(Edição de Primavera)
Já é primavera -
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.
Bashô
*
Dia de primavera -
Os pardais no jardim
Tomam banho de areia.
Onitsura
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AUTORES DO MÊS
FRANCISCO DE QUEVEDO Y VILLEGAS, poeta e prosador espanhol, nasceu em Madrid a 17 de setembro de 1580 e faleceu em Villanueva de los Infantes a 8 de setembro de 1645. Poeta lírico profundo e satírico. Deixou vasta produção poética. Também extensa e diversificada é sua obra em prosa. Escreveu numerosos textos políticos. Algumas Obras: Os Sonhos, História da Vida do Buscón, chamado don Pablos, exemplo de vagabundos e espelho de velhacos.
AMOR A MENTE OCUPA-ME E OS SENTIDOS
Amor a mente ocupa-me e os sentidos;
absorto estou em êxtase amoroso;
não me concede trégua nem repouso
esta guerra civil entre os nascidos.
Espraiou-se o caudal de meus gemidos
pelo grande distrito e doloroso
do coração, em seu penar ditoso,
e afogou-me as memórias em olvidos.
Todo hoje sou destroços, ruinaria,
escândalo fatal para os amantes,
que fazem do penar sua alegria.
Os que hão de ser, como os que foram antes,
estudem seu vigor nesta agonia,
e invejem minha dor, se são constantes.
Tradução: Anderson Braga Horta
in: Traduzir Poesia
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MARQUESA d’ALORNA, poetisa portuguesa, pseudônimo usado por D. Leonor de Almeida e Lencastre, nasceu a 31 de outubro de 1750 em Lisboa, onde faleceu a 11 de outubro de 1839. Até os 18 anos viveu em convento, por determinação do marquês de Pombal, enquanto o seu pai cumpria pena. Na clausura estudou ciências naturais, filosofia, literatura, latim e francês. Tradutora e introdutora em Portugal dos poetas românticos ingleses e alemães. Seu outro pseudônimo era Alcipe. Foi considerada "perigosa" pela polícia. Seu estilo é neoclássico/pré-romântico. Exprime as "almas sensíveis", a melancolia e a liberdade.
Obra: Obras Completas (1844 – 6 volumes)
O PIRILAMPO E O SAPO
Lustroso um astro volante
Rompera as humildes relvas:
Com seu vôo rutilante
Alegrava a noite as selvas.
Mas de vizinho terreno
Saiu de uma cova um sapo,
E despediu-lhe um sopapo
Que o ensopou em veneno.
Ao morrer exclama o triste:
- Que tens tu de que me acuses?
Que crime em meu seio existe?
Respondeu-lhe: - Porque luzes?
in: Obras Completas
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VOLTAIRE, pseudônimo usado por Francois-Marie Arouet, escritor francês, nasceu em Paris a 21 de novembro de 1694 e faleceu na mesma cidade a 30 de maio de 1778. Filho de família burguesa, estudou em Paris e freqüentou a Société du Temple, de libertinos e livres pensadores. Foi preso por insulto e só foi solto na condição de exilar-se. Na Inglaterra, participou das idéias do Iluminismo. Em 1744 retorna à Paris e em 1746 foi eleito para academia sendo introduzido na corte por Madame de Pompadour. Possuía grandes negócios financeiros, comprando em 1758 um castelo e fazenda perto de Genebra, instalando uma fábrica de tecidos e fabricação de relógios. Tornou-se rico, aproveitando para protestar contra a intolerância religiosa. Foi considerado o homem mais influente do séc. XVIII, fazendo poesia, prosa, teatro, historiografia e política. Algumas obras: Édipo (1718), Henriade (1728).
FRASES
* Deus me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu.
* Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.
* Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano.
* Escrevo-vos uma longa carta porque não tenho tempo de a escrever breve.
* O estudo da metafísica consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá.
* Os infinitamente pequenos têm um orgulho infinitamente grande.
* Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.
* Um mérito inegável da poesia: ela diz mais e em menor número de palavras que a prosa.
* Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males.
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Literariamente falando,
refere-se a composição poética com característica noturna,
com tema específico
ou que retrata situação em que o escuro ou a treva,
tem conotação principal.
Vários autores compuseram noturnos entre eles:
Antero de Quental
NOTURNO
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes o meu tormento...
Como um canto longínquo - triste e lento -
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da noite, e mais ninguém!
