Revista Poetizando

4.9.13

POETIZANDO Nº 49
(edição primavera/verão)
 
 
HAICAIS

Mar de primavera —
O dia todo,
Ondula, ondula ...

Buson

*
 A cada manhã,
No céu sobre o meu telhado,
A mesma cotovia?

Jôsô

*

A criança às costas
Brincando com meu cabelo —
Que calor!

Sono-jo
                                                                   
*
 
O rio de verão —
Que alegria atravessá-lo
De sandálias à mão.

Buson
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AUTORES DO MÊS 
 
SETEMBRO                                                                               primavera


JÚLIA VALENTINA DA SILVEIRA LOPES DE ALMEIDA, romancista brasileira, nasceu no Rio de Janeiro a 24 de setembro de 1862 e lá faleceu a 30 de maio de 1934. Estreou na imprensa em 1881, fazendo colaboração semanal com o Jornal A Gazeta, conhecendo lá o seu futuro esposo, o escritor Filinto de Almeida. Produziu muito, abrangendo cerca de quarenta volumes entre romances, contos, crônicas e literatura infantil.  
Algumas obras: A Família Medeiros (1901 – romance), Ânsia Eterna (1903 – contos).

 FRASES:


“Para a gente moça o maior encanto da vida está no que há de vir, no que se ignora; para quem transpõe o cabo dos quarenta, está no presente, que passa ligeiro, ligeiro, como a corrente de um rio caudaloso...”
 
 
“Este egoísmo de esconder as feridas da paixão em lugar imperscrutável ao olhar humano não é digno deste tempo, em que as almas se desnudam para o combate, porque hoje não há santos, há heróis; não há milagres, há virtudes.”
 

 
“Um fio de cabelo, nada há mais frágil, nem mais quebradiço nem mais leve, e entretanto vê-se que mundo de sensações ele prende e arrasta! Até aqui, eram só as nossas, supúnhamos, mas agora sabemos que são as de toda a gente!”
 
 
“A felicidade está em envelhecer sem arte, com outras preocupações mais elevadas e menos egoístas...”


“A arte de envelhecer é a de exercitar a alma nas doces práticas do benefício e saber derramar em torno a si até à última hora de consciência, a sombra que alivia ou o calor que reanima...”
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OUTUBRO                                                                               primavera


OSCAR FINGALL O’FLAHERTIE WILLS WILDE, escritor inglês de origem irlandesa, nasceu em Dublin a 16 de outubro de 1854 e faleceu em Paris a 30 de novembro de 1900. Filho de cirurgião, esteve em classe social elevada. Sua atitude de dândi exibicionista, de longos cabelos e roupas espalhafatosas se fez notar, tendo um talento verbal insuperável. Suas pilhérias e trocadilhos fizeram-no brilhar na alta sociedade londrina, com humor às vezes cáustico. Em 1884 casou-se com Constance Lloyd com quem teve dois filhos. Sendo homossexual, manteve uma relação com Lord Alfred Douglas, filho do marquês de Queensberry, sendo perseguido pelo pai do jovem. Wilde resolveu processá-lo por difamação, entretanto o marquês o denunciou como homossexual e obteve em 1895 a condenação do escritor a dois anos de prisão com trabalhos forçados. Essa sentença causou a ruína moral e material de Wilde. Libertado em 1897, deixou a Inglaterra definitivamente. Devido ao escândalo, seu nome foi considerado sinônimo de abjeção e vício. A sociedade inglesa nunca  perdoou suas opiniões estéticas. Oscar Wilde retirou-se para a França e faleceu esquecido num modesto hotel de Paris.Algumas obras: Poemas (1881), O Retrato de Dorian Gray (1891), A Balada do Cárcere de Reading (1897), De Profundis (1905 – póstuma).


