(Edição de Verão)
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
ALBERTO CAEIRO
(FERNANDO PESSOA)
in: Ficções do Interlúdio
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DEZEMBRO
JOHN MILTON, poeta inglês, nasceu em Londres a 9 de dezembro de 1608 e faleceu na mesma cidade a 8 de novembro de 1674. Teve educação esmerada, estudando e viajando, convivendo com os mais eminentes intelectuais. Pelo consenso geral é considerado o segundo poeta inglês, depois de Shakespeare. Desde a infância torna-se leitor ávido, escrevendo poemas em latim e italiano. É autor de alguns dos mais belos sonetos e poemas já escritos. De 1641 a 1660, dedica-se quase exclusivamente a escrever em prosa, com eloqüência irresistível. A erudição é a característica principal da obra de Milton, com grande força dramática, especialmente na caracterização dos personagens, assim como a lógica, a serenidade e a musicalidade. Sua inspiração vem de Homero e Virgílio. Algumas Obras: Comus, a Máscara (1634), Lycidas (1638), Paraíso Perdido (1667).
FRASES:
"Acima de todas as liberdades, dê-me a de saber, de me expressar, de debater com autonomia, de acordo com minha consciência."
"Não acuse a natureza, ela faz a parte que lhe cabe. Agora, faça a sua."
"Sinto que sou mais feliz do que me parece."
"Aqueles que eliminam os olhos das pessoas, as reprovam pela sua cegueira."
"Aquele que reina sobre si mesmo, sobre as regras e paixões, desejos e medos é mais do que um rei."
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JANEIRO
B. LOPES, pseudônimo de Bernardino da Costa Lopes, poeta brasileiro, nasceu em Imbiara, Rio Bonito/RJ a 19 de janeiro de 1859 e faleceu no Rio de Janeiro a 18 de setembro de 1916. Nasceu no fim da escravidão, de pais livres. Da boêmia intelectualizada, sua poesia filtra diferentes tendências do final do século XIX ao início XX. Amigo de Cruz e Sousa, Gonzaga Duque, Emiliano Perneta, foi saudado como precursor do Simbolismo. De saúde frágil, faleceu esquecido e doente. Algumas obras: Cromos (1881), Brasões (1895), Plumário (1905).
PER PURA
Clara manhã; rutilante
Ascende o sol no horizonte;
Corre uma aragem fragrante
Por vale, planície e monte,
Trazendo nas frias asas
Um lindo som de cantigas.
De cima daquelas casas,
Casinhas brancas e amigas,
Sobem fumos azulados;
E há pombos pelos telhados.
Cresce o rumor das cantigas...
Surge um farrancho de gente
Alegre, farta e contente,
De samburás e de gigas.
Andam colhendo as espigas
Do milharal pardo e seco;
É dali que vem o eco
De tão bonitas cantigas...
Cantai, cantai, raparigas!
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FEVEREIRO
GEORGE MEREDITH, romancista, poeta e ensaísta inglês, nasceu em Portsmouth a 12 de fevereiro de 1828 e faleceu em Box Hill, Surrey, a 18 de maio de 1909. Estreou na literatura inglesa em 1851 com um volume de versos, pertencendo à chamada escola psicológica da era vitoriana. Suas obras foram escritas em estilo altamente pessoal, criticam a alta sociedade inglesa e são, em parte, com unidade estilística, mais fantásticas que realistas. Algumas Obras: A Provação de Richard Feverel (1859), Amor Moderno (1862), Rhoda Fleming (1865), As Aventuras de Henry Richmond (1871), A Carreira de Beauchamp (1876), O Egoísta (1879).
AMOR MODERNO (Fragmento)
Assim o piedoso amor encerrou o que idealizara:
A união desse par tão diferente!
Lembravam dois ágeis falcões numa armadilha
Condenados a imitar o vôo do morcego.
Armando-se, sob o céu de maio,
Caminhavam sem rumo, puros como o orvalho nas flores.
E não cuidavam das horas que avançavam:
Seus corações ansiavam pelo dia que se extinguira.
Então, um cravou no outro o punhal implacável,
Indagação profunda que sonda uma angústia infinita.
Ah, que resposta rude a alma encerra
Quanto à vida das certezas dessa nova vida!
Qual trágica lembrança, vêde o que se move eternamente
Nas trevas, como a força do oceano, à meia noite,
Soando como o tropel trepidante dos cavalos das hostes guerreiras,
E lança uma linha esmorecida e tênue sobre a praia!