ANTERO DE QUENTAL
in: Odes Modernas
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PIERRÔ APAIXONADO
Um Pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma Colombina,
Acabou chorando, acabou chorando.
Bebeu... bebeu... saiu assim... assim...
Dizendo: - Pierrô cacete, vai tomar sorvete
Com o Arlequim
Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o Pierrô aconteceu assim...
Levando este grande shoot
Foi tomar vermuth
Com amendoim!
NOEL ROSA
HERMANOS
CON LA PRIMAVERA
Con la primavera
Viene la canción,
La tristeza dulce
Y el galante amor.
Con la primavera
Viene una ansiedad
De pájaro preso
Que quiere volar.
No hay cetro más noble
Que el de padecer:
Sólo un rey existe:
El muerto es el rey.
JOSÉ MARTÍ
Poeta cubano
(1853 – 1895)
in: Poemas del Alma
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A LARANJEIRA
Perfumada laranjeira,
Linda assim dessa maneira,
Sorrindo à luz do arrebol,
Toda em flores, branca toda
- Parece a noiva do Sol
Preparada para a boda.
E esposa do Sol, que a adora,
Com que cuidados divinos
Curva ela os ramos, agora!
E entre as folhas abrigados,
Seus filhos, frutos dourados,
Parecem sóis pequeninos.
JÚLIA LOPES DE ALMEIDA
Algumas Obras: A Família Medeiros (1911), Ânsia Eterna (1903).
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BEIJO ETERNO
Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!
...
Diz tua boca: "Vem!"
Inda mais! diz a minha, a soluçar... Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!
Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
OLAVO BILAC
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ORIENTE
MENSAGEM TAOÍSTA
Dizem que um rio, por maior que seja, treme de medo antes de cair no oceano. Ele olha pra traz, para os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas e povoados, para todas as velhas e conhecidas jornadas. . . e depois vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre e esquecer o que se foi. Mas, não há outra maneira. . . o rio não pode voltar. É impossível voltar na existência, você pode ir apenas para a frente. O rio precisa ousar e entrar no oceano. E somente quando ele entra é que o medo some. Porque só então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano. Por um lado é desaparecer e por outro, renascer.
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PoetaS PortugueseS
285
O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.
1/10/1917
ALBERTO CAEIRO
in: Poemas Completos de Alberto Caeiro
ALBERTO CAEIRO, heterônimo de Fernando Pessoa, que segundo o próprio Fernando "poeta bucólico do gênero complicado, senti que havia nascido em mim o meu mestre." Foi o primeiro a nascer, é poeta das sensações puras, naturalista e cético, hostil às regras métricas e ao "vício de pensar." Obra: O Guardador de Rebanhos.
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NOVOS
LEILÃO
Vendem-se os óculos de Gandhi.
Compra-se água de Theri. Da Suez,
Água do Ganges. Brahma chopp.
Marcha do sal. Pré-sal. (Vendido!)
Vende-se o relógio de Gandhi.
Big Ben. Big Bang.
Caminho das Índias. Quit Índia.
Independência ou morte.
Compra-se amor.
Paz e amor. Guerra e paz.
Yoga sutra. Kama sutra.
Give peace a chance (Vendido!).
Compra-se a independência.
Jejum de lucros. Call centers. Tata.
Quem quer ser um milionário?
The Oscar goes to Gandhi.
Vende-se a sandália do Mahatma.
Filhos de Gandhi. Cordão de isolamento.
Sistema de castas. Apartheid.
Camiseta de Che Guevara.
Compram-se os óculos de Gandhi
O lance mínimo é de $20.000.
Satiagraha. Bomba atômica.
A liberdade de lucros e os lucros da liberdade.
A liberdade...
LEANDRO LUIZ RODRIGUES
Santos/SP
in: www.mandandobrasa.blogspot.com
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A MÃO DO PAI
Eis que o menino admira ter na sua
a mão do pai, menos porque onde arrua
desenreda-se uma inteira Odisséia
do que por ser potro testando a rédea.
Também porque aquela mão, quando avulsa,
para outro menino os olhos assesta,
o menino que foi o pai e nele avulta
ao surpreender no mínimo suas festas.
De um tapume sozinho com suas nódoas,
da venda onde a fome se pesa à parte,
de um que se pendura de alegria e trastes
e outro cuja fala pijama as horas,
desses o pai sabe a fábula e glosa,
como de posse do olho de Balzac
tudo pudesse demudar em prosa
para adiar a morte daquela tarde.