 
FRAGMENTO


 
“...Até hoje dificilmente o homem tem cultivado a solidariedade. Ele é solidário apenas na dor, e a solidariedade na dor não é a forma mais elevada de solidariedade. Toda a solidariedade é pura, mas na dor tem sua forma menos pura. Está maculada pelo egotismo. Está inclinada a se tornar mórbida. Há nela um certo temor por nossa própria segurança. Temos medo de que nós próprios venhamos a ficar como o leproso ou o cego, e ninguém se importe conosco. Além do mais tal sociedade é muito limitada. Deveríamos ser solidários com a vida em sua totalidade, não apenas na dor e na doença, mas também na alegria, na beleza, na energia, na saúde e na liberdade...”
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NOVEMBRO                                                                            primavera


JOSÉ GODOFREDO DE MOURA RANGEL, romancista brasileiro, nasceu em Três Corações/MG a 21 de novembro de 1884 e faleceu em Belo Horizonte/MG a 3 de agosto de 1951.
Participou do grupo do Minarete, do qual também fazia parte seu grande amigo Monteiro Lobato.
Trabalhou por muitos anos no interior de Minas Gerais como juiz de direito.
Produziu romances e contos.
Seu primeiro romance, Falange Gloriosa, saiu em 1917.
Godofredo Rangel publicou vários outros livros, todos hoje esgotados.
A última obra do escritor que ganhou reedição foi Vida Ociosa, pela Editora Casa da Palavra, em parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa.
Atualmente, a obra de Godofredo é tema de teses de doutorado.
Algumas obras: Falange Gloriosa (1917 – romance) Vida Ociosa (1920 – romance), Andorinhas (1921 – contos), A Filha (1929 – novela), Os Humildes (1944 – contos), Os Bem Casados (romance).

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DEZEMBRO                                                                             verão


TEODOR JÓSEF KONRAD KORZENIOWSKI, dito JOSEPH CONRAD, romancista inglês de origem polonesa, nasceu em Berditchev, Ucrânia a 3 de dezembro de 1857 e faleceu em Bishopsbourne, Kent, a 3 de agosto de 1924. Aos 17 anos foi para Marselha tentar a vida de marinheiro e acabou sendo traficante de armas. Em 1878 mudou-se para a Inglaterra onde fez carreira na marinha mercante e naturalizou-se inglês em 1886. Viajou pelo Pacífico e esteve no Congo. Aposentou-se em 1893 passando a dedicar-se à literatura. Foi considerado um dos maiores estilistas da prosa inglesa.Algumas obras: Juventude (1902), O Coração das Trevas (1902), Tufão (1903), Nostromo (1904), O Agente Secreto (1907).



FRASES:

 
"A fé no sobrenatural não é necessariamente uma fonte do mal. Homens sozinhos são capazes de qualquer fraqueza.

 
"Ser mulher é algo difícil, já que consiste basicamente em lidar com homens.

Podereis avaliar um homem tanto pelos seus inimigos, como pelos seus amigos.

Quem sabe o que é a verdadeira felicidade? Não a palavra convencional, mas o terror manifesto. Para os solitários, usa máscara. A casta mais infeliz guarda alguma lembrança ou alguma ilusão.

O espírito revolucionário é muito conveniente. Ele liberta-nos de todos os escrúpulos no que se refere a ideias.

Toda a ambição é legítima, salvo as que se erguem sobre as misérias e as crendices da humanidade...”

Não gosto do trabalho, ninguém gosta; mas gosto do que é no trabalho a ocasião de se descobrir a si próprio.
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JANEIRO                                                                                 verão



AUGUST STRINDBERG, escritor sueco, nasceu em Estocolmo a 22 de janeiro de 1849 e faleceu na mesma cidade a 14 de maio de 1912. Foi educado de maneira puritana, sofrendo muito na infância. Foi nomeado bibliotecário da biblioteca real. Em 1875 conheceu Siri von Essen, sua futura esposa, na época, casada. Divorciada em 1877, casou-se com o escritor. Por ter escrito um livro considerado obsceno e antirreligioso, foi Strindberg denunciado em 1883; embora sendo absolvido pelo tribunal, resolveu sair da Suécia e foi viver em Genebra e adjacências. Convivia com mania de perseguição, inclusive contra sua esposa. Em 1889 volta para a Suécia, divorciando-se em 1891. Em 1892 vai para Berlim e frequenta o círculo boêmio com poetas e escritores. Casa-se com a austríaca Frida Uhl, mas desentende-se com o sogro e dissolve o matrimônio em 1895. Viaja para Paris e estuda alquimia e ciências ocultas. Nessa época vive na miséria e passa por grave crise religiosa, chamada por ele próprio como “inferno”, com alucinações, visões, mania de perseguição, sintomas de esquizofrenia. Interna-se numa casa de saúde mental em Lund e em 1899 volta para Estocolmo. Casa-se em 1901 com a norueguesa Harriet Bosse, separando algum tempo depois. Os sintomas da doença mental continuam, professando um cristianismo pessoal. Contrariando as expectativas dos médicos, sua capacidade artística continua, tornando-se mais fecunda. Faleceu na solidão, mas em paz. Strindberg foi considerado o maior escritor da literatura sueca, seu talento extraordinário foi reconhecido desde o começo, porém não conseguiu se entender com a sociedade e com os outros escritores suecos. Exerceu enorme influência na Alemanha com seu teatro expressionista, assim como nos EUA. Seu estilo dramático foi influencia na obra de O’Neill e Albee.Algumas obras: Mestre Olof (1878), O Quarto Vermelho (1879), Utopias e Realidades (1885), Casamentos (1886 – 1887), O Filho da Criada (1886 – 1887), A Defesa de um Louco (1887 – 1888), O Pai (1887), Senhorita Júlia (1888), Para o Mar (1890), A Chave do Reino dos Céus (1892), Inferno (1897), Para Damasco (1898 – 1904), Crime e Crime (1899), Dança Macabra (1901), Páscoa (1901), Peça de Sonho (1902).
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FEVEREIRO                                                                            verão