Tradução: Bezerra de Freitas
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PARÁBOLA
Segundo alguns especialistas,
a parábola é uma forma literária protagonizada por seres humanos.
Tem a comunicação ética por caminhos indiretos,
simbólicos, metafóricos e herméticos,
com identificação espiritual da Bíblia.
FELICIDADE
(Parábola)
Um homem perguntou a um sábio:
- Senhor, tu, que és sábio, podes dizer-me o que é a felicidade?
- Nunca poderia dizer-te. Posso indicar-te apenas o caminho que leva até ela.
- Senhor, ficaria eternamente agradecido se me fizesses este favor...
- Pois bem: olha para a frente. Que vês?
- Vejo o mundo, senhor...
- Olha mais!
- Vejo campos, vejo serras, vejo nuvens nos céus, bois pastando nos campos...
- Olha mais!
- Nada mais vejo, senhor!
- Olha bem... bem!
- Senhor, palavra, nada mais vejo senão o que te disse.
- Como queres que te mostre o caminho da felicidade, se é isso apenas o que vêem os teus olhos?
MAHDI FEZZAN
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LETRA
A ÚLTIMA ESTROFE
A noite estava assim enluarada,
quando a voz já bem cansada
eu ouvi de um trovador
nos versos que vibravam de harmonia,
ele em lágrimas dizia
da saudade de um amor
Falava de um beijo apaixonado,
de um amor desesperado,
que tão cedo teve fim
E, dos seus gritos e lamentos,
eu guardei no pensamento
uma estrofe que era assim:
Lua, vinha perto a madrugada,
quando, em ânsias, minha amada
em meus braços desmaiou.
E o beijo do pecado
em seu véu estrelejado
a luzir glorificou
Lua, hoje eu vivo tão sozinho,
ao relento, sem carinho
na esperança mais atroz,
de que cantando em noite linda
esta ingrata, volte ainda,
escutando a minha voz
A estrofe derradeira merencórea
revelava toda a história
de um amor que não morreu.
E a lua que rondava a natureza,
solidária com a tristeza
entre as nuvens se escondeu.
Cantor! Que assim falas à lua,
minha história é igual à tua
meu amor também fugiu.
Disse a ele em ais convulsos
Ele então entre soluços
toda a estrofe repetiu
Lua, vinha perto a madrugada,
quando, em ânsias, minha amada
em meus braços desmaiou.
E o beijo do pecado
em seu véu estrelejado
a luzir glorificou
CÂNDIDO DAS NEVES
Algumas composições: Cinzas, Lágrimas, Para Sempre Adeus, Noite Cheia de Estrelas, Ao Luar.
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O HOMEM NÃO AMA
Jamais o seu peito mais duro que o aço,
Palpita a não ser a louca ambição.
Supõe-se - orgulhoso - que é soberano,
Que todas as belas vassalas lhe são!
Mais falso que a brisa que as flores bafeja,
Se mil forem belas. . . a mil finge amar. . .
Assim um já disse, e assim fazem todos,
Embora não queiram jamais confessar,
Cruéis, como Nero, são todos os homens!
Ateiam as chamas de ardente paixão,
Depois. . . observam, sorrindo, os estragos. . .
E dizem, cobardes! que têm coração!!
LUIZA AMÉLIA DE QUEIROZ
Poetisa brasileira
(1838-1898)
in: Flores Incultas, 1875
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PoetaS PortugueseS
EPIGRAMA
Para curar febres podres
Um doutor se foi chamar,
Que, feitas as cerimónias,
Começou a receitar.
A cada penada sua
O enfermo arrancava um ai.
"Não se assuste (diz o Galeno)
Que inda desta se não vai.
"Ah senhor! (torna o coitado,
Como quem seu fado espreita)
Da moléstia não me assusto,
Assusto-me da receita."
BOCAGE
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE, nasceu em Setúbal a 15 de setembro de 1765 e faleceu em Lisboa a 21 de dezembro de 1805. Foi soldado do Regimento de Infantaria em Setúbal. Muda-se para Lisboa e participa da vida boêmia da cidade. Esteve no Brasil em 1786. Em 1791 é convidado a participar da Nova Arcádia, uma academia de belas-artes, onde usa o pseudônimo de Elmano Sadino (Elmano é um anagrama de Manuel). Acusado de heresia e vida devassa é encarcerado várias vezes em prisões portuguesas. Uma vez liberto é doutrinado e convertido, aparentemente, abandonando a irreverência. Obra: Rimas (1791).
