Revista Poetizando

21.3.10

POETIZANDO Nº 36
(Edição de Outono)


PASSOS DA CRUZ

I

Esqueço-me das horas transviadas...
O Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros...
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...

Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco... Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...

No claustro seqüestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos,
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...

FERNANDO PESSOA
in: Cancioneiro
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AUTORES DO MÊS

MARÇO

TARÁS GRYGOROVITCH SHEVCHENKO, poeta e pintor ucraniano, nasceu na aldeia de Moryntsi, região de Kiev, Ucrânia em 9 de março de 1814 e faleceu em São Petersburgo em 10 de março de 1861. Foi considerado um dos líderes da cultura ucraniana, trazendo as tradições seculares para a sua arte, em prol da liberdade do povo. Sua vida foi cheia de dramas devido a crueldade dos tzares russos. Assim que produzia seus poemas declamava aos amigos e estes transcreviam e distribuíam ao povo, e pessoas influentes, que liam entusiasmadas. Seus textos eram proféticos, fazendo pensar em uma nova mentalidade. Tornou-se um Profeta Nacional. Sua herança literária foi inovadora, colocando em suas obras grandes problemas sociais, desenvolvendo a literatura realista ucraniana, tentando divulgar a beleza do mundo e do homem. Na pintura, foi representante do Romantismo.

(fragmento)

"Poemas meus, poemas meus!
Sois só o que me resta!
Ao menos vós não me abandoneis
Na hora da desgraça"..."
Não Invejo
".....................
Não invejo ninguém meu amigo,
Porque se você olhar, você verá
Que não há céu, na terra,
Não mais do que no céu."

1845
___________

ABRIL

ANTÔNIO MARIANO ALBERTO DE OLIVEIRA, poeta brasileiro, nasceu em Palmital de Saquarema/RJ a 28 de abril de 1857 e faleceu em Niterói/RJ a 19 de janeiro de 1937. Considerado um dos maiores poetas parnasianos brasileiros. Foi cultor da forma perfeita, elaborada, impessoal e objetiva. Foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros.
Algumas Obras: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895), Poesias (1900), Ramo de Árvore (1902), Poesias (1927).

HORAS MORTAS

Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.
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MAIO

LUÍS NORTON BARRETO MURAT, jornalista, poeta e político brasileiro, nasceu em Itaguaí/RJ em 4 de maio de 1861 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 3 de julho de 1929. Fundador da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras como patrono Adelino Fontoura. Militante político, foi abolicionista e republicano e em 1890, foi eleito deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro. Sua obra era romântica seguindo a sua geração, parnasiana, sofrendo influências de Victor Hugo e Théophile Gauthier, com imagens fortes e verbalização e dos poetas nórdicos, obscuridade e espiritualismo. Fundou o jornal Vida Moderna (1886 – 1887) com Artur Azevedo. Colaboravam Araripe Júnior, Coelho Neto, Raul Pompéia e outros. Escrevia também sob o pseudônimo Franklin. Alguma Obras: Ondas (1890 – 1895 em 2 volumes), Poesias (1892), Sara (1902), Poesias Escolhidas (1917).

ALÉM AINDA…

Caminheiro que vais ao fim do dia
Demandando o crepúsculo das dores,
Não te percas na lágrima sombria
Da tormenta de anseios e amargores!

Além da sepultura principia
O caminho dos sonhos redentores,
Na alvorada perene da harmonia,
Aureolada de eternos resplendores.

Desolado viajor, ergue teus olhos!
Não te prendas somente ao chão tristonho,
Guarda a esperança carinhosa e linda!

Vence a longa jornada dos abrolhos,
Que o país luminoso do teu sonho
Fica ao alto… distante… além ainda…
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APÓLOGO

O Apólogo é uma forma literária de narrativa curta, que é protagonizada por "seres" inanimados, como plantas, pedras, rios, relógios, moedas, estátuas, agulhas, etc... Vários autores dedicaram-se a este estilo.