FERNANDO FÁBIO FIORESE FURTADO
Juiz de Fora/MG
in: Um Dia, O Trem
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de lírio
em lírio
delírios
DINOVALDO GILIOLI
Florianópolis/SC
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EXÍLIOS
A cidade se perde em seus próprios labirintos:
pelas serpentes de pedra e asfalto
corre pressuroso um rio de animais metálicos.
Não há mais lugar para os homens.
anônimos, como areia na ampulheta,
vamos caindo, atarefados,
em busca da outra margem:
a utopia.
A metrópole, como um ventre,
espera o desconhecido
e na sua imensa solidão geométrica
nascem catedrais de ausências.
O tempo, essa matéria difusa
me leva a mundos que eu sonhei um dia:
De Cataguases a Isfahan
de Brasília a Pasárgada,
quanto de mim vai ficando nos caminhos.
Quando contemplo
as montanhas nevadas de Teerã
desejo. como um pássaro,
ser vento e geografia.
RONALDO CAGIANO
São Paulo/SP
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AZUL
A infância é o fundo da memória.
Por isto é azul.
Este azul: flor de pétalas agudas
gravada a ferro-e-fogo sentimento.
Por isto não se apaga.
Esta presença:
projeção de raiz no tempo móvel.
Por isto às vezes dói como uma ausência.
ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/SF
in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
Instituto Nacional do Livro
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e sinto perto
o mais ausente
sempre o indizível
neste modo mudo que se alarga
inundando feito mar
que não cabe
em lugar algum
senão dentro
e para onde vou
de olhos fechados
buscar
meus pássaros neste escuro
EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
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SONHO
Deoclécio comia feijão na mesa posta do dia a dia. Deoclécio continuava comendo feijão na mesa posta do dia a dia. O feijão. . . e o sonho?
WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Minicontos
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LIÇÕES DE CASA
- Minha tia, o que é milagre?
É o casamento do mistério
com a maravilha
a pérola que o alho é
a lua que faz a maré
perfume que sai da flor
ave no céu formiga no chão
criança que cai e não chora não
todo ovo que galinha bota
galo que ao sol se coloca
para em sol cantar
estrela que orienta
ar que deixa respirar
DOMINGOS PELLEGRINI
Londrina/PR
in: O Tempero do Tempo
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DESPOJAMENTO
Não quero guardar relógios
ainda que à prova d’água,
preciso, apenas, do tempo,
mesmo que exposto à mágoas.
Não quero ter o cavalo,
ainda que todo branco,
quero, apenas, o galope,
mesmo manco.
Não finco estacas na lua,
nem quero a posse da estrela,
preciso, apenas, da luz
mesmo que de vela.
Não tenho bolso,
não guardo resto,
de tanta mão
só fica o gesto.
SERGIO ANTUNES
São Paulo/SP
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REFLEXOS
Não, você não me ama.
Apenas ama dentro de você
o reflexo que tem de mim.
Não ama a minha presença,
ama a minha companhia.
Você ama o meu sorriso,
não a minha alegria.
Os meus olhos,
nunca o que vejo.
Você em mim
ama a sua imagem,
mas meu amor não é espelho.
Não queira refletir-se nele
ele se quebrará.
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
in: Caverna dos Signos
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SONETO AO MILLÔR
Não quis reescrever uma Odisséia,
mas, se reescrevesse, brilharia.
Deu peso de brilhante à ninharia.
Refiro-me ao filósofo do Méier.
Vão Gogo, comediante sem platéia,
seu público o invejava quando o lia.
Somou a gozação à rebeldia,
e um fã ganhou aqui na Paulicéia.
Já que a justiça farda mas não talha,
resolvo retratá-lo, em homenagem
quadrada, três por quatro, uma antiqualha.
Soneto, prum filósofo, é bobagem.
Não passa de acadêmica migalha
a quem faz humorismo com coragem.
GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
in: Paulisséia ilhada – Sonetos Tópicos
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AD LIBITUM
Toma-me
e me tome
em rápidos goles
e em grandes nacos...
Sou teu Forte
mais fraco
e, em ti, enxergo-me
ao longe, intacto...
Sou teu cravo
manso e bravo
porém,
posso ser cacto.
Devora-me
e me engula:
não engane
sua gula...
Encha-te de mim
e por fim
digere-me,
em plena fome:
minha alma,
meu nome
e pronomes.
MARCELO LOPES
Guarujá/SP
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