, me preenche.
Por teus olhos que se escondem,
Mãos que crispam-se ao vento,
Meu coração se completa.
Teu nome me vem à boca,
E uma Lua se escancara
À menção que se insinua.
Te busco pelos arquivos
Onde tudo está vazio:
Falta-me rever teus dedos.
Em tudo que é te apresentas,
Em tudo que falta te ausentas.

Mas não afugento o carinho,
Nem o terno amor que te devo.
Conforta-me saber que és,
Que existes, que habitas
E anulas o vácuo que havia.
Na curvatura dos cílios,
Nas arcadas das memórias,
Na profundeza dos versos
Que moram dentro da alma.
A ternura que eu sinto
E que por ti cultivo
A cada dia me basta.

Lembrar é como uma infância
Passada à beira da praia
na liberdade dos ventos.
O gosto quente das brisas
É como fechar os olhos
E ver-te rindo um segundo.
Não sabes, é certo, dos versos
Que fizemos em silêncio.
Do beijo que não tivemos,
Do abraço que não trocamos,
É feita a história mais viva.
Meu afeto permanece.
Em algum lugar permanece.

Na escuridão permanente da noite
Exercito o esquecer-te.
Quem te devolve é o dia
Com seu movimento lento
Do poema que encenaste.
Antígona, desperta agora,
Onde quer que horizontes
Teu corpo branco de música.
Passaramente beijo os olhos que não vejo.

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
_________________

uma pessoa comum sentada num café sou eu
cadeiras na calçada, cabelos ao vento e ao sol
pensamentos livres feito nuvens pelo céu
passos sem pressa, palavras perdidas
histórias entrecortadas, vestígios de vidas
tudo perfeito e bem arrumado
as árvores, o vento, as flores nos vasos
tua espera, tua ausência, tua presença ao sol
nada mais querer senão amar
pois foi assim que tudo começou
como em qualquer outro lugar
à margem sombria destas árvores ao sol

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
___________________

ESPERANÇA

A Luiz Antônio Martins Pimenta

Quando nasce a esperança
o irreal vira real,
os pensamentos tornam-se eternos,
os amores tão modernos,
o mundo colossal.
O meu desejo fica mais forte
ao rever teu coração,
o capitão leva seu barco rumo ao norte
e eu morrendo de paixão.

Quando nasce a esperança
o velho fica mais novo,
o poema é escrito mais sentido,
a fé é dividida com o povo,
o romance é escrito e lido.
Os meus olhos ficam mais brilhantes,
as luzes brilham mais ao léu,
a vida não é mais de antes,
nem o poema no papel.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Tributo Vivo
_______________

JOGO CEGO

Balançando-se, a velhinha
se debruça
sobre a tela.
No chão, o novelo
espera.
O tecido retesado
nos bastidores.
A linha pendendo
frouxa
na espera.
Não sabe o tecido a mão
que de pontos pontos pontos
o estrela.
A linha não advinha
que quadro pinta. Se
desenovela.

ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/DF
in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
Instituto Nacional do Livro
____________________

LUZ E TREVAS

As nebulosas são oficinas de mundos
e por isso vivem prenhes de estrelas.

Algumas se desprendem,
e saem girando feito doidas,
como frutos maduros
soltos de árvores pejadas e fantásticas.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Para que tanta luz,
se a humanidade quer viver nas trevas?

ANDERSON DE ARAÚJO HORTA
(1906 – 1985)
Brasília/DF
in: Invenção do Espanto
Edições Galo Branco
_________________

ALDEBARÃ

O amor me inventou no novo tempo;
sou corpo de estrelas e poeira de luar.
Vim para ficar.
O sol da manhã inaugurou minha jornada:
estou no mar derramado
nas franjas de espuma esparramadas na areia
na claridade fecunda e feliz da lua cheia.
Estou no ar, no vento, na leve aragem
na força invisível da fé e da coragem.
Estou na boca farta de versos do poema
que o poeta dedicou à alma gêmea.
Estou nas águas ancestrais dos rios
que correm para dentro
nas árvores tão altas
que me fazem enxergar seu centro.
Estou na canção enternecida dos amantes
nas brumas de um passado tão distante
na luz clara e promissora do amanhã
que brilha como a alfa aldebarã.

NEIVA PAVESI
Santos/SP
__________

RIO DO SONO

Rio, por quanto tempo mais?
Donizete Galvão

Rio que lav(r)a-me:
túmulo de anzóis
no meio da corrente
com suas placentas gigantes
fazendo nascer em mim
um mar de oferendas.

No ovário desse leito
dorme entre areias exaustas
o menino-náufrago
que um dia foi devorado
por cardumes de sonhos.

O chão sob essas águas
me afaga
(ou me afoga)
entre mercúrio, bauxita e miasmas,

mas a superfície trêmula
apre(e)nde no meu silêncio
as lições de se perder nos oceanos.

Os rios de mim me levam
mas não limpam
a rugosa poeira dos meus anos.