TRANSITORIEDADE
(Apólogo)

Certa vez, uma pequena onda do oceano percebeu que ela não era igual às outras ondas e disse:
- Como sofro! Sou pequena, e vejo tantas ondas maiores e poderosas do que eu! Sou na verdade desprezível e feia, sem força e inútil...
Mas outra onda do oceano lhe disse:
- Tu sofres porque não percebes a transitoriedade das formas, e não enxergas tua natureza original. Anseias egoísticamente por aquilo que não és, e mergulhas em auto-piedade!
- Mas, - replicou a pequena onda, - se não sou realmente uma pequena onda, o que sou?
- Ser onda é temporário e relativo. Não és onda, és água!
- Água? E o que é água?
- Usar palavras para descrevê-la não vai levar-te à compreensão. Contemples a transitoriedade à tua volta, tenhas coragem de reconhecer esta transitoriedade em ti mesma. Tua essência é água, e quando finalmente vivenciares isso, deixarás de sofrer com tua egoísta insatisfação...
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FÁBULA

A RÃ NO FUNDO DO POÇO

Segundo um mito chinês, uma rã, que morava num poço abandonado, só podia movimentar-se no limitadíssimo espaço que era o fundo do poço, e consequentemente, o que via não passava de um pequeno pedaço do céu. Nada conhecia lá fora, e nada sabia sobre a existência de um imenso mundo.
Certa vez, uma tartaruga do mar apareceu à beira do poço, e a rã, lá do fundo, apressou-se a vangloriar-se:
- Vê, amiga tartaruga, que linda e confortável residência é a minha! Aqui, eu salto livremente e descanso num buraco da parede do poço quando me apetece. Se quero nadar, a água cobre-me as pernas e chega-me ao queixo. Passeios? Passear aqui nesta terra pantanosa é uma verdadeira delícia! Garanto que tu, minha amiga tartaruga, nunca tiveste uma vida tão feliz como esta! Vem, vem ver o meu paraíso!
Levada pela curiosidade, a tartaruga do mar deu um passo em frente e, mal viu o "paraíso" da rã, recuou, dizendo:
- Sabes uma coisa, minha amiga rã? O mar é tão imenso que tem milhares e milhares de quilômetros de extensão, e milhares e milhares de braças de profundidade. . . Dez anos de inundações consecutivas não conseguiriam aumentar nem um centímetro o nível das suas águas, e dez anos consecutivos de seca não lograriam baixá-lo. Ali sim, é vida!
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LETRAS


BAHIA
(Canto Folclórico)

Eu não sou daqui, marinheiro só
Eu não tenho amor, marinheiro só
Eu sou da Bahia, marinheiro só
De São Salvador, marinheiro só.

(Bis)

Oi marinheiro, marinheiro, marinheiro só,
quem te ensinou a navegar, marinheiro só
foi o tombo do navio, marinheiro só
ou foi o balanço do mar, marinheiro só
Lá vem, lá vem... marinheiro só,
com ele vem faceiro, marinheiro só
todo de branco, marinheiro só,
com seu bonezinho, marinheiro só.
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MULHER


O LAGO MORTO

O lago morto, o céu cinzento ao luar;
Pálida, lutando, coberta pelas nuvens,
A lua;
O murmúrio obstinado que cochicha e passa
(Dir-se-ia que tem medo de falar em alta voz).
Tão tristes agora,
Recaem sobre meu coração,
Onde a alegria morre como um rio deserto.
Minhas pobres alegrias...
Não as toqueis,
Floridas e sorridentes.
Lentamente, a raiz acaba de morrer.

EMILY BRONTË
Escritora inglesa

EMILY BRONTË, nasceu em Thornton, Yorkshire, Inglaterra, em 30 de julho de 1818 e faleceu em Haworth em 19 de dezembro de 1848. É considerada uma das maiores escritoras da literatura inglesa. Marcada na infância pela severidade paterna, com alma extremamente sensível, desde cedo exercitou sua vocação literária. Entre outras obras, publicou o romance O Morro dos Ventos Uivantes em 1847.
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ERRATA: Houve erro de publicação na edição nº 35, a poetisa brasileira LUIZA AMÉLIA DE QUEIROZ, nasceu em 1838 e faleceu em 1898.
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PoetaS PortugueseS

SEUS OLHOS

Seus olhos - se eu sei pintar
o que os meus olhos cegou -
não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar,
e o fogo que a ateou
vivaz, eterno, divino,
como facho do Destino.

Divino, eterno - e suave
ao mesmo tempo. Mas grave
e de tão fatal poder,
que, um só momento que a vi,
queimar toda a alma senti. . .
Nem ficou mais de meu ser,
senão, a cinza em que ardi.