FRANCISCO CAVALCANTI MANGABEIRA, poeta brasileiro, nasceu em Salvador/BA a 8 de fevereiro de 1879 e faleceu entre Belém/PA e São Luís/MA a 27 de janeiro de 1904. Participou do movimento revolucionário sobre as causas do Acre, mas devido às regiões insalubres da Amazônia contraiu polinevrite. Quando resolveu voltar à Salvador, faleceu durante a viagem, na altura do rio Gurupi.Algumas Obras: Hostiário (1898), Tragédia Épica (1900), Últimas Poesias (1906 – póstuma).



SUPLÍCIO ETERNO
 
Não devo amá-la, e amo-a com loucura.
Quero esquecê-la, e trago-a na lembrança...
Ai, quem me livra deste mal sem cura,
a que o destino trágico me lança?!

Uma nuvem de tédio e de amargura
cobre-me a loira estrela da esperança...
Tudo cansa por fim na vida escura,
só este amor infindo é que não cansa.

Se os olhos cerro, vejo-a nos meus sonhos...
Se à noite acordo, sinto que enlouqueço,
de uma angústia nos vórtices medonhos.

E esta morte, em que vivo, jamais finda,
pois, quanto mais procuro ver se a esqueço,
sinto que a adoro muito mais ainda!








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FÁBULA


O MACACO E O RABO



Um macaco, uma vez, pensou em fazer fortuna. Para isso foi-se colocar por onde tinha de passar um carreiro com seu carro. O macaco estendeu o rabo pela estrada por onde deviam passar as rodas do carro. O carreiro, vendo isso, disse:
- Macaco, tira teu rabo do caminho, eu quero passar.
- Não tiro, - respondeu o macaco.
O carreiro tangeu os bois, e o carro passou por cima do rabo do macaco, e cortou-o fora. O macaco, então, fez um barulho muito grande:
- Eu quero meu rabo, ou então dê-me uma navalha…
O carreiro lhe deu uma navalha, e o macaco saiu muito alegre a gritar:
- Perdi meu rabo! Ganhei uma navalha!… Tinglin, tingilin, que vou para Angola!…
Seguiu. Chegando adiante, encontrou um negro velho, fazendo cestas e cortando os cipós com o dente.
O macaco:
- Oh, amigo velho, coitado de você! Ora, está cortando os cipós com o dente… tome esta navalha.
O negro aceitou, e quando foi partir um cipó, quebrou-se a navalha. O macaco abriu a boca no mundo e pôs-se a gritar:
- Eu quero minha navalha, ou então me dê um cesto!
O negro velho lhe deu um cesto e ele saiu muito contente gritando:
- Perdi meu rabo, ganhei uma navalha, perdi minha navalha, ganhei um cesto… Tinglin, tinglin, que vou pra Angola!
Seguiu. Chegando adiante, encontrou uma mulher fazendo pão e botando na saia.
– Ora, minha sinhá, fazendo pão e botando na saia! Aqui está um cesto.
A mulher aceitou, e, quando foi botando os pães dentro, caiu o fundo do cesto. O macaco abriu a boca no mundo e pôs-se a gritar:
- Eu quero o meu cesto, quero o meu cesto, senão me dê um pão!
A mulher deu-lhe o pão, e ele saiu muito contente a dizer:
- Perdi meu rabo, ganhei uma navalha, perdi minha navalha, ganhei um cesto, perdi meu cesto, ganhei um pão… Tinglin, tinglin, que vou pra Angola!
E foi comendo o pão.