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ERÓTICA
MENINA E MOÇA
A Ernesto Cibrão
Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.
Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem cousas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.
Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.
Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.
Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.
Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.
Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.
Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando-se talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.
Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!
Ah! se nesse momento, alucinado, fores
Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.
É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!
MACHADO DE ASSIS
in: Falenas
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LENDAS INDÍGENAS
A LENDA DAS CATARATAS
Existem duas lendas sobre as Cataratas do Iguaçu. A primeira diz que os índios Caigangues, que habitavam as margens dos rios Iguaçu e Paraná, acreditavam que o mundo era governado por M’Boy, ou Mbá, um deus que tinha a forma de uma serpente e era filho de Tupã. O cacique dessa tribo, chamado Igobi, tinha uma filha, Naipi, tão bonita que as águas do rio paravam quando a jovem nelas se mirava.
Devido à sua beleza, Naipi foi consagrada ao deus M’Boy, passando a viver somente para o seu culto. Havia, porém, entre os Caigangues, um jovem guerreiro chamado Tarobá, que ao ver Naipi, por ela se apaixonou. No dia em que foi anunciada a festa da consagração da bela índia, enquanto o cacique e o pajé bebiam, Tarobá fugiu com a linda Naipi, numa
piroga que seguiu rio abaixo, arrastada pela correnteza.
Quando M’Boy soube da fuga de Naipi e Tarobá ficou furioso. Penetrou, então, nas entranhas da terra e retorcendo o corpo produziu uma enorme fenda, que formou uma catarata gigantesca. Envolvida pelas águas desta imensa cachoeira, a piroga dos índios fugitivos caiu de grande altura, desaparecendo para sempre.
Diz a lenda que Naipi foi transformada em uma das rochas centrais das cataratas, perpetuamente fustigada pelas águas revoltas. E Tarobá foi convertido em uma árvore, situada à beira do abismo e inclinada sobre a garganta do rio. Debaixo dessa árvore acha-se a entrada da gruta, de onde o monstro vingativo vigia, eternamente, as suas duas vítimas.
A segunda lenda diz que quando o deus Mbá morreu, Jacira, chorando sem parar, sentou-se sobre uma grande rocha de onde escorria um filete de água. Este filete foi aumentando com suas lágrimas, cada vez mais, até se transformar em cascatas. Assim nasceram as Cataratas do Iguaçu: das lágrimas de Jacira. E dizem que se você apurar os ouvidos escutará uma voz vinda das águas, chamando:
– Mbá, Mbá, Mbá...
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FÁBULA
O LOBO E O CÃO
Um lobo e um cão encontraram-se num caminho.
Disse o lobo:
– Companheiro, você está com ótimo aspecto: gordo, o pêlo lustroso... Estou até com inveja...
– Ora, faça como eu – respondeu o cão. – Arranje um bom amo. Eu tenho comida na hora certa, sou bem tratado... Minha única obrigação é latir à noite quando aparecem ladrões. Venha comigo e você terá o mesmo tratamento.
O lobo achou ótima a idéia e se puseram a caminho.
Mas de repente o lobo reparou numa coisa.
– O que é isso no seu pescoço, amigo? Parece um pouco esfolado... – observou ele.
– Bem – disse o cão –, isso é da coleira. Sabe? Durante o dia meu amo me prende com uma coleira, que é para eu não assustar as pessoas que vêm visitá-lo.
O lobo despediu-se do amigo ali mesmo:
– Vamos esquecer – disse ele. – Prefiro minha liberdade à sua fartura.
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ORIENTE
OS DOIS MONGES
Dois monges estavam atravessando um rio, quando encontraram uma mulher muito jovem e bonita, que também desejava atravessá-lo; porém ela tinha muito medo. Um deles, então, resolveu carregá-la até a outra margem.
O outro monge ficou indignado com seu amigo. Afinal, ele havia quebrado uma regra, a de que um monge nunca deveria tocar numa mulher. E além de tocá-la, ele a carregou! Era demais! Mas ele não disse nada. Apenas engoliu sua raiva pelo comportamento do amigo.
Quilômetros se passaram, e continuaram caminhando... até que chegaram a seu destino, no mosteiro. O monge enraivecido se voltou para o amigo e já não suportando mais guardar só para si mesmo sua indignação, finalmente disse:
- Olhe, terei que falar ao mestre sobre o seu comportamento proibido.