RONALDO CAGIANO
São Paulo/SP
____________

AÇÃO E REAÇÃO

Sem mágoa, dei trégua
e com a régua medi léguas
de versos ternos e eternos,
com traços de laços e lanças.
Com a lente vi mente de gente
que fecha com flecha
os recursos e cursos da vida.
E na revista com vista
da cidade, a verdade e a idade
da razão, da ação e reação,
tive a impressão que a pressão
da dança, balança
o universo de versos dispersos.
Era segredo o meu medo.
Deletei.

DEISE DOMINGUES GIANNINI
São Vicente/SP
_____________

DIVISÃO

Exilei a normalidade
em crepúsculos
distantes.

Dividi dias
mofados
em compassos
sem harmonia.

Estacionei
minha segurança
em algum bar desta cidade.

Não desanimei.

Abri os braços
saudando a primavera.
que murmurava
flores & luz
impregnando os caminhos.

RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: www.mainieri.blogspot.com
_______________________

Se vem hoje a dor
Escondo a lua nas nuvens
Ninguém mais a vê

*

Se o amor vier
A lua vai nos banhar
De prata e azul

*

Se o amor não vier
Nem todas as luas cheias
Me farão feliz

*

A lua redonda
Inebria corações
Ficamos tão tontas...

*

Suave é a noite
Raios da lua tão branca
Clareiam espíritos

NEUSA MARIA CONFORTI SLEIMAN
Santos/SP
_________

TROVAS

O que sinto e é verdade
ninguém poderá supor. . .
lá fora, digo amizade,
cá dentro, ressoa amor!

*

Por não mais poder criar,
Deus arrematou seu plano,
pondo o amor para ocupar
o melhor do ser humano.

*

A espera é confiança
de que vem o desejado. . .
Quem sabe ter esperança
pode ter o que é sonhado.

FERNANDO VASCONCELOS
Ponta Grossa/PR
in: Branduras
___________

pandorga
homem sonha
menino acorda

DINOVALDO GILIOLI
Florianópolis/SC
______________

SAUDADE DO POETA

Odeio o estrelismo deslumbrado
de lânguidas madames
poetando
esparramadas no sofá.

Odeio o estrelismo deslumbrado
dos saraus intermináveis
e de platéias surdas.

Odeio o estrelismo deslumbrado
de apogeus repetitivos
regados a bacardis e anis.

Odeio o estrelismo deslumbrado
do poeta que explode
num choro convulsivo
um poema de Camões.

Trago em mim a saudade do poeta
que arrancava do peito
o sentimento esfarrapado,
plantando versos na alma
como quem planta flores.

DALVA DE ARAÚJO
Santos/SP

INFORMAÇÃO IMPORTANTE

Além das seções da revista POETIZANDO
e dos novos poetas,
você poderá encontrar na revista impressa:
Frases, Prosa, Biografias, Crônica, Conto, Estilos de Época
e muita poesia...

UNIDADE: R$ 8,00
VIA CORREIO: R$ 10,00
ASSINATURA ANUAL: R$ 35,00
CONTATO: walmordario@ig.com.br
___________________________

OUTRAS PUBLICAÇÕES DO SELO ARTESANIA

LIVROS:

De Eunice Mendes:

* Cerimônia das Flores
* Flores e Frutos
* Sonhares
* Aurora Gris

Valor: R$ 15,00 (cada)

* Sino dos Ventos
* Lua na Janela
* Espaços do Vazio

Valor: R$ 5,00 (cada)

* Nuvens de Sol

Valor: R$ 10,00

****************

De Walmor Dario Santos Colmenero:

* Um Poeta na Rua
* Memórias
* Versos Vivos
* Das...
* O Homem Natural
* A Mulher Natural
* Poeminhas
* Proverbinhos
* Expressões Impressas
* Bagagens de Ontens
* Poemas Bluseiros
* Tributo Vivo
* A Multiplicação do Nada
* Um Poeta na Itália
* Um Poeta na Espanha
* Lá Fora Adentro
* Out-Real
* Pedras no Chão
* Qualquer Semelhança... Não é Mera Coincidência...

Valor: R$ 5,00 (cada)
_________________

FOLHAS POÉTICAS:

A Poetisa

- Modelo: A4,
para xerocopiar e distribuir,
edição trimestral.
Editora: Eunice Mendes

O Poeta

- Modelo: A4,
para xerocopiar e distribuir,
edição trimestral.
Editor: Walmor Dario Santos Colmenero
___________

FANZINES:

Árvore Azul (7 edições)
Editora: Eunice Mendes

Escritos

- Modelo: Oficio 9, 4 páginas,
edição bimestral.
Editor: Walmor Dario Santos Colmenero
Blog: http://www.fanzineescritos.blogspot.com/
UNIDADE: R$ 2,00
ASSINATURA ANUAL: R$ 10,00
CONTATOS: walmordario@ig.com.br
_____________________________