RECOLHIDA POR SILVIO ROMERO
Versão: Sergipe




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entrevista

  
“La poesia es

un acto íntimo.”
 
Elmys García Rodríguez

 
 
Elmys García Rodriguéz, escritora cubana, premiada internacionalmente. Tem textos em prosa e poesia publicados e traduzidos em diversos blogs, sites, revistas, jornais, coletâneas em vários países.
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P - Quem é Elmys García Rodríguez?
 
E. G. R. -  Soy una mujer que ama el arte en todas sus manifestaciones. Me gusta la música, recibí clases de guitarra, teoría y solfeo, canté  en un grupo Coral y en Casa de la Trova, esto de forma aficionada.
 
P - O que a influenciou a escrever? Por que poesia?
 
E. G. R. - No escribo solo poesía, Narrativa y algo de Ensayos. Comencé escribiendo cuentos y me incliné después por la poesía, finalmente retomé la narrativa, pues es una manera de desdoblamiento. Ahora escribo prosa, mis poemas son como historias contadas.
Tengo una extensa obra de cuentos Surrealistas y de Suspenso, que pudieran tomarse como guiones cinematográficos.
 
P - Quais seus poetas/escritores preferidos?
 
E. G. R. - Me gusta la poesía de Thiago de Melo, Mario Benedetti, Sábato, Gabriel Garcia Márquez, Gioconda Beli, y de Cuba, las obras teatrales de Estorino, poesía de Anton Arrufat, entre otros.
 
P - Como é seu processo de criação? Existe inspiração?
 
E. G. R. - Si existe la inspiración, es cuando me lleno de imágenes y ya tienen que salir afuera. Es un desgarramiento emocional. Un escape, salir al mundo abriendo las puertas del corazón.
 
P - Atualmente para quem os poetas escrevem?
 
E. G. R. - El poeta escribe por una necesidad, por el deseo de comunicar, además con eso ayudamos a salvar la Humanidad.
 
P - Escrever é um processo de maturação pessoal?
 
E. G. R. - Uno va madurando la poesía, igual que madura con los años. Con los años vamos haciendo una poesía de más razonamiento, de mayor reflexión.
 
P - A literatura contribui para melhor compreensão do mundo?


E. G. R. - Claro que sí, con la poesía podemos ser mejores personas, además miramos al mundo con otra connotación, uno acepta los reveces con cierta filosofía, miramos la vida de otro calor.


 
P - Crê que a poesia pode ser um agente de transformação social?

 

E. G. R. - Con la poesía se puede transformar la sociedad, ayudar a las personas a ser solidarias, sentir amor al prójimo, adquirir cierta sensibilidad, a ser menos egoístas y pensar en que los demás necesitan de nosotros.
 
P - Acha que deveria haver maior organização dos escritores para melhor divulgação da literatura?

 

E. G. R. - La poesía debe ser más promocionada, llevarla a las calles, a las galerías, a ser una parte de nuestra forma de vivir. A veces los poetas somos como unos “seres extraterrestres” en un mundo convulsionado, violento, donde los valores humanos están en deterioro.
 
P - Acha importante haver intercâmbio entre escritores e seus leitores? A internet facilitou isso?

 

E. G. R. - Los poetas debemos tener intercambio con otros que aman la literatura. Y con nuestros lectores. Es agradable cuando desde cualquier parte alguien nos escribe para decirnos que le gustó algo que hicimos, que les llega de cerca, etc.
 
P - Como vê os concursos, prêmios e eventos afins? Considera que contribuem realmente para melhor literatura e formação de público?

 

E. G. R. - Los Concursos son un estímulo para la creación, aunque la acción poética no se escriba para obtener premios, ni publicarse. La poesía es un acto íntimo donde cada uno expresa las vibraciones de su alma.
 
P - Qual a importância da leitura para quem escreve?

 
E. G. R. - El poeta se nutre de lo cotidiano y sus lecturas ayudan al mejoramiento de su lenguaje. Además nos proporcionan el desarrollo mental de nuestras ideas,  nos ofrece descanso, creatividad y nos ilumina para el acto creativo.