- Do que está falando? perguntou.
- Você esqueceu? Não acredito! Você carregou aquela linda jovem para atravessar o rio?
O outro monge então riu e calmamente replicou:
- Sim, eu a carreguei. Mas a deixei lá na outra margem do rio, quilômetros atrás. Você é que ainda a está carregando até agora...
NOVOS
MÃOS DESUNIDAS
não serei o poeta do passado
embora dele me alimente
canto o presente
que Drummond não vê
nada de serafins
cartas de suicida
- os homens aterraram
a palavra amor
num canteiro de obras
as mãos desunidas
traduzem: os espinhos
inda sufocam as flores
LUIZ OTÁVIO OLIANI
Lins de Vasconcelos/RJ
in: Espiral
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OVERDOSE
Muita música pra pouco ouvido
Muito ator pra pouca cena
Muito livro pra pouca leitura
Muito filme pra pouco cinema
Muita mão pra pouca obra
Muita genitália pra pouco sexo
Muito modelo pra pouca foto
Muita rima pra pouco verso
Muito partido pra pouco governo
Muito veículo pra pouca via
Muito santo pra pouco milagre
Muito sorriso pra pouca alegria
Muita escola pra pouco ensino
Muita jura pra pouco amor
Muita ambição pra pouco talento
Muita batata pra pouco vencedor
Muito dever pra pouco direito
Muito dano pra pouca moral
Muita massa pra pouco brioche
Muita fantasia pra pouco carnaval
Muito prédio pra pouco terreno
Muito repórter pra pouca notícia
Muito remédio pra pouca doença
Muita opinião pra pouca sapiência
Muito palhaço pra pouca piada
Muito sonho pra pouca realidade
Muita conversa pra pouco assunto
Muito baú pra pouca felicidade
Todo mundo quer, todo mundo pode
Todo mundo sabe, todo mundo se sacode
O dia nasce e logo anoitece
Todo mundo diz que faz, mas na verdade nada acontece
LEANDRO LUIZ RODRIGUES
Santos/SP
in: www.mandandobrasa.blogspot.com
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MAIS QUE DIVAGAÇÃO
Pulo borboleta
por entre os canutilhos
do lustre do teto
e eles, iguais aos de laboratório,
bebem meu sangue,
e o derramam de volta aos viandantes...
Dedilho musicista junto com o vento,
ladrão de portas abertas,
a música que igualmente bailarina danço.
Alguém espirra
e balanço as asas trêmulas
procurando quem ousou
interromper meu sonho.
E ninguém sabe, ninguém viu
o olho da borboleta assustada
comendo feijão com ilusão
na mesa posta das paredes.
TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
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LIMINAR
Todos os poemas foram escritos.
Resta-nos – bardos desnorteados –
imitar o que o outros disseram,
copiar o que o outros dirão.
Alternativa: alinhavar o caos
com agulha de vento e linha de nuvem.
Gritar aos céus o nosso espanto inútil,
aos deuses da Terra o nosso débil protesto.
Ingressamos no abismo.
(Voltaremos?
cheias as mãos de pérolas trazendo?)
Ingressamos no abismo.
ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/SF
in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
Instituto Nacional do Livro
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GEOMETRIA DA CHUVA
Verticalmente
pingos se projetam
do céu.
Geometria de formas
em depressão.
Contornos da cidade
se perdem
o cinza impera
nas ruas & coração.
Ferrugem do tempo
estagnação.
RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: http://http;//www.mainieri.blogspot.com
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OCULTO
TU CULTIVAS
E SEMPRE OCULTAS
A TUA BELEZA
ARTE CRIATIVA
VERDADEIRA CILADA
MODESTA E BEM FEITA
MUITO BEM SEMEADA
MAS SOU EU
QUE VAI FAZER ESTA COLHEITA
CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
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LATU RE-STRICTU
Há uma ponta solta
estrategicamente
no centro do poema
muito poucos conseguem encontrá-la
só poetas especiais
e quando acontece
basta, apenas, puxá-la
e ele vem pronto definitivo
sem nenhum desbaste
de pensamento.
LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Catedrais
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TEMPORAL
Encharcam-se
árvores e homens
Pássaros
não saem ilesos
E na soleira
um cão
REGINA ALONSO
Santos/SP
in: Ofício
__________
Como os loucos perseguem a lua,
Assim também te persigo.