ALMEIDA GARRETT
in: Folhas Caídas
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ERÓTICA


MALVA-MAÇÃ
(fragmentos)

De teus seios tão mimosos
quem gozasse o talismã!
Quem ali deitasse a fronte
cheia de amoroso afã!
E quem nele respirasse
a tua malva-maçã!

Dá-me essa folha cheirosa
que treme no seio teu!
Dá-me a folha... hei de beijá-la
sedenta no lábio meu!
Não vês que o calor do seio
tua malva emurcheceu...

A pobrezinha em teu colo
tantos amores gozou,
viveu em tanto perfume
que de enlevos expirou!
Quem pudesse no teu seio
morrer como ela murchou!

Teu cabelo me inebria,
teu ardente olhar seduz;
a flor dos teus olhos negros
de tua alma raia à luz,
e sinto nos lábios teus
fogo do céu que transluz!

Descansar nesses teus braços
fora angélica ventura:
fora morrer – nos teus lábios
aspirar tua alma pura!
Fora ser Deus dar-te um beijo
na divina formosura!

Oh! virgem dos meus amores,
dá-me essa folha singela!
Quero sentir teu perfume
nos doces aromas dela...
E nessa malva-maçã
sonhar teu seio, donzela!

Uma folha assim perdida
de um seio virgem no afã
acorda ignotas doçuras
com divino talismã!
Dá-me do seio esta folha
– a tua malva-maçã!

Quero apertá-la a meu peito
e beijá-la com ternura...
Dormir com ela nos lábios
desse aroma na frescura...
Beijando-a sonhar contigo
e desmaiar de ventura!

A folha que tens no seio
de joelhos pedirei...
Se posso viver sem ela
não o creio!... Oh, eu não sei!...
Dá-me pelo amor de Deus,
que sem ela morrerei.

Pelas estrelas da noite,
pelas brisas da manhã,
por teus amores mais puros,
pelo amor de tua irmã,
dá-me essa folha cheirosa
– a tua malva-maçã!

ÁLVARES DE AZEVEDO
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FOLK-LORE

ORIGEM DOS VAGA-LUMES

No começo, tudo era sombra e silêncio e Deus, esculpia os astros, os diamantes do céu; e a poeira luminosa formou a Via Láctea e as outras nebulosas. Quando um astro brilhava, Deus colocava um pouco de treva e assim conseguiu fazer todas as estrelas que brilham, o sol que é um topázio enorme e a lua que é uma opala triste. O Senhor pensando que parte da poeira viesse à Terra, mas tendo de criar os animais e o homem, desceu ao mundo deserto, e caminhando devagar, pela sombra, viu, de repente, fulgir entre as árvores virgens uma chama fugaz. Deteve o andar e pensativo, ficou acompanhando a viagem aérea da fagulha de origem desconhecida. Vendo-a ir e vir e vendo que outras surgiam, Deus não querendo que o demônio astuto pusesse malefício em sua obra tomou, no espaço, uma das que passavam, e com seu alto poder, fez com que a centelha falasse, e entre seus dedos, a centelha falou:
- Senhor, deixai-me livre. Não me julgueis provinda de origem má. Chama, venho das claras estrelas que fulguram no céu. Quando das lapidáveis delas saía uma luminosa poeira que se espalhou nos espaços formando estradas largas; sucedeu, porém, que alguns grãos pequeninos dessa poeira vieram cair à Terra, e porque nelas havia tocado vossa mão, logo se animaram, e à noite, à hora em que as estrelas brilham no céu, a poeira das estrelas vive e brilha na terra! Bem vedes que de Vós venho. Deixai-me ir, Senhor! Deixai-me ir por entre as árvores que cheiram e por cima das águas brancas que murmuram.
E o Senhor, enternecido, abriu os dedos deixando partir o vaga-lume. E aí entendes porque não é fixa, como a das estrelas, a luz do vaga-lume – é que ela esteve, algum tempo, abafada entre os dedos e até hoje o inseto guarda essa instantânea impressão.
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NOVOS

PALAVRAS

Nós duas nas dunas
de mãos dadas
- ignoradas

Apanho palavras
na luz da lua
- minto:
Apanho das palavras
revido e bato na lua:
- burra!
Sigo na rua
meio sem meios
- mole e dura
vazia de sentidos
cheia de sentimentos
- contraditória

Não tenho arma nem bala
mas sei que pedra mata
e falta de amor também.