 

P - A arte ajuda a mudar o mundo?

 

E. G. R. - El mundo puede cambiarse a través de la poesía y el dia en que cada hombre vea al semejante como a su hermano, ese dia se habrá logrado la perfección en gran medida de la humanidad. Asi lograremos un mundo mejor y más humano.
 
P - Como vê a literatura contemporânea?

 

E. G. R. - La literatura contemporánea debemos leerla, en todas sus vertientes y aristas. Se escribe de diversos estilos, todos tenemos un sueño entre las manos.

 

P - Deixe um contato, se quiser, para os leitores, e-mail, etc...

 

E. G. R. - Pueden escribir a mi dirección postal: Calle 21 No. 28 / Juan Moreno y Carralero. Reparto. Sanfield. Holguin-Cuba. CP. 80.400.
 

POEMAS

 

A UN HOMBRE QUE NO TEME A LOS GIRASOLES

 

Como eres hombre libre
hay días que no amaneces em tu cama
visitas lecho ajeno y te diviertes
estás igual que outrora
cautivo de las nobles exigencias.
 
Has querido alcanzar el privilegio
y a pasos breves de cubres de acertijos.
 
Hoy seguro vendrás tarde como siempre
es posible te enrede algún corpiño
o duermas en el sillón de los dementes.

Como eres hombre libre
llevas atados mis caprichos a tua pele
permaneciendo mis versos
as acecho de verdades que me ladran.
 
 
PEQUEÑAS CONFESIONES ESCRITAS PARA ELISEO
 
Desde que te fuiste
no converso en mis noches con Eliseo,
muero de tristeza como los gorriones
solemne pasa el tiempo ante mis ojos,
soy la novia de algún marinero
que dejó su equipaje en las orillas,
habitada por millones de ausencias
tiembla mi pulso ante las dudas,
mi sitio no está determinado
me pertenece el viento, el mar,
la nieve ausente y jamás recordada
mi pequeño país envejeciendo a ratos.
Las hojas del otoño se pudren en las ramas,
tímidas hojas que guardan
la leyenda de otras épocas,
un pañuelo blanco
vigila el silencio de las luciérnagas,
en mi patrio amanecen muertos los crisantemos
mi apellido se esconde en el Viejo Continente
es identidad segura de mis antepasados.
Si el llanto me lastima
trazo una cruz en las paredes,
apago mi lámpara
después de haber aprendido
la fábula que ya conoces,
hoy es un día que prefiero no hacer nada
sola no estoy,
tengo la demencia por abrigo
es la melancolía de los viernes
al quedarme en los portales
igual que la mujer del poeta de lentes oscuros.
Eliseo y su Calzada
navegan en mi sueño,
también escribiré un discurso
con el polvo de los sentidos,
despojada de la sombra de las islas
es una oscura manera de albergar la muerte.
En los límites de la tierra
anclaré tu recuerdo
da lástima no poder amarte como me pides
inmóvil montaña frente a la tormenta,
nuestro oficio es morir junto a la llama
desafiando sus confines,
soy esta mujer de locas emociones
que aniquila su angustia contra los cristales.

Existo porque supe arrancarle
la costumbre a las ventanas.


EN ESTA SOLEDAD QUE ME HABITA NO SUPE ABRIR LA PUERTA A LOS EXTRAÑOS

 

Mi niñez no figura en los calendarios
soltando los pliegues de tu saya
me alejé de los contornos,
no aguanté la fiebre de tus manos
mi carrusel era muy grande
para mi condición de niña asustadiza,
era mi principal papel
en la función de circo que improvisabas,
tuve medias esperanzas
quise tener unos zapatos rojos
y los teñí con mi sangre.
El siguiente paso sería descubrirme
quedé sin brazos para naufragar,
no supiste amarme lo suficiente
cuando solté las riendas a mi corazón.
En mi soledad descubierta
cuido la simetría de mis raíces,
con tus nervios trataste de cerrar
el manantial de luz de mi cerebro,
ambas culpas son insustituibles
en este miércoles
de abandono y desamor,
aquí están mis manos
no son propiedad de nadie,
soy una rama seca
que se desprende del árbol.
Conozco los compases de tu reloj,
estoy ausente de tu memoria de tu reflejo.
En esta soledad que me habita
no supe abrir la puerta a los extraños.
colgando en los portales.
 
