POETIZANDO Nº 49
(edição primavera/verão)
HAICAIS
Mar de primavera —
O dia todo,
Ondula, ondula ...
Buson
*
Mar de primavera —
O dia todo,
Ondula, ondula ...
Buson
No céu sobre o meu telhado,
A mesma cotovia?
Jôsô
A criança às costas
Brincando com meu cabelo —
Que calor!
Sono-jo
Brincando com meu cabelo —
Que calor!
Sono-jo
*
O rio de verão —
Que alegria atravessá-lo
De sandálias à mão.
Buson
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Que alegria atravessá-lo
De sandálias à mão.
Buson
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AUTORES DO MÊS
SETEMBRO primavera
JÚLIA VALENTINA DA SILVEIRA LOPES DE ALMEIDA, romancista
brasileira, nasceu no Rio de Janeiro a 24 de setembro de 1862 e lá faleceu a 30
de maio de 1934. Estreou na imprensa em 1881, fazendo colaboração semanal com o
Jornal A Gazeta, conhecendo lá o seu
futuro esposo, o escritor Filinto de Almeida. Produziu muito, abrangendo cerca
de quarenta volumes entre romances, contos, crônicas e literatura infantil.
Algumas obras: A Família Medeiros (1901 –
romance), Ânsia Eterna (1903 – contos).FRASES:
“Para a gente moça o maior encanto da vida está no
que há de vir, no que se ignora; para quem transpõe o cabo dos quarenta, está
no presente, que passa ligeiro, ligeiro, como a corrente de um rio caudaloso...”
“Este
egoísmo de esconder as feridas da paixão em lugar imperscrutável ao olhar
humano não é digno deste tempo, em que as almas se desnudam para o combate,
porque hoje não há santos, há heróis; não há milagres, há virtudes.”
“Um
fio de cabelo, nada há mais frágil, nem mais quebradiço nem mais leve, e
entretanto vê-se que mundo de sensações ele prende e arrasta! Até aqui, eram só
as nossas, supúnhamos, mas agora sabemos que são as de toda a gente!”
“A
felicidade está em envelhecer sem arte, com outras preocupações mais elevadas e
menos egoístas...”
“A
arte de envelhecer é a de exercitar a alma nas doces práticas do benefício e
saber derramar em torno a si até à última hora de consciência, a sombra que
alivia ou o calor que reanima...”
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OUTUBRO primavera
OSCAR FINGALL O’FLAHERTIE WILLS WILDE, escritor inglês de origem irlandesa, nasceu em Dublin a 16 de outubro de 1854 e faleceu em Paris a 30 de novembro de 1900. Filho de cirurgião, esteve em classe social elevada. Sua atitude de dândi exibicionista, de longos cabelos e roupas espalhafatosas se fez notar, tendo um talento verbal insuperável. Suas pilhérias e trocadilhos fizeram-no brilhar na alta sociedade londrina, com humor às vezes cáustico. Em 1884 casou-se com Constance Lloyd com quem teve dois filhos. Sendo homossexual, manteve uma relação com Lord Alfred Douglas, filho do marquês de Queensberry, sendo perseguido pelo pai do jovem. Wilde resolveu processá-lo por difamação, entretanto o marquês o denunciou como homossexual e obteve em 1895 a condenação do escritor a dois anos de prisão com trabalhos forçados. Essa sentença causou a ruína moral e material de Wilde. Libertado em 1897, deixou a Inglaterra definitivamente. Devido ao escândalo, seu nome foi considerado sinônimo de abjeção e vício. A sociedade inglesa nunca perdoou suas opiniões estéticas. Oscar Wilde retirou-se para a França e faleceu esquecido num modesto hotel de Paris.Algumas obras: Poemas (1881), O Retrato de Dorian Gray (1891), A Balada do Cárcere de Reading (1897), De Profundis (1905 – póstuma).
FRAGMENTO
“...Até hoje dificilmente o homem tem cultivado a solidariedade. Ele é solidário apenas na dor, e a solidariedade na dor não é a forma mais elevada de solidariedade. Toda a solidariedade é pura, mas na dor tem sua forma menos pura. Está maculada pelo egotismo. Está inclinada a se tornar mórbida. Há nela um certo temor por nossa própria segurança. Temos medo de que nós próprios venhamos a ficar como o leproso ou o cego, e ninguém se importe conosco. Além do mais tal sociedade é muito limitada. Deveríamos ser solidários com a vida em sua totalidade, não apenas na dor e na doença, mas também na alegria, na beleza, na energia, na saúde e na liberdade...”
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NOVEMBRO primavera
JOSÉ GODOFREDO DE MOURA RANGEL, romancista brasileiro, nasceu em Três Corações/MG a 21 de novembro de 1884 e faleceu em Belo Horizonte/MG a 3 de agosto de 1951.
Participou do grupo do Minarete, do qual também
fazia parte seu grande amigo Monteiro Lobato.
Trabalhou por muitos anos no interior de Minas
Gerais como juiz de direito.
Produziu romances e contos.
Seu primeiro romance, Falange Gloriosa, saiu em 1917.
Godofredo Rangel publicou vários outros livros,
todos hoje esgotados.
DEZEMBRO verão
TEODOR JÓSEF KONRAD KORZENIOWSKI, dito JOSEPH CONRAD, romancista inglês de
origem polonesa, nasceu em Berditchev, Ucrânia a 3 de dezembro de 1857 e
faleceu em Bishopsbourne, Kent, a 3 de agosto de 1924. Aos 17 anos foi para
Marselha tentar a vida de marinheiro e acabou sendo traficante de armas. Em
1878 mudou-se para a Inglaterra onde fez carreira na marinha mercante e
naturalizou-se inglês em 1886. Viajou pelo Pacífico e esteve no Congo.
Aposentou-se em 1893 passando a dedicar-se à literatura. Foi considerado um dos
maiores estilistas da prosa inglesa.Algumas obras: Juventude (1902), O Coração das Trevas (1902), Tufão (1903), Nostromo (1904), O Agente Secreto (1907).
FRASES:
JANEIRO verão
AUGUST STRINDBERG, escritor sueco, nasceu em Estocolmo a 22 de janeiro de 1849 e faleceu na mesma cidade a 14 de maio de 1912. Foi educado de maneira puritana, sofrendo muito na infância. Foi nomeado bibliotecário da biblioteca real. Em 1875 conheceu Siri von Essen, sua futura esposa, na época, casada. Divorciada em 1877, casou-se com o escritor. Por ter escrito um livro considerado obsceno e antirreligioso, foi Strindberg denunciado em 1883; embora sendo absolvido pelo tribunal, resolveu sair da Suécia e foi viver em Genebra e adjacências. Convivia com mania de perseguição, inclusive contra sua esposa. Em 1889 volta para a Suécia, divorciando-se em 1891. Em 1892 vai para Berlim e frequenta o círculo boêmio com poetas e escritores. Casa-se com a austríaca Frida Uhl, mas desentende-se com o sogro e dissolve o matrimônio em 1895. Viaja para Paris e estuda alquimia e ciências ocultas. Nessa época vive na miséria e passa por grave crise religiosa, chamada por ele próprio como “inferno”, com alucinações, visões, mania de perseguição, sintomas de esquizofrenia. Interna-se numa casa de saúde mental em Lund e em 1899 volta para Estocolmo. Casa-se em 1901 com a norueguesa Harriet Bosse, separando algum tempo depois. Os sintomas da doença mental continuam, professando um cristianismo pessoal. Contrariando as expectativas dos médicos, sua capacidade artística continua, tornando-se mais fecunda. Faleceu na solidão, mas em paz. Strindberg foi considerado o maior escritor da literatura sueca, seu talento extraordinário foi reconhecido desde o começo, porém não conseguiu se entender com a sociedade e com os outros escritores suecos. Exerceu enorme influência na Alemanha com seu teatro expressionista, assim como nos EUA. Seu estilo dramático foi influencia na obra de O’Neill e Albee.Algumas obras: Mestre Olof (1878), O Quarto Vermelho (1879), Utopias e Realidades (1885), Casamentos (1886 – 1887), O Filho da Criada (1886 – 1887), A Defesa de um Louco (1887 – 1888), O Pai (1887), Senhorita Júlia (1888), Para o Mar (1890), A Chave do Reino dos Céus (1892), Inferno (1897), Para Damasco (1898 – 1904), Crime e Crime (1899), Dança Macabra (1901), Páscoa (1901), Peça de Sonho (1902).
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FEVEREIRO verão
FRANCISCO CAVALCANTI MANGABEIRA, poeta brasileiro, nasceu em Salvador/BA a 8 de fevereiro de 1879 e faleceu entre Belém/PA e São Luís/MA a 27 de janeiro de 1904. Participou do movimento revolucionário sobre as causas do Acre, mas devido às regiões insalubres da Amazônia contraiu polinevrite. Quando resolveu voltar à Salvador, faleceu durante a viagem, na altura do rio Gurupi.Algumas Obras: Hostiário (1898), Tragédia Épica (1900), Últimas Poesias (1906 – póstuma).
SUPLÍCIO ETERNO
A última obra do escritor que ganhou reedição
foi Vida Ociosa, pela Editora Casa da
Palavra, em parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa.
Atualmente, a obra de Godofredo é tema de teses
de doutorado.
Algumas obras: Falange Gloriosa (1917 – romance)
Vida Ociosa (1920 – romance), Andorinhas (1921 – contos),
A Filha (1929 – novela),
Os Humildes (1944 – contos), Os Bem Casados (romance).
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Algumas obras: Falange Gloriosa (1917 – romance)
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FRASES:
"A fé no sobrenatural não é
necessariamente uma fonte do mal. Homens sozinhos são capazes de qualquer
fraqueza.”
"Ser mulher é algo difícil, já que consiste basicamente em lidar com homens.”
“Podereis avaliar um homem tanto pelos seus inimigos, como pelos seus amigos.”
“Quem sabe o que é a verdadeira felicidade? Não a palavra convencional, mas o terror manifesto. Para os solitários, usa máscara. A casta mais infeliz guarda alguma lembrança ou alguma ilusão.”
“O espírito revolucionário é muito conveniente. Ele liberta-nos de todos os escrúpulos no que se refere a ideias.”
“Toda a ambição é legítima, salvo as que se erguem sobre as misérias e as crendices da humanidade...”
“Não gosto do trabalho, ninguém gosta; mas gosto do que é no trabalho a ocasião de se descobrir a si próprio.”
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"Ser mulher é algo difícil, já que consiste basicamente em lidar com homens.”
“Podereis avaliar um homem tanto pelos seus inimigos, como pelos seus amigos.”
“Quem sabe o que é a verdadeira felicidade? Não a palavra convencional, mas o terror manifesto. Para os solitários, usa máscara. A casta mais infeliz guarda alguma lembrança ou alguma ilusão.”
“O espírito revolucionário é muito conveniente. Ele liberta-nos de todos os escrúpulos no que se refere a ideias.”
“Toda a ambição é legítima, salvo as que se erguem sobre as misérias e as crendices da humanidade...”
“Não gosto do trabalho, ninguém gosta; mas gosto do que é no trabalho a ocasião de se descobrir a si próprio.”
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JANEIRO verão
AUGUST STRINDBERG, escritor sueco, nasceu em Estocolmo a 22 de janeiro de 1849 e faleceu na mesma cidade a 14 de maio de 1912. Foi educado de maneira puritana, sofrendo muito na infância. Foi nomeado bibliotecário da biblioteca real. Em 1875 conheceu Siri von Essen, sua futura esposa, na época, casada. Divorciada em 1877, casou-se com o escritor. Por ter escrito um livro considerado obsceno e antirreligioso, foi Strindberg denunciado em 1883; embora sendo absolvido pelo tribunal, resolveu sair da Suécia e foi viver em Genebra e adjacências. Convivia com mania de perseguição, inclusive contra sua esposa. Em 1889 volta para a Suécia, divorciando-se em 1891. Em 1892 vai para Berlim e frequenta o círculo boêmio com poetas e escritores. Casa-se com a austríaca Frida Uhl, mas desentende-se com o sogro e dissolve o matrimônio em 1895. Viaja para Paris e estuda alquimia e ciências ocultas. Nessa época vive na miséria e passa por grave crise religiosa, chamada por ele próprio como “inferno”, com alucinações, visões, mania de perseguição, sintomas de esquizofrenia. Interna-se numa casa de saúde mental em Lund e em 1899 volta para Estocolmo. Casa-se em 1901 com a norueguesa Harriet Bosse, separando algum tempo depois. Os sintomas da doença mental continuam, professando um cristianismo pessoal. Contrariando as expectativas dos médicos, sua capacidade artística continua, tornando-se mais fecunda. Faleceu na solidão, mas em paz. Strindberg foi considerado o maior escritor da literatura sueca, seu talento extraordinário foi reconhecido desde o começo, porém não conseguiu se entender com a sociedade e com os outros escritores suecos. Exerceu enorme influência na Alemanha com seu teatro expressionista, assim como nos EUA. Seu estilo dramático foi influencia na obra de O’Neill e Albee.Algumas obras: Mestre Olof (1878), O Quarto Vermelho (1879), Utopias e Realidades (1885), Casamentos (1886 – 1887), O Filho da Criada (1886 – 1887), A Defesa de um Louco (1887 – 1888), O Pai (1887), Senhorita Júlia (1888), Para o Mar (1890), A Chave do Reino dos Céus (1892), Inferno (1897), Para Damasco (1898 – 1904), Crime e Crime (1899), Dança Macabra (1901), Páscoa (1901), Peça de Sonho (1902).
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FEVEREIRO verão
FRANCISCO CAVALCANTI MANGABEIRA, poeta brasileiro, nasceu em Salvador/BA a 8 de fevereiro de 1879 e faleceu entre Belém/PA e São Luís/MA a 27 de janeiro de 1904. Participou do movimento revolucionário sobre as causas do Acre, mas devido às regiões insalubres da Amazônia contraiu polinevrite. Quando resolveu voltar à Salvador, faleceu durante a viagem, na altura do rio Gurupi.Algumas Obras: Hostiário (1898), Tragédia Épica (1900), Últimas Poesias (1906 – póstuma).
SUPLÍCIO ETERNO
Não devo amá-la, e amo-a com loucura.
Quero
esquecê-la, e trago-a na lembrança...
Ai,
quem me livra deste mal sem cura,
a
que o destino trágico me lança?!
Uma nuvem de tédio e de amargura
Uma nuvem de tédio e de amargura
cobre-me
a loira estrela da esperança...
Tudo cansa por fim na vida escura,
só este amor infindo é que não cansa.
só este amor infindo é que não cansa.
Se os olhos cerro, vejo-a nos meus sonhos...
Se
à noite acordo, sinto que enlouqueço,
de uma angústia nos vórtices medonhos.
de uma angústia nos vórtices medonhos.
E esta morte, em que vivo, jamais finda,
pois,
quanto mais procuro ver se a esqueço,
sinto que a adoro muito mais ainda!
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FÁBULA
O
MACACO E O RABO
Um macaco, uma vez, pensou em fazer fortuna. Para isso foi-se colocar por onde tinha de passar um carreiro com seu carro. O macaco estendeu o rabo pela estrada por onde deviam passar as rodas do carro. O carreiro, vendo isso, disse:
- Macaco, tira teu rabo
do caminho, eu quero passar.
- Não
tiro, - respondeu o macaco.
O carreiro tangeu os bois, e
o carro passou por cima do rabo do macaco, e cortou-o fora. O macaco, então,
fez um barulho muito grande:
- Eu quero meu rabo, ou
então dê-me uma navalha…
O carreiro lhe deu uma
navalha, e o macaco saiu muito alegre a gritar:
- Perdi meu rabo!
Ganhei uma navalha!… Tinglin, tingilin, que vou para Angola!…
Seguiu. Chegando
adiante, encontrou um negro velho, fazendo cestas e cortando os cipós com o
dente.
O macaco:
- Oh, amigo velho,
coitado de você! Ora, está cortando os cipós com o dente… tome esta navalha.
O negro aceitou, e
quando foi partir um cipó, quebrou-se a navalha. O macaco abriu a boca no mundo
e pôs-se a gritar:
- Eu quero minha
navalha, ou então me dê um cesto!
O negro velho lhe deu
um cesto e ele saiu muito contente gritando:
- Perdi meu rabo,
ganhei uma navalha, perdi minha navalha, ganhei um cesto… Tinglin, tinglin, que
vou pra Angola!
Seguiu. Chegando
adiante, encontrou uma mulher fazendo pão e botando na saia.
– Ora, minha sinhá,
fazendo pão e botando na saia! Aqui está um cesto.
A mulher aceitou, e,
quando foi botando os pães dentro, caiu o fundo do cesto. O macaco abriu a boca
no mundo e pôs-se a gritar:
- Eu quero o meu cesto,
quero o meu cesto, senão me dê um pão!
A mulher deu-lhe o pão,
e ele saiu muito contente a dizer:
- Perdi meu rabo,
ganhei uma navalha, perdi minha navalha, ganhei um cesto, perdi meu cesto,
ganhei um pão… Tinglin, tinglin, que vou pra Angola!
E foi comendo o pão.
RECOLHIDA POR SILVIO ROMERO
Versão: Sergipe
RECOLHIDA POR SILVIO ROMERO
Versão: Sergipe
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entrevista
“La poesia es
un acto íntimo.”
un acto íntimo.”
Elmys García Rodríguez
Elmys García Rodriguéz, escritora cubana,
premiada internacionalmente. Tem textos em prosa e poesia publicados e
traduzidos em diversos blogs, sites, revistas, jornais, coletâneas em vários
países.
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P - Quem
é Elmys García Rodríguez?
E. G. R. -
Soy una mujer que ama el arte en todas sus
manifestaciones. Me gusta la música, recibí clases de guitarra, teoría y
solfeo, canté en un grupo Coral y en
Casa de la Trova ,
esto de forma aficionada.
P - O que
a influenciou a escrever? Por que poesia?
E. G. R. - No escribo solo
poesía, Narrativa y algo de Ensayos. Comencé escribiendo cuentos y me incliné
después por la poesía, finalmente retomé la narrativa, pues es una manera de
desdoblamiento. Ahora escribo prosa, mis poemas son como historias contadas.
Tengo una extensa obra de cuentos Surrealistas
y de Suspenso, que pudieran tomarse como guiones cinematográficos.
P - Quais
seus poetas/escritores preferidos?
E. G. R. - Me gusta la poesía de
Thiago de Melo, Mario Benedetti, Sábato, Gabriel Garcia Márquez, Gioconda Beli,
y de Cuba, las obras teatrales de Estorino, poesía de Anton Arrufat, entre
otros.
P - Como
é seu processo de criação? Existe inspiração?
E. G. R. - Si existe la
inspiración, es cuando me lleno de imágenes y ya tienen que salir afuera. Es un
desgarramiento emocional. Un escape, salir al mundo abriendo las puertas del
corazón.
P - Atualmente para quem os poetas escrevem?
E. G. R. - El poeta escribe por una necesidad, por el deseo de comunicar, además con
eso ayudamos a salvar la
Humanidad.
P - Escrever é um processo de maturação pessoal?
E. G. R. - Uno va madurando la poesía, igual que madura con los años. Con los años
vamos haciendo una poesía de más razonamiento, de mayor reflexión.
P - A literatura contribui para melhor compreensão do mundo?
E. G. R. -
Claro que sí, con
la poesía podemos ser mejores personas, además miramos al mundo con otra
connotación, uno acepta los reveces con cierta filosofía, miramos la vida de
otro calor.
P - Crê que a poesia
pode ser um agente de transformação social?
E. G. R. - Con la poesía se puede transformar la sociedad, ayudar a las personas a ser
solidarias, sentir amor al prójimo, adquirir cierta sensibilidad, a ser menos
egoístas y pensar en que los demás necesitan de nosotros.
P - Acha que deveria haver maior organização dos escritores para melhor divulgação
da literatura?
E. G. R. - La poesía debe ser más promocionada, llevarla a las calles, a las galerías,
a ser una parte de nuestra forma de vivir. A veces los poetas somos como unos “seres
extraterrestres” en un mundo convulsionado, violento, donde los valores humanos
están en deterioro.
P - Acha importante haver intercâmbio entre escritores e seus leitores? A
internet facilitou isso?
E. G. R. - Los poetas debemos tener intercambio con otros que aman la literatura. Y
con nuestros lectores. Es agradable cuando desde cualquier parte alguien nos
escribe para decirnos que le gustó algo que hicimos, que les llega de cerca,
etc.
P - Como vê os concursos, prêmios e eventos afins? Considera que contribuem
realmente para melhor literatura e formação de público?
E. G. R. -
Los Concursos son
un estímulo para la creación, aunque la acción poética no se escriba para
obtener premios, ni publicarse. La poesía es un acto íntimo donde cada uno
expresa las vibraciones de su alma.
P - Qual a importância da leitura para quem escreve?
E. G. R. - El poeta se nutre de lo cotidiano y sus lecturas
ayudan al mejoramiento de su lenguaje. Además nos proporcionan el desarrollo mental
de nuestras ideas, nos ofrece descanso, creatividad y nos ilumina
para el acto
creativo.
P - A arte ajuda a mudar o mundo?
E. G. R. - El mundo puede cambiarse a través de la poesía y el dia en que cada hombre
vea al semejante como a su hermano, ese dia se habrá logrado la perfección en
gran medida de la humanidad. Asi lograremos un mundo mejor y más humano.
P - Como vê a literatura contemporânea?
E. G. R. - La literatura contemporánea debemos leerla, en todas sus vertientes y
aristas. Se escribe de diversos estilos, todos tenemos un sueño entre las
manos.
P - Deixe um contato, se quiser, para os leitores, e-mail, etc...
E. G. R. - Pueden escribir a mi dirección postal: Calle 21 No. 28 / Juan Moreno y
Carralero. Reparto. Sanfield. Holguin-Cuba. CP. 80.400.
POEMAS
A UN HOMBRE QUE NO
TEME A LOS GIRASOLES
Como
eres hombre libre
hay días que no
amaneces em tu cama
visitas lecho ajeno
y te diviertes
estás igual que
outrora
cautivo de las
nobles exigencias.
Has querido alcanzar
el privilegio
y a pasos breves de
cubres de acertijos.
Hoy seguro vendrás
tarde como siempre
es posible te enrede
algún corpiño
o duermas en el
sillón de los dementes.
Como eres hombre libre
llevas atados mis
caprichos a tua pele
permaneciendo
mis versos
as
acecho de verdades que me ladran.
PEQUEÑAS
CONFESIONES ESCRITAS PARA ELISEO
Desde
que te fuiste
no
converso en mis noches con Eliseo,
muero
de tristeza como los gorriones
solemne
pasa el tiempo ante mis ojos,
soy
la novia de algún marinero
que
dejó su equipaje en las orillas,
habitada
por millones de ausencias
tiembla
mi pulso ante las dudas,
mi
sitio no está determinado
me
pertenece el viento, el mar,
la
nieve ausente y jamás recordada
mi
pequeño país envejeciendo a ratos.
Las
hojas del otoño se pudren en las ramas,
tímidas
hojas que guardan
la
leyenda de otras épocas,
un
pañuelo blanco
vigila
el silencio de las luciérnagas,
en
mi patrio amanecen muertos los crisantemos
mi
apellido se esconde en el Viejo Continente
es
identidad segura de mis antepasados.
Si
el llanto me lastima
trazo
una cruz en las paredes,
apago
mi lámpara
después
de haber aprendido
la
fábula que ya conoces,
hoy
es un día que prefiero no hacer nada
sola
no estoy,
tengo
la demencia por abrigo
es
la melancolía de los viernes
al
quedarme en los portales
igual
que la mujer del poeta de lentes oscuros.
Eliseo
y su Calzada
navegan en mi sueño,
también
escribiré un discurso
con
el polvo de los sentidos,
despojada
de la sombra de las islas
es
una oscura manera de albergar la muerte.
En
los límites de la tierra
anclaré
tu recuerdo
da
lástima no poder amarte como me pides
inmóvil
montaña frente a la tormenta,
nuestro
oficio es morir junto a la llama
desafiando
sus confines,
soy
esta mujer de locas emociones
que
aniquila su angustia contra los cristales.
Existo porque supe arrancarle
la
costumbre a las ventanas.
EN ESTA SOLEDAD QUE ME HABITA NO SUPE ABRIR LA PUERTA A LOS EXTRAÑOS
Mi niñez no figura en los calendarios
soltando los pliegues de tu saya
me alejé de los contornos,
no aguanté la fiebre de tus manos
mi carrusel era muy grande
para mi condición de niña asustadiza,
era mi principal papel
en la función de circo que improvisabas,
tuve medias esperanzas
quise tener unos zapatos rojos
y los teñí con mi sangre.
El siguiente paso sería descubrirme
quedé sin brazos para naufragar,
no supiste amarme lo suficiente
cuando solté las riendas a mi corazón.
En mi soledad descubierta
cuido la simetría de mis raíces,
con tus nervios trataste de cerrar
el manantial de luz
de mi cerebro,
ambas culpas son insustituibles
en este miércoles
de abandono y desamor,
aquí están mis manos
no son propiedad de nadie,
soy una rama seca
que se desprende del árbol.
Conozco los compases de tu reloj,
estoy ausente de tu memoria de tu reflejo.
En esta soledad que me habita
no supe abrir la puerta a los extraños.
colgando
en los portales.
EVOCACIÓN DE ALGUNA HISTORIA QUE NO LLEGÓ A
REPETIRSE
Navego a contraluz
derramo sin piedad mis elegías
converso con mis fantasmas
acompañan mi linaje
consigo acercarme a cualquier roca
o junto al mismo acantilado.
No entiendo de las historias
que mi madre me contaba
la palabra de mi madre
a comenzado a repetirse en los rincones
sin que nadie advierta
su palabra fue memoria en esta casa.
Mis hermanos cambiaron
el sentido de las puertas
dieron garantías a quien jamás
conoció
de las tristezas de mi madre
cuando todo quedó al amparo
de ciertas ceremonias.
No entienden de aquellas palabras
que debieron guardarse
en las habitaciones
sólo han buscado entorpecer mi tiempo
con largos sermones.
Mi sueño se interrumpe
con un grito de campanas
es la voz de mi madre repitiendo
que no cierren las puertas
que me dejen el espacio
libre a las constelaciones.
Cada noche me convierto
en un animal extraño
y no puedo repetirme
luego de haber descubierto
cuáles fueron las razones
por las cuales mi madre se marchó
antes de tiempo
sin haberme dejado la urgencia
de aquellas preguntas
que
ninguno se ha atrevido a responderme.
ELMYS GARCÍA RODRÍGUEZ
Holguin
- Cuba
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NOVOS
RECEITA
Essencial é não dizer nada,
mas não-o-dizer com toda classe:
como quem veste a ausência da alma
pondo véus diáfanos na face.
Escolha, pois, bem as palavras,
Escolha, pois, bem as palavras,
preferindo as simples às raras:
porque, se acintoso o disfarce,
avulta, por contraste, a cara.
Combine-as com a harmonia maga
Combine-as com a harmonia maga
de bem temperada sintaxe:
nem tanto ao mar, nem tanto à praia,
discreto o barco se destaque.
E seja o efeito esta onda – vaga,
E seja o efeito esta onda – vaga,
onde a razão do poema – nada.
ANDERSON BRAGA HORTA
ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/DF
in: Cronoscópio
Civilização Brasileira/Pró-Memória
Instituto Nacional do Livro
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velho
rádio
às
vezes
admirava-me
quando
olhavas sem sorriso
e
a noite engolia teus cabelos
mergulhados
aos poucos em uma grande tina
a
água que refletia estrelas
e
a luz morta
que
atravessou o espaço
e
o lago de teus olhos imensos
desejo
de chorar em escamas
abraçadas aos cântaros
escadas
para o céu
tocavam
insistentes no éter
e
no velho rádio na sala
e
esta cozinha
era
uma pista imensa de deslizes
não
mais sabia
que
viver não era mais que isso
catar
fragmentos de raios cósmicos
que
perfuravam o vidro da janela
e
observar lento e persistente
a
chama de uma vela ao se consumir
incorporando
seu combustível ao ar
até
que este se extinga
meus
papéis senis perdidos de seu sentido
e
livros amontoados aos cantos e estantes indeléveis
poetas
vociferando canções lúgubres
marcha
soldado sem direção
e
rebeliões que se dissolviam em terebentina e álcool
:
enquanto
isso
cebolas e batatas ferviam
em borbulhantes panelas
com seus diálogos e estouros e borbulhares
eu olhava pelos vidros
e com um dedo infantil
garatujava um nome na neblina
enquanto olhos me observavam da possível floresta
cebolas e batatas ferviam
em borbulhantes panelas
com seus diálogos e estouros e borbulhares
eu olhava pelos vidros
e com um dedo infantil
garatujava um nome na neblina
enquanto olhos me observavam da possível floresta
nós
nascíamos todos os dias como narcisos
e
voltávamos e voltávamos sempre
EDSON
BUENO DE CAMARGO
Santo
André/SP
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Vivemos mais intensamente
Quando aprendemos a desistir
Exonerei
minha paciência
Exonerei
minha paciência
A resistência
decretou falência
Agora
Vou ignorar tua indiferença
Sofremos menos quando não sabemos
CARLOS CASSEL
Caçapava do
Sul/RS
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A ARANHA
No forro escuro tece a paciência
da invisibilidade projetada
e aparente de fios na consciência
suspensa da morte arquitetada.
da invisibilidade projetada
e aparente de fios na consciência
suspensa da morte arquitetada.
Ventre prenhe de astúcia enrolada,
modula o tênue fio com sapiência.
Maquiavélica prisão alada
manipula o destino com prudência.
No cavo ignoto da mente vive
uma aranha que fia a realidade
com o ardil do fio da existência.
Armadilha sutil que sobrevive
do pensar em incauta liberdade
que ela atrai do acaso, na inocência...
LUIZ ANTÔNIO MARTINS PIMENTA
(1942 – 2004)
Santos/SP
in: Catedrais
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MICROCONTO
A CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS
A CONSCIÊNCIA DAS MÁQUINAS
E
aconteceu que, no futuro, as máquinas, únicas habitantes da Terra, tiveram
consciência de que não eram eternas. “Tivemos começo e teremos fim. Somos
criaturas, não criadores”, disse o mais sábio dos robôs. Começava, assim, a
busca pelo princípio de todas as coisas. Surgiram profetas e religiões, todos
garantindo poder provar a existência daquilo a que identificavam só pelo nome:
Ser Humano.
PAULO MOTA
PAULO MOTA
Guarujá/SP
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Não
me instiga
O
sentido das coisas,
A
engrenagem da máquina,
O
funcionamento e o defeito,
O porque disto e daquilo.
Enquanto urram de gozo,
Recolho-me ao silêncio
Que existe e, por isso,
Se esconde de si mesmo.
Sei que estou vivo
Pelas palavras da saudade
Que a dor revela
Quando desperta.
De resto,
O mundo não sou eu.
BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
in: Marés e Serranias
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BENILSON TONIOLO
Campos do Jordão/SP
in: Marés e Serranias
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ESSA LUA IMENSA
Essa lua imensa
baila pelo céu, desvairadamente,
deixando seu rastro branco
no breu da noite.
Essa lua imensa
salta de órbita em órbita
remexendo as marés da alma,
Essa lua imensa
baila pelo céu, desvairadamente,
deixando seu rastro branco
no breu da noite.
Essa lua imensa
salta de órbita em órbita
remexendo as marés da alma,
olhando-me do horizonte.
Que posso eu, diante
da tua gravidade,
nos pares iluminados
de teus brilhantes asteróides?
Pois é essa lua imensa
que me atrai, distante,
- e seu atrair não cansa -
fazendo-se sempre presente
nas galáxias da lembrança.
MARCELO LOPES
Guarujá/SP
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Que posso eu, diante
da tua gravidade,
nos pares iluminados
de teus brilhantes asteróides?
Pois é essa lua imensa
que me atrai, distante,
- e seu atrair não cansa -
fazendo-se sempre presente
nas galáxias da lembrança.
MARCELO LOPES
Guarujá/SP
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Por cima, por baixo...
Mãos calosas trançando
O chapéu de praia.
E roda que roda,
Abandonando-se ao vento
A folha em queda...
REGINA ALONSO
Santos/SP
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O POETA E O OPERÁRIO
Mãos calosas trançando
O chapéu de praia.
E roda que roda,
Abandonando-se ao vento
A folha em queda...
REGINA ALONSO
Santos/SP
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O POETA E O OPERÁRIO
A Maiakovski
o que difere
o poeta do
operário?
na maquinaria
o trabalho
braçal
dá lugar à
escolha
de
substantivos
verbos
metáforas
se um carrega
cimento
terra areia
o outro
esculpe o ser
talha a
essência
se um usa
espaçador de piso
espátula
roldana
o outro opera
em silêncio
na construção do poema
LUIZ OTÁVIO OLIANI
Lins de
Vasconcelos/RJ
in: A Eternidade dos Dias
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sobre a grama
canteiros de borboletas -
flores vermelhas
*
alegre portão -
derramadas nas grades
pencas de flores
EUNICE MENDES
EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Calendário de Estações
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NATAL
Um passarinho quando canta
Um passarinho quando canta
o seu canto
sem igual,
é como um
sino que planta
sementes de
um bom Natal.
WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São
Vicente/SP
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Ruas
ruas em tropel
ruas em tropel
correm,
crescem, se amotinam
lâmpadas
em êxtase
iluminam
as ruas
que
correm, correm
qual
cavalos livres na floresta
trânsito
se sossega
após
horas e horas de espanto
suavizam
as doces ruas
em
que caminho só e sem dor
ruas
em tropel
afundam
madrugadas na cama da noite
escuro,
o homem escorrega na lama
indócil
feroz
fera a correr na noite sem trégua
ruas
ruas
de sono
êxtase
a
acordar o sonho dos homens.
ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA
ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA
Rio de Janeiro/RJ
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O
choro de sal
cristaliza
as veias
e a água do charco
no sapo.
O sapo em
O sapo em
pedra nas trevas
se empedra.
TERESINHA TADEU
TERESINHA TADEU
(1941 – 2001)
Santos/SP
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O AZUL DA MONTANHA
“O sol é o poncho do pobre”
(Dito campeiro)
Em
toda a região era conhecido apenas por Caleco. Nada mais. Era filho de Sinhá
Vitoca, idosa e papuda, que se tornou célebre pela perfeição com que tecia
baixeiros. O pai era desconhecido, não faltando murmurações de que fosse o
taipeiro Moisés. Certeza, porém, não havia, pois que isso de paternidade é mera
presunção. Somente os mais velhos sabiam disso; os jovens não lhe conheceram
sequer a mãe. Como concessão à voz dos primeiros, poder-se-ia dizer que era o
Caleco da Sinhá Vitoca.
Um
corpo enxuto, a idade indefinível. Alto e simpático, usava bigodes e tinha uma
tez morena que gerava a suspeita de sangue negro naquelas veias. O cabelo, no
entanto, parecia afastar a hipótese: liso e brilhante.
Criou-se
ao deus-dará. Não tinha registro ou sobrenome e não sabia escrever. Sua
existência era um fato que nenhum papel podia comprovar. Mas isso não o incomodava
e não o fazia mais ou menos feliz. Talvez ignorasse mesmo tais filigranas.
Nunca
teve morada certa. Desde menino percorria aqueles campos, que conhecia como a
palma das mãos. Não havia carreador, picada ou sanga que lhe fosse estranho.
Nem mesmo o rio caudaloso impedia suas andanças, varando-o em qualquer época do
ano, tanto nas secas fortes, que punham à mostra as pedras do leito, como nas
enchentes tenebrosas em que as águas subiam pelas ribanceiras.
Não
tinha defeitos, exceto o fato de que não gostava mesmo de trabalhar. Inútil
procurar em sua biografia um só serviço que tenha executado. Acometia-o somente
uma inclinação, manifestada como mania, em qualquer lugar ou ocasião, o hábito
de varrer. Nessa atividade, a única que condescendia em realizar, era
meticuloso e, munido de uma vassoura, limpava casas, terreiros e até mesmo as
estradas diante das propriedades. Por isso, quando aportava em algum sítio,
eram comuns frases como esta:
“Ó
Don’Ana! Aproveita o Caleco pra varrer o galpão!”
E
lá ia o andarilho, assoviando entredentes, livrar das sujeiras o galpão
necessitado.
Ninguém sabia por onde andava. Aceito como peça
da paisagem, desaparecia e surgia nos lugares mais distantes e nos momentos
mais inesperados sem causar surpresa. Silencioso e desinteressado, quando
chegava numa fazenda, - e ele as conhecia todas, - ia entrando calmamente, como
quem acabava de sair, mesmo após meses de ausência. Cumprimentava com
naturalidade as pessoas, desde o chefe da casa até as crianças, tratando-as
pelos nomes. Nas noites frias, tão logo chegava, os cães o festejavam. Não
encontrava dificuldade para dormir, bastando-lhe um monte de milho, um pelego ou
mesmo um assoalho, à falta de coisa melhor.
Sentava-se
à beira do fogão, ou do fogo de chão, que ficava aos seus cuidados. Preparava e
servia o chimarrão. Perguntava por este ou aquele, comentava o tempo, a
qualidade das roças, o preço do gado. Nada dizia a seu próprio respeito. Por
ali ficava alguns dias, até que, sem aviso ou despedida, se eclipsava em
silêncio.
Não
fazia pedidos. Recebendo o de comer, aceitava com alegria; não reclamava quando
o esqueciam. Exultava ao lhe oferecerem uma velha roupa para substituir os seus
molambos, que, de tão remendados, não tinham mais cor. Ou quando recebia velhas
botas para aquecerem seus pés maltratados pelas geadas inclementes.
Quase
não falava. Silencioso, sentava-se num degrau da escada, nas noites enluaradas,
cercado pelos cães da fazenda, e ali permanecia por horas seguidas, ruminando
misteriosas ideias.
Nas
vilas era praticamente desconhecido. Evitava-as, dando voltas enormes para
desviá-las nas suas incansáveis caminhadas. Seu natural, seu meio, era o campo
verde onde os quero-queros gritavam e o vento corria solto. Para ele não
existiam cercas, divisas, separações. Toda a imensidão ondulada lhe pertencia.
Tudo varejava a passo rápido, como quem fiscaliza uma propriedade muito
querida.
Por
muitos anos palmilhou a região, de dia e de noite, debaixo de sol ou sobre a
brancura da neve, na companhia das estrelas e com chuva pesada. Nunca praticou
um ato maldoso. Jamais foi visto em companhia de uma mulher. Solitário como o
campo onde vivia.
Livre
e descompromissado como um animal, era um rebelado contra o trabalho. Quando
excedia a permanência era fácil livrar-se dele. O patrão, na roda do mate,
virava-se para um peão qualquer e dizia:
“João,
amanhã você ponha o Caleco no roçado.”
Não protestava, nada
dizia. Entendia que estava abusando da hospedagem. Num momento em que os outros
se distraíam, desaparecia furtivamente.
Foi numa dessas
ocasiões que o vi pela última vez. O sol banhava o verde dos campos, o céu
anilado prenunciava geada, o ar era fino e frio. Recortado com nitidez contra o
horizonte, galgava lépido uma colina, desenhado como figura solitária sobre o
tapete verdejante. Mais ao fundo, longe, muito longe, avistavam-se as montanhas
azuladas.
Os
negros cabelos esvoaçando ao vento, o passo seguro e decidido, foi o único
homem realmente livre que conheci. Sua liberdade só tinha limite no inatingível
azul da montanha.
ENÉAS ATHANÁZIO
Balneário Camboriú/SCin: O Azul da Montanha (Contos Escolhidos)
Letras Contemporâneas
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LANÇAMENTO DE LIVROS
A escritora Eunice Mendes lançou dois livros da quadrilogia
CALENDÁRIO DE ESTAÇÕES:
A escritora Eunice Mendes lançou dois livros da quadrilogia
CALENDÁRIO DE ESTAÇÕES:
* CALENDÁRIO DE ESTAÇÕES: primavera
* CALENDÁRIO DE ESTAÇÕES: verão
O Valor de cada exemplar é de R$ 17,00 (via Correio)
Qualquer informação entrar em contato com a autora:
CONTATO: walmordario@ig.com.br
______________________________________________
INFORMAÇÃO IMPORTANTE
Além das seções da revista POETIZANDO e dos novos poetas,
você poderá encontrar na revista impressa:
Frases, Prosa, Biografias, Conto e muita poesia...
UNIDADE: R$ 10,00
VIA CORREIO: R$ 12,00
ASSINATURA ANUAL: R$ 25,00
CONTATO: walmordario@ig.com.br
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você poderá encontrar na revista impressa:
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