E como eles também sou sapo
Em tardes de chuva fria
A coaxar o lamento diário
De querer e não-ter.
Assim como os loucos
Também recrio fábulas, mistérios
E viagens que nunca engendrei,
E sou cavaleiro palhaço bruxo rei vassalo
Em conformidade com teu espírito
Quando acordas.
E por saber-te distante
E oceânica
Ergo braçadas e naufrágios
Aonde apontam tuas andanças.
Mas nunca chego.
BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
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HAICAIS
Um manso rebanho
na azul pastagem do céu
- nuvem de verão
*
Em poucos minutos
uma paisagem molhada
- chuva de verão
MADÔ MARTINS
Santos/SP
in: Alfabeto do Vento
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SOLDADO CAIPORA
Ele era o soldado caipora.
Ou chegava depois da vitória
ou chegava bem antes da ação.
(D. Quixote teve ao menos os seus moinhos.
Ele, porém, ficou sozinho num campo inexistente.
A procissão das almas desertou pelos flancos.)
A maior batalha
não se banha em sangue.
O maior exército
tem somente um homem.
ANDERSON DE ARAÚJO HORTA
(1906 – 1985)
Brasília/DF
in: Invenção do Espanto
Edições Galo Branco
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árvore
cigarra seca
canto eterno
DINOVALDO GILIOLI
Florianópolis/SC
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4.
na hora talvez demore
se moro talvez me ponha
se sonho talvez me suje
e talvez veja, talvez
à vez talvez se vá
se olho talvez descubra
se acendo talvez ateie
nomeie e talvez nasça
no quarto talvez reúna
e o raio talvez não caia.
talvez o calo não doa
talvez a memória não falhe
talvez a conta não cause
talvez quando o século mudar
talvez fale e assim o diga
talvez não ache por aí além
talvez ditado seja mais fácil
talvez encontres e depois sigas
talvez por graça tanto não seja
talvez fora... ou dentro talvez.
no entanto talvez dissesse
e para já talvez não fosse
na hora talvez aconteça
e no momento talvez estale
no estalo talvez se levante
o espanto talvez se coloque
na escada talvez fique bem
se bem que talvez eu pudesse
e se voltasse talvez eu achasse
que por fim talvez só o fim.
FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
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dois copos de vidro
de boca para baixo
sobre a mesa da copa
três colheres de café
na borda da bandeja
sobre a mesa da copa
uma caneca de café
sobre um pires de xícara
sobre a mesa da copa
um pote de açúcar
e uma garrafa térmica
sobre a bandeja amarela
sobre a mesa da copa
o saco de pão amassado
ao lado da margarina
sobre a mesa da copa
os meus olhos repousados
na estamparia florida
brincam sobre a toalha
sobre a mesa da copa
EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
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ESPELHO
Amélia não era mulher. Seu espelho não a refletia. Apenas mostrava outra pessoa. Assim pura, assim crua. O vidro era apenas a essência de sua vida.
WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Microcontos
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ALTERNATIVA PARA ANA CRISTINA CESAR
na cama de todo dia
estender a colcha
deitar em decúbito ventral
pegar a caneta
e o bloco de anotações
sobre a mesa de cabeceira
não pensar em ligação telefônica
cena de melodrama
nem uma carta ou mesmo
bilhete de despedida
apenas uns vinte e poucos versos
como uma janela aberta
matar-se dentro do poema
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
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ALMA
Sou a sombra que te acompanha
Entre os muros do silêncio.
Sou a vida que corre
Paralela à tua. Sou teu vício.
Sou o som que te acorda
Na poética musicada.
Sou a lua que clareia
A tua madrugada.
Sou o teu lado bom
Precioso, de alegria e calma.
Sou tua boca com batom.
Eu sou a tua alma.
NEIVA PAVESI
Santos/SP
__________
PÁTINA
No ocre
do tempo
há natural
oxidação.
Teu verniz,
grossa demão,
insiste em brilhar,
desafia o ar.
No bolor
da velhice
esconde-se a matiz
do teu olhar.
Caiu, descascou;
a porcelana da cútis
entra em fuga
e dá lugar
às rugas
Envelhecemos,
em uma trajetória
suicida.
No ocre
do tempo:
o acre
da vida.
MARCELO LOPES
Guarujá/SP
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SONETO PARA UMA VALSA ALVISSAREIRA
Adeus ao ano velho todos dão,
achando que não deixa uma saudade.
Mas quantos anos velhos lá se vão
que um dia foram novos? Que maldade!
Por que será que os outros têm, então,
ainda uma esperança, se a vontade
se frustra? Eu do futuro a sorte não
almejo, se o passado dissuade . . .
Mas torço por vocês! Saúde! Grana!
Solteiros vão casar! Ninguém se dana
na vida de casado, e coisa e tal...
Na próxima virada, aqui estaremos
torcendo novamente, pois sabemos
que um ano voa e chega outro Natal . . .
GLAUCO MATTOSO
São Paulo/SP
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FLORES, TANTAS FLORES...
Flores brancas, camélias e lírios
Perfumes da infância que causam arrepios
De um amor elevado ao mais puro delírio...
Rosas vermelhas exacerbam os sentidos
Extasiam como vinho a libido
São verões coloridos de tempos idos...
Cheias de luz, flores amarelas tão belas
Misturam conhecimento e sentimento,
Dão à alma a iluminação que inibe procelas...
Roxas violetas, mimosas de ação poderosa,
Mudam o carma como do vulcão a lava
Que altera o escrito por novo gabarito
Todas são flores da mesma aquarela
Delicadas balizas nas telas da vida
Nos degraus galgados até o topo do monte
Para ver o que há do outro lado do fronte...
NEUSA MARIA CONFORTI SLEIMAN
Santos/SP
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RENASCENDO
Essa flor que nasceu no seu jardim,
se era um cravo, uma rosa, ou um jasmim,
não viu.
Crianças que brincavam na calçada
e o homem que beijava a namorada,
ele não viu.
A alegria cantada nas esquinas,
a euforia nos rostos das meninas,
não sentiu.
No céu, aquela estrela iluminada
e a lua embelezando a madrugada,
nem notou.
Mas quando alguém chegou tão de repente,
na face deu-lhe um beijo, simplesmente,
ele sorriu.
A vida se tornou encantamento
e a esperança brotou nesse momento.
Renasceu.
DEISE DOMINGUES GIANNINI
São Vicente/SP
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A NOITE CHEGA
Anoitece sobre a cidade grande,
a escuridão oculta sob a luz neon,
margeia mentes que a noite expande
soltando a fantasia ao sabor do som.
Tudo é fruto do encantamento.
Tudo é festa, até a dor se esconde,
e a magia dura até o momento
em que o sol acorda lá no horizonte.
Os bêbados e amantes da madrugada,
porque o sol ofusca-lhes o tino,
lá se vão batendo em retirada
fugindo do burburinho matutino.
DALVA DE ARAÚJO
Santos/SP
__________
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Além das seções da revista POETIZANDO e dos novos poetas, você poderá encontrar na revista impressa: Frases, Prosa, Biografias, Crônica, Conto e muita poesia...
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OUTRAS PUBLICAÇÕES DO SELO ARTESANIA
LIVROS:
De Eunice Mendes:
* Cerimônia das Flores
* Flores e Frutos
* Sonhares
* Aurora Gris
Valor: R$ 15,00 (cada)
* Sino dos Ventos
* Lua na Janela
* Espaços do Vazio
* Nuvens de Sol
Valor: R$ 10,00 (cada)
****************
De Walmor Dario Santos Colmenero:
* Um Poeta na Rua
* Memórias
* Versos Vivos
* Das...
* O Homem Natural
* A Mulher Natural
* Poeminhas
* Proverbinhos
* Expressões Impressas
* Bagagens de Ontens
* Poemas Bluseiros
* Tributo Vivo
* A Multiplicação do Nada
* Um Poeta na Itália
* Um Poeta na Espanha
* Lá Fora Adentro
* Out-Real
* Pedras no Chão
* Qualquer Semelhança... Não é Mera Coincidência...
Valor: R$ 8,00 (cada)
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FOLHAS POÉTICAS:
A Poetisa
* Modelo: A4, para xerocopiar e distribuir,
edição trimestral.
Editora: Eunice Mendes
O Poeta
* Modelo: A4, para xerocopiar e distribuir,
edição trimestral.
Editor: Walmor Dario Santos Colmenero
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FANZINES:
Árvore Azul (7 edições)
Editora: Eunice Mendes
Escritos
* Modelo: Oficio 9, 4 páginas,
edição bimestral.
Editor: Walmor Dario Santos Colmenero
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