 
EVOCACIÓN DE ALGUNA HISTORIA QUE NO LLEGÓ A REPETIRSE
 
Navego a contraluz
derramo sin piedad mis elegías
converso con mis fantasmas
acompañan mi linaje
consigo acercarme a cualquier roca
o junto al mismo acantilado.
No entiendo de las historias
que mi madre me contaba
la palabra de mi madre
a comenzado a repetirse en los rincones
sin que nadie advierta
su palabra fue memoria en esta casa.
Mis hermanos cambiaron
el sentido de las puertas
dieron garantías a quien jamás
conoció de las tristezas de mi madre
cuando todo quedó al amparo
de ciertas ceremonias.
No entienden de aquellas palabras
que debieron guardarse
en las habitaciones
sólo han buscado entorpecer mi tiempo
con largos sermones.
Mi sueño se interrumpe
con un grito de campanas
es la voz de mi madre repitiendo
que no cierren las puertas
que me dejen el espacio
libre a las constelaciones.
Cada noche me convierto
en un animal extraño
y no puedo repetirme
luego de haber descubierto
cuáles fueron las razones
por las cuales mi madre se marchó
antes de tiempo
sin haberme dejado la urgencia
de aquellas preguntas
que ninguno se ha atrevido a responderme.
 
ELMYS GARCÍA RODRÍGUEZ
Holguin - Cuba
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NOVOS
 

RECEITA
 
Essencial é não dizer nada,
mas não-o-dizer com toda classe:
como quem veste a ausência da alma
pondo véus diáfanos na face.

Escolha, pois, bem as palavras,
preferindo as simples às raras:
porque, se acintoso o disfarce,
  avulta, por contraste, a cara.

Combine-as com a harmonia maga
         de bem temperada sintaxe:
     nem tanto ao mar, nem tanto à praia,
discreto o barco se destaque.

        E seja o efeito esta onda – vaga,
   onde a razão do poema – nada.

                       ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/DF
        in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
  Instituto Nacional do Livro
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velho rádio
 
às vezes
admirava-me
quando olhavas sem sorriso
e a noite engolia teus cabelos
mergulhados aos poucos em uma grande tina
 
a água que refletia estrelas
e a luz morta
que atravessou o espaço
e o lago de teus olhos imensos
 
desejo de chorar em escamas
abraçadas  aos cântaros

 
escadas para o céu
tocavam insistentes no éter
e no velho rádio na sala
 
e esta cozinha
era uma pista imensa de deslizes
não mais sabia
que viver não era mais que isso
catar fragmentos de raios cósmicos
que perfuravam o vidro da janela
e observar lento e persistente
a chama de uma vela ao se consumir
incorporando seu combustível ao ar
até que este se extinga
 
meus papéis senis perdidos de seu sentido
e livros amontoados aos cantos e estantes indeléveis
poetas vociferando  canções lúgubres
marcha soldado sem direção
e rebeliões que se dissolviam em terebentina e álcool
 
 
:
enquanto isso
cebolas e batatas ferviam
em borbulhantes panelas
com seus diálogos e estouros e borbulhares

eu olhava pelos vidros
e com um dedo infantil
garatujava um nome na neblina
enquanto olhos me observavam da possível floresta
 
 nós nascíamos todos os dias como narcisos
e voltávamos e voltávamos sempre
 
EDSON BUENO DE CAMARGO
Santo André/SP
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Vivemos mais intensamente
Quando aprendemos a desistir

Exonerei
minha paciência

 
A resistência
decretou falência
 
Agora
Vou ignorar tua indiferença
Sofremos menos quando não sabemos

CARLOS CASSEL
Caçapava do Sul/RS
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A ARANHA
 

No forro escuro tece a paciência
da invisibilidade projetada
e aparente de fios na consciência
suspensa da morte arquitetada.
Ventre prenhe de astúcia enrolada,
modula o tênue fio com sapiência.
Maquiavélica prisão alada
manipula o destino com prudência.
No cavo ignoto da mente vive
uma aranha que fia a realidade
com o ardil do fio da existência.
Armadilha sutil que sobrevive
do pensar em incauta liberdade
que ela atrai do acaso, na inocência...

 LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Catedrais
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MICROCONTO

A CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS
 
            E aconteceu que, no futuro, as máquinas, únicas habitantes da Terra, tiveram consciência de que não eram eternas. “Tivemos começo e teremos fim. Somos criaturas, não criadores”, disse o mais sábio dos robôs. Começava, assim, a busca pelo princípio de todas as coisas. Surgiram profetas e religiões, todos garantindo poder provar a existência daquilo a que identificavam só pelo nome: Ser Humano.

PAULO MOTA
Guarujá/SP
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Não me instiga
O sentido das coisas,
A engrenagem da máquina,
O funcionamento e o defeito,
O porque disto e daquilo.
Enquanto urram de gozo,
Recolho-me ao silêncio
Que existe e, por isso,
Se esconde de si mesmo.
Sei que estou vivo
Pelas palavras da saudade
Que a dor revela
Quando desperta.
De resto,
O mundo não sou eu.

BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
in: Marés e Serranias
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ESSA LUA IMENSA

Essa lua imensa
baila pelo céu, desvairadamente,
deixando seu rastro branco
no breu da noite.

Essa lua imensa
salta de órbita em órbita
remexendo as marés da alma,
olhando-me do horizonte.

Que posso eu, diante
da tua gravidade,
nos pares iluminados
de teus brilhantes asteróides?

Pois é essa lua imensa
que me atrai, distante,
- e seu atrair não cansa -
fazendo-se sempre presente
nas galáxias da lembrança.

MARCELO LOPES
Guarujá/SP
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Por cima, por baixo...
Mãos calosas trançando
O chapéu de praia.

E roda que roda,
Abandonando-se ao vento
A folha em queda...

REGINA ALONSO
Santos/SP
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O POETA E O OPERÁRIO
          A Maiakovski
 
o que difere
o poeta do operário?
 
na maquinaria
o trabalho braçal
dá lugar à escolha
de substantivos
verbos
metáforas
 
se um carrega cimento
terra areia
o outro esculpe o ser
talha a essência
 
se um usa espaçador de piso
espátula roldana
o outro opera em silêncio
na construção do poema
 
LUIZ OTÁVIO OLIANI 
Lins de Vasconcelos/RJ
in: A Eternidade dos Dias 
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 sobre a grama
canteiros de borboletas -
flores vermelhas
 
*
 
alegre portão -
derramadas nas grades
pencas de flores

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Calendário de Estações
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NATAL

Um passarinho quando canta
o seu canto sem igual,
é como um sino que planta
sementes de um bom Natal.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
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Ruas

ruas em tropel
correm, crescem, se amotinam
lâmpadas em êxtase
iluminam as ruas
que correm, correm
qual cavalos livres na floresta
trânsito se sossega
após horas e horas de espanto
suavizam as doces ruas
em que caminho só e sem dor
ruas
em tropel
afundam madrugadas na cama da noite
escuro, o homem escorrega na lama       
indócil     
feroz fera a correr na noite sem trégua
ruas
ruas de sono
êxtase
a acordar o sonho dos homens.

ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA
Rio de Janeiro/RJ
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 O choro de sal
cristaliza as veias
e a água do charco
no sapo.

O sapo em
pedra nas trevas
se empedra.

TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
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O AZUL DA MONTANHA
 
“O sol é o poncho do pobre”

(Dito campeiro)

 

            Em toda a região era conhecido apenas por Caleco. Nada mais. Era filho de Sinhá Vitoca, idosa e papuda, que se tornou célebre pela perfeição com que tecia baixeiros. O pai era desconhecido, não faltando murmurações de que fosse o taipeiro Moisés. Certeza, porém, não havia, pois que isso de paternidade é mera presunção. Somente os mais velhos sabiam disso; os jovens não lhe conheceram sequer a mãe. Como concessão à voz dos primeiros, poder-se-ia dizer que era o Caleco da Sinhá Vitoca.

            Um corpo enxuto, a idade indefinível. Alto e simpático, usava bigodes e tinha uma tez morena que gerava a suspeita de sangue negro naquelas veias. O cabelo, no entanto, parecia afastar a hipótese: liso e brilhante. 

            Criou-se ao deus-dará. Não tinha registro ou sobrenome e não sabia escrever. Sua existência era um fato que nenhum papel podia comprovar. Mas isso não o incomodava e não o fazia mais ou menos feliz. Talvez ignorasse mesmo tais filigranas.

            Nunca teve morada certa. Desde menino percorria aqueles campos, que conhecia como a palma das mãos. Não havia carreador, picada ou sanga que lhe fosse estranho. Nem mesmo o rio caudaloso impedia suas andanças, varando-o em qualquer época do ano, tanto nas secas fortes, que punham à mostra as pedras do leito, como nas enchentes tenebrosas em que as águas subiam pelas ribanceiras.

            Não tinha defeitos, exceto o fato de que não gostava mesmo de trabalhar. Inútil procurar em sua biografia um só serviço que tenha executado. Acometia-o somente uma inclinação, manifestada como mania, em qualquer lugar ou ocasião, o hábito de varrer. Nessa atividade, a única que condescendia em realizar, era meticuloso e, munido de uma vassoura, limpava casas, terreiros e até mesmo as estradas diante das propriedades. Por isso, quando aportava em algum sítio, eram comuns frases como esta:

            “Ó Don’Ana! Aproveita o Caleco pra varrer o galpão!”

            E lá ia o andarilho, assoviando entredentes, livrar das sujeiras o galpão necessitado.

            Ninguém sabia por onde andava. Aceito como peça da paisagem, desaparecia e surgia nos lugares mais distantes e nos momentos mais inesperados sem causar surpresa. Silencioso e desinteressado, quando chegava numa fazenda, - e ele as conhecia todas, - ia entrando calmamente, como quem acabava de sair, mesmo após meses de ausência. Cumprimentava com naturalidade as pessoas, desde o chefe da casa até as crianças, tratando-as pelos nomes. Nas noites frias, tão logo chegava, os cães o festejavam. Não encontrava dificuldade para dormir, bastando-lhe um monte de milho, um pelego ou mesmo um assoalho, à falta de coisa melhor.

           Sentava-se à beira do fogão, ou do fogo de chão, que ficava aos seus cuidados. Preparava e servia o chimarrão. Perguntava por este ou aquele, comentava o tempo, a qualidade das roças, o preço do gado. Nada dizia a seu próprio respeito. Por ali ficava alguns dias, até que, sem aviso ou despedida, se eclipsava em silêncio.

           Não fazia pedidos. Recebendo o de comer, aceitava com alegria; não reclamava quando o esqueciam. Exultava ao lhe oferecerem uma velha roupa para substituir os seus molambos, que, de tão remendados, não tinham mais cor. Ou quando recebia velhas botas para aquecerem seus pés maltratados pelas geadas inclementes.

           Quase não falava. Silencioso, sentava-se num degrau da escada, nas noites enluaradas, cercado pelos cães da fazenda, e ali permanecia por horas seguidas, ruminando misteriosas ideias.

          Nas vilas era praticamente desconhecido. Evitava-as, dando voltas enormes para desviá-las nas suas incansáveis caminhadas. Seu natural, seu meio, era o campo verde onde os quero-queros gritavam e o vento corria solto. Para ele não existiam cercas, divisas, separações. Toda a imensidão ondulada lhe pertencia. Tudo varejava a passo rápido, como quem fiscaliza uma propriedade muito querida.

          Por muitos anos palmilhou a região, de dia e de noite, debaixo de sol ou sobre a brancura da neve, na companhia das estrelas e com chuva pesada. Nunca praticou um ato maldoso. Jamais foi visto em companhia de uma mulher. Solitário como o campo onde vivia.

          Livre e descompromissado como um animal, era um rebelado contra o trabalho. Quando excedia a permanência era fácil livrar-se dele. O patrão, na roda do mate, virava-se para um peão qualquer e dizia: 

           “João, amanhã você ponha o Caleco no roçado.”

         Não protestava, nada dizia. Entendia que estava abusando da hospedagem. Num momento em que os outros se distraíam, desaparecia furtivamente.

         Foi numa dessas ocasiões que o vi pela última vez. O sol banhava o verde dos campos, o céu anilado prenunciava geada, o ar era fino e frio. Recortado com nitidez contra o horizonte, galgava lépido uma colina, desenhado como figura solitária sobre o tapete verdejante. Mais ao fundo, longe, muito longe, avistavam-se as montanhas azuladas.

         Os negros cabelos esvoaçando ao vento, o passo seguro e decidido, foi o único homem realmente livre que conheci. Sua liberdade só tinha limite no inatingível azul da montanha.

ENÉAS ATHANÁZIO
Balneário Camboriú/SC
in: O Azul da Montanha (Contos Escolhidos)
Letras Contemporâneas
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