ILMA FONTES
Aracaju/SE
in: Jornal O Capital nº 175
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MOVIMENTO DE ESPELHOS

1
O dia
compõe em mosaicos
meus instantes

Amanheço
fragmentos
e durmo
ilusão de conjunto
na mais total
incompletude

Como quem se mira
em espelhos quebrados
restauro
utópicos fractais
de mim

Ainda encontro a forma
de esculpir-me
um corpo indivisível

2
Na minha mesa posta
um bule com o choro de ontem
servido amargo

Entre os jornais do dia
o roteiro em detalhes
do que podia ter sido

Em vez da geléia de morango
o suor das tarefas
num pote de cerâmica

A faca corta o pão
como se amputasse
a língua do ódio

No balcão da copa
o relógio do microondas
cobra meu tempo

Todo dia às 7
desjejuo em silêncio
e a família ignora
a fome de dentro

3
Desço escadas
tateando teias
que eu ontem teci
junto às aranhas

Procuro os porões
em que apodrecem
palavras puídas

Entre trastes de avós
coleciono em caixas
remorsos antigos

Não existem janelas
nestes aposentos
e a única lâmpada
ainda nova queimou

As paredes gastas
aceitam o mofo
do modo que aceito
o oco dos dias

Nos meus subterrâneos
por que essa mania
de reter o já findo?

4
Fabrico holofotes
com minhas palavras

Cada gesto meu
produz um incêndio

Semeio lâmpadas na casa
no quintal crio vaga-lumes

Sou eu que toda noite
faço o parto da lua

Nos olhos e sorrisos
idealizo abajures

Adormeço meu frio
no colo do fogo

Com dedos luminares
incandesço o sol

Prendo estrelas em fios
e as vendo nas feiras

A claridade é meu ofício

5
Que sei eu das sombras
petrificadas em chinês
nas paredes da infância

Que sei eu dos muros
separando mundos
nos quintais da pátria

Nas mesmas palavras
dos mesmos livros
que sei eu de mim

Que sei eu
ignorante em didática
das aulas sonegadas

Eu que não sei nada
sendo parte de tudo
que sei eu do outro

Que sei eu, me diga
das manhãs e tardes
tecidas em silêncio

Órfão das noites
paginando lendas
que sei eu das luas

Na ciranda do tempo
que sei eu da face
que move os espelhos

SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ
in: 43º Femup
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SINGULAR

AMOR É
SENTIMENTO UNIVERSAL

O NOSSO FOI PLURAL – A DOIS.
FICOU SINGULAR
NÓS NOS AMAMOS IGUAL

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
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BALADA DA FLOR DA ESTRADA

1

As asas da borboleta
não são as asas do mar.
No entanto, soltas no vale,
sugerem velas perdidas
num oceano de luz.

2

Cuidado com as velas pandas
dos meus versos vagabundos,
dos meus soluços de amor.
Borboletas da campina.
Velas soltas do mar alto.
Vaga-lumes da amplidão.

3

Elas não suportam
a violência do vento.
Mesmo a brisa mais ligeira
é capaz de as dominar.

4

Os meus versos vagabundos
são velas soltas ao mar.

5

A fragrância das florestas
ou das flores da campina
flutua tonta no azul.
Dentro da urna de sombras
e flores impregnadas
de um perfume tão doce
que até parece cantar.

6

O sedento chega ao poço
e o destino se reflete
na água intocada e fria.

7

Debruça no mar da vida
e vê passar os meus versos
numa frota de ilusão.
São queixumes navegando.
São essências flutuando.
Queixume é sempre humildade.
Perfume é sempre fraqueza.

8

Seria, porém mais fácil
Prender um raio de luz
do que ferir um poema.

9

Pisa com muito cuidado
a minha relva de sonhos
e o meu palácio de mármore.

10

Os meus versos vagabundos
são velas soltas ao mar.

ANDERSON DE ARAÚJO HORTA
(1906 – 1985)
Brasília/DF
in: Invenção do Espanto
Edições Galo Branco
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POEMA SOLIDÁRIO-PREMONITÓRIO

A gota sabe de si mesma.
Lapida no próprio cristal
a jóia bruta do céu.

Mas, não o mar, espelho móvel,
lapidador de rochas,
triturador de angústias.
Sabedor de todas as águas,
que ele dá e retoma.

O mar pressente outras nuvens
e outros ventos.
Nas dinâmicas rugas de seu rosto
quebra-se
a serenidade do céu.

ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/DF
in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
Instituto Nacional do Livro
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TROVA

Passa o vento num arrulho.
A noite é fria lá fora. . .
Como é gostoso o barulho
da chuva, caindo agora.

HUMBERTO DEL MAESTRO
Vitória/ES
in: Trovas, Haicais e outros Poemas
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CABARÉ

Piscar de néon
no rosto de seres
miméticos
que jogam xadrez
no exílio de um tabuleiro
espelhado
rainhas "strippers"
em torres frágeis
na cabala
de um reino fictício.

LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 - 2004)
Santos/SP
in: Eminércia
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MIUDEZAS

Finco
a madeira na terra
vasinho de barro
miúdo
à beira
da tosca janela.
Espaço exíguo
exato
apenas um caule
um par de folhas
uma flor

jardim.

REGINA ALONSO
Santos/SP
in: Ofício
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no dedo a marca do anel
em carne viva
na palma da mão aberta
toda minha vida exposta
meus olhos são vitrines
portas cerradas
sonhos que não se dão
virando vidro
tudo se atravessa
oblíquo como transparência

a vida passa sem vestígios
somos espíritos errantes
enterrados em nossos destinos.

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
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BORBOLETA AMARELA

A natureza traz belezas e sensações. A borboleta amarela pousou no nariz de Marcos. Ele deixou. Afinal quem é ele para impedir tamanha expressividade.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Minicontos
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MARCAS

Minha primeira mulher
foi Mariazinha
que morava nos fundos de uma pensão
entre corredores escuros
e varais.

Ela esperou no quarto do porão
e eu atravessei quintais sem fim
para conhecer seu sexo
cheirando a talco Palmolive.

O amor foi rápido
mas eu não fui além das coxas mulatas.
Custou dois cruzeiros
e custou passar.
O corredor comprido e escuro,
os varais com roupas,
a boca seca e o frio,
muito frio.

Minha primeira mulher foi Mariazinha,
de corpo mulato
e cheiro de talco.

Depois dela
todas as mulheres habitam
quartos de porão com corredores escuros
e varais
por onde é preciso passar
com a boca seca,
tremendo de frio.

SERGIO ANTUNES
São Paulo/SP
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PRECISAMOS DE NÃO NOS CALARMOS

precisamos de não nos calarmos
quando nos amamos
para sermos cúmplices
um do outro
para que,
quando passearmos cá fora
eu te possa falar
ou tu me possas falar
dos momentos que passámos juntos.

FERNANDO AGUIAR
Lisboa/Portugal
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Certos arroubos me precipitam
Num penhasco de labirintos e sombras
E cores sem nome,
Em forma de desertos.
Se lá existo? Não me atrevo.
Sou outro quando chove,
E nem sempre me reconheço
Quando há estro.
Por isso digo que há sóis e pedras
Claudicantes e desertos de fogo
Em meu raciocínio,
Que chamo Precipício.
Ou Alma.
Ou nada.

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
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METEREOLÓGICO

Limpar as marcas
da ferrugem do tempo
sinais anunciando
os anticiclones da solidão.

Condições atmosféricas
contra-indicadas
ao usufruto do amor.

Inquietação circula
no relevo
de colinas & seios
seda
no orvalho da manhã.

Emoções encobertas
& chuvas esparsas
nos quadrantes inexatos
deste meu coração.

RICARDO MAINIERI
Porto Alegre/RS
in: www.mainieri.blogspot.com
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HAICAIS

Árvore sem folhas.
Só os pássaros aquecem
seus galhos despidos

*

Pelo céu escuro
brincando de ser estrela
lá vem o balão

*

Dança suavemente
a paisagem na janela
- um sopro de brisa

*

Faísca no céu
carregada de pedidos
a estrela cadente

MADÔ MARTINS
Santos/SP
in: Alfabeto do Vento
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as pessoas só
negam
as pessoas só negam
as pessoas sonegam
(a si mesmas)

DINOVALDO GILIOLI
Florianópolis/SC
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CHUVA

Chove...
e a ilha cobre-se de um manto líquido.
Tudo desaparece e surge,
de repente, no trovão que estruge
um novo remoçar
de quem muito viveu
e traz impressa
nos traços ancestrais
toda a dor do mundo.
Uma dor que lateja
nos trovões ao longe...
Breve haverá um arco-íris
que se abrirá em cores
e a ilha ressurgirá
limpa, fresca, cheirosa
a recender de amores.

NEIVA PAVESI
Santos/